Ações

(depoimento em 1787 - Fortunato Barbosa da Costa)

De Atlas Digital da América Lusa

(depoimento em 1787 - Fortunato Barbosa da Costa)

Geometria

Fortunato Barbosa da Costa, Capitão de uma das Companhias do Regimento de Dragões deste Continente do Rio Grande, informa o Seguinte. Que sabe que fora confiscada na Lagoa Mirim uma Canoa pertencente a José Rodrigues, morador do Norte deste Rio Grande, mas que não sabe se o dito confisco foi feito [p.330] por ordem do Brigadeiro Governador deste Continente Rafael Pinto Bandeira, e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe pelo ver que o dito Coronel fez construir defronte da sua casa uma barca de coberta, na qual andava de patrão José Leal, que a navegava pelo sangradouro de Mirim para o Rio de São Gonçalo, mas que não sabe o que se transportava na dita barca, e que depois do dito Coronel a possuir por algum tempo, a vendera a José Vieira da Cunha pelo preço de quarenta doblas, mas que não sabe se entre o vendedor, e comprador houvera alguns ajustes particulares, nem que o dito Coronel desse ordens às guardas a respeito da dita barca, e só sabe que depois de possuir a dita barca o dito José Vieira da Cunha, a fez navegar pelo sangradouro de Mirim, porém que não sabe qual fosse o seu destino. Que sabe que o dito Coronel fora na casa de José Vieira da Cunha, e que fazendo arrombar uma porta mandara confiscar quatrocentos couros pouco mais ou menos, que ali se achavam, e que isto sabe por quanto encontrando-o com ele o dito Coronel lhe ordenara acompanhasse, e então presenciou o que fica dito, mas que não sabe se o dito Cunha tinha dado algum dinheiro na guarda do Beca para lhe deixarem passar os ditos couros. Que sabe que o dito Coronel possuíam uma canoa chamada o Escaler da qual era patrão Francisco Lopes, e que a dita canoa navegava pelo sangradouro de Mirim, mas que como o dito Coronel possui uma Estância no Piratini, não sabe se as viagens que fazia aquela canoa era para a sua fazenda ou para algum outro fim. Que não sabe se o dito Coronel vendeu alguma canoa ao Espanhol Pepe, mas sabe que o dito Espanhol [p.330v] possuía uma canoa na qual transportava publicamente os Contrabandos. Que sabe que o dito Coronel fizera prender o paisano João Leite, e que foi voz constante nesta Vila que aquela prisão fora feita por ser o dito paisano contrabandista, e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe que casara o Alferes de Auxiliares Antônio Rodrigues Nicola com uma Índia que é voz constante ser filha do dito Coronel, e que este dera certa quantidade de rezes de dote ao dito Nicola, mas que não sabe se eram de fora, ou criação das suas Estâncias. Que sabe que desertara o soldado da Cavalaria Francisco Pinto com um seu irmão Soldado Dragão, e que depois das ditas deserções era voz constante que os ditos desertores vinham à casa do Coronel Bandeira, mas que ele informante nunca os vira. Que sabe que estando o alfaiate José Antônio à sua porta de noite lhe deram uma cutilada, e que o agressor perdera a bainha da espada, a qual fora achada junto ao lugar do ferimento por um rapaz aprendiz do dito ferido, e que queixando-se ao Coronel o dito ferido contra o Soldado da Cavalaria Alexandre José da Guerra, pelo dito soldado ter procurado a bainha declarando ser da sua espada, suposto que dizia a tinha perdido à porta de uma taverna aonde tinha ido comer aquela noite, o dito Coronel fizera prender o Soldado, mas que passado pouco temo o soltara, e que não sabe se o dito Soldado se justificou não ser o agressor, nem sabe mais cousa alguma a este respeito. Que sabe que o Soldado da Cavalaria chamado vulgarmente o Cadete, dera uma facada em um Soldado do mesmo Corpo, estando ambos destacados no passo do Beca, e vindo o ferido para o Hospital desta Vila [p.331]depois de passado bastante tempo se lhe deu baixa por ficar incapaz de continuar o Real Serviço, e que o agressor passados tempos voltou a esta Vila aonde continuou o Serviço na mesma praça de soldado que tinha, Que sabe ter o furriel de Cavalaria João José de Souza dado umas cutiladas de noite em um Soldado do mesmo corpo em uma das ruas desta Vila, de cujas feridas faleceu o soldado no Hospital, e que foi voz constante nesta Vila ter passado para o Norte em uma Canoa o dito assassino, mas que não sabe a que horas, nem se o Coronel cooperou para a dita passagem. Que sabe que o sargento da Cavalaria Joaquim Rodrigues matara a sua mulher, e ao cabo de Esquadra do mesmo Corpo José Moreira, e que logo que acabou de fazer estes assassínios, procurou ao dito Coronel em sua própria casa, e lhe noticiara o que acabava de executar, entregando ao dito Coronel a chave da casa em que morava, o que foi visto pelo Capitão Alexandre Elói Portela, e pelo Doutor José de Saldanha; e que a ele informante dissera o Alferes de Infantaria e Artilharia Manuel Caetano de São José, sogro do matador, que estando ele dito Alferes de guarda nessa noite, o fizera chamar o dito Coronel, e ele fizera a entrega da Chave que havia recebido do matador. Que sabe terem sito retirados para esta Vila do Rio Grande todos os negociantes que existiam no povo novo com todos os seus efeitos, o que se executou por ordem do Brigadeiro Governador deste Continente e que era voz constante ter o dito coronel uma Loja de fazendas na sua Estância do Piratini, mas que ele informante nunca a vira, nem sabe se à dita Estância vinham os Espanhóis comprar fazendas. [p.331v] Que é voz constante ter o dito coronel metido nas Estâncias que possui grandes porções de animais trazidos das Campanhas, mas que ele informante nunca fizera este exame ocularmente, e que ele o sabe pela voz pública. E de tudo mais que foi perguntado por mim Coronel Comandante do Continente disse não sabia e para constar assinou nesta Vila de São Pedro do Rio Grande aos três de Outubro de mil setecentos e oitenta e sete. Joaquim José Ribeiro Fortunato Barbosa da Costa

Ficha técnica da Fonte
Autor: diversos
Data: 1787.
Referência: Códice 104. Volume 09. Secretaria do Estado do Brasil.
Acervo: Arquivo Nacional.
Transcrição: Tiago Luís Gil.
link principal no BiblioAtlas: Devassa_de_1787