Ações

(depoimento em 1787 - Inácio Xavier Mariano)

De Atlas Digital da América Lusa

(depoimento em 1787 - Inácio Xavier Mariano)

Geometria

Inácio Xavier Mariano, tenente do Regimento de cavalaria auxiliar deste continente e morador no Distrito de Cai, informa o seguinte.

Que sabe que o capitão de auxiliares da capitania de São Paulo Manuel José de Alencastre estivera prezo por duas vezes na prisão desta vila do Porto Alegre [p. 339v] cuja guarda era comandada por oficiais inferiores que sabe que ambas as prisões foram feitas por ordem e por representação do capitão da cavalaria auxiliar do Distrito de Cai Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães em cujo distrito é morador o dito capitão Manuel José de Alencastre que constou-lhe a ele informante que a primeira prisão fora feita pelo capitão do dito Distrito Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães que naquele tempo era tenente e que ouvira dizer ter sido a causa da dita prisão o não ter-se cercado o dito capitão Manuel José de Alencastre, tendo-lhe ordenado o dito Custódio Ferreira tenente que era do dito distrito em observância da ordem do Brigadeiro Governador deste continente: e que também sabe que a segunda prisão fora feita por ter ido um preto escravo do dito capitão Alencastre a um rodeio que ele informante ignora se fora na fazenda do Capitão Custódio Ferreira, ou na do mesmo capitão Alencastre no qual tivera dúvidas com Manuel José irmão do Capitão Custódio Ferreira sobre a apartação de um terneiro por cujo motivo dissera o dito Manuel José ao preto que não aprendesse a ladrão com seu senhor, e querendo o dito escravo defender o crédito de seu senhor, resultou querer lhe dar o sobredito Manuel José, e defendendo-se o dito preto, ultimamente fugira, e se recolhera a casa do seu senhor pelo que fora preso o sobredito capitão Alencastre, por ter ocultado o preto seu escravo, cuja prisão foi feita por representação do mesmo capitão Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães [p. 340] que pelo que pertence a fazer violências o capitão Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães aos moradores de seu distrito, só sabe que a um irmão dele informante por nome Joaquim Bartolomeu obrigara a casar com uma sua filha bastarda índia, e isto pelo meio de o ter feito prender, e sendo levado a casa do sobredito capitão ameaçava de o remeter para esta vila de Porto Alegre se não casasse com a dita sua filha bastarda, o que conseguiu pelo temor em que pus ao dito irmão dele informante. Que proximamente ouvira dizer que o dito capitão Guimarães obrigara a um homem tropeiro que lhe parece chamar-se Antonio de Almeida, para que casasse com uma índia, ou que lhe desse a dita china a tropa que levava para São Paulo; e que depois de várias dúvidas entre o dito tropeiro e o sobredito capitão se viu na necessidade de casar para se livrar da prisão em que ele informante ouvira dizer o tivera posto: que não sabe se o dito capitão Custódio Ferreira obriga aos tropeiros e viandantes a comprar-lhe animais da sua Estância pagando-lhe por alto preço; e só sabe que por ordem do Provedor da Real Fazenda fora o furriel de Dragões Antonio do Couto à estância do sobredito capitão Guimarães, e ali lhe confiscara vinte e tantas bestas de contrabando, e que este mesmo capitão Guimarães estava, e ainda hoje esta encarregado de vigiar e confiscar os contrabandos: que só sabe que João Cabral morador que era no Distrito [340v] do dito Capitão se mudara daquele distrito dizendo a ele informante fazia pelo capitão Custódio Ferreira, o ter desatendido com palavras injuriosas, que sabe que o capitão Custódio Ferreira viera a esta vila de Porto Alegre, jurar na última correição contra o capitão Manuel José de Alencastre, e que trouxera sua companhia as testemunhas em que havia de referir-se mas que não sabe se avisara a estas testemunhas dizendo-lhes que o acompanhassem em uma diligência do serviço de Sua Majestade:que sabe que o capitão Manuel José de Alencastre, para evitar a continuação de desordens com o capitão Custódio Ferreira arrendara a fazenda que possui naquele distrito e fora com a família morar na freguesia do Triunfo, e depois deixando ali a sua família, se passara ao Rio de Janeiro: que sabe por lhe ter dito um Antonio Joaquim de Bitancur que então era morador junto à freguesia do Triunfo na Estância de Manuel de Paiva Guerreiro [nota: trata-se de Manuel de Paiva Garrido, TLG], que tendo ido uma partida militar a um rincão do capitão Evaristo Pinto Bandeira, trouxera daquele rincão alguns cavalos, que provavelmente eram de contrabando, e que vindo o dito capitão evaristo em seguimento da partida a alcançara no curral do dito Antonio Joaquim, de onde violentamente tirara os cavalos e os levara para a sua estância: que só sabe por ter ouvido dizer que o dito capitão Evaristo Pinto Bandeira [p. 341] conduzira em uma ocasião uma tropa de bestas de contrabando para as passar no registro de Santo Antonio da Patrulha: que sabe que Antonio de Souza de Oliveira tivera um filho por nome Jacinto Nunes de Oliveira, havido de uma mulher livre, e que falecendo o dito Antonio de Souza de Oliveira sem declarar no seu testamento e codicilio [sic] o dito filho e deixando por sua herdeira a sua sobrinha casada com o capitão Bernardo José Pereira, e irmão do coronel Rafael Pinto Bandeira, e também alguns legados ou herança a dois filhos que houvera de uma índia casada querendo o dito Jacinto Nunes de Oliveira anular o testamento e codecilio [sic] e pôr-se à herança o não pudera conseguir, dizendo que se temia por serem poderosas as pessoas com quem devia entender, e que por este motivo se passara ao Rio de Janeiro: que ouvira dizer que vindo a este continente José Bernardes a fazer uma tropa de bestas, lhas vendera o coronel Rafael Pinto Bandeira, e porque eram de contrabando lhe foram confiscadas pela Fazenda Real, o que só lhe consta por ter ouvido a diversas pessoas. E de tudo o mais que lhe foi perguntado por mim coronel comandante deste continente, respondeu nada sabia; e declara mais que suposto acima tem dito que no tempo em que foi preso o capitão Manuel José de Alencastre por ordem de Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães, este era então tenente do distrito, não o assevera, porque está duvidoso se naquele momento já tinha sido promovido [p. 341v] a capitão e para constar assinou comigo coronel comandante em Porto Alegre aos vinte quatro dias de novembro de mil setecentos e oitenta e sete.

Joaquim José Ribeiro da Costa Inácio Xavier Mariano

Ficha técnica da Fonte
Autor: diversos
Data: 1787.
Referência: Códice 104. Volume 09. Secretaria do Estado do Brasil.
Acervo: Arquivo Nacional.
Transcrição: Tiago Luís Gil.
link principal no BiblioAtlas: Devassa_de_1787