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(depoimento em 1787 - Tomé Pedro Vaz Mascarenhas da Costa Ramos)

De Atlas Digital da América Lusa

(depoimento em 1787 - Tomé Pedro Vaz Mascarenhas da Costa Ramos)

Geometria

Tomé Pedro Vaz Mascarenhas da Costa Ramos, Capitão de uma das Companhias do Batalhão de Infantaria e Artilharia do Continente do Rio Grande, informa o seguinte: Que sabe pelo ver que o Coronel Rafael Pinto Bandeira mandara construir defronte de sua porta, uma barca ou canoa grade de coberta, mas que não sabe se para a dita construção se serviu o dito Coronel de madeiras pregos [p.328v] ou outros gêneros da Real Fazenda, que sabe que na mesma Embarcação andava de Patrão um Manuel Cristóvão e alguns Índios, mas que ignorava se o dito Coronel lhes pagava ou se servia deles sem paga, e que igualmente não sabe se na dita embarcação se conduziam couros de contrabando para esta Vila. Que sabe que o dito Coronel depois de possuir a dita embarcação por algum tempo a vendera a José Vieira da Cunha, pelo preço de quarenta doblas, mas que ignorava se houvera entre o vendedor, e comparador alguns outros ajustes, nem tão pouco se o Coronel expediu ordens às guardas a respeito da dita embarcação depois de a ter vendido. Que sabe, que por ordem do dito Coronel se confiscara na casa de José da Vieira da Cunha, certa porção de couros, de cuja diligência foi encarregado o Alferes de Cavalaria João Coutinho de Amorim, um oficial inferior, mas que não sabe se o dito Cunha deu algum dinheiro na guarda do Beca para lhes deixarem passar os couros. Que sabe que o dito Coronel possuía duas Canoas, uma chamada o escaler, e a outra a Figueira, sendo patrão da primeira Francisco Lopes, que também servia de patrão das outras embarcações do dito Coronel, mas que não sabe se as ditas Canoas eram empregadas na condução de contrabandos. Que sabe estivera preso por ordem do dito Coronel o paisano João Leite, mas que ignora o motivo da dita prisão, assim como também outra alguma circunstância a este respeito. Que sabe que o Alferes de Auxiliares fulano Nicola, casara com uma Índia, que era voz corrente ser filha do dito Coronel, e que sabe por ouvir dizer constantemente, que o dito Coronel dera de dote certa porção de gado, mas que ignora se era da Campanha ou [p.329] criado nas suas Estâncias. Que sabe que estando o alfaiate José Antônio a sua porta em uma noite lhe deram uma cutilada, e que fora achada a bainha da espada do agressor, junto do mesmo lugar do ferimento e que nesta Vila disseram ter sido o executor do ferimento um soldado da Legião de cavalaria chamado Alexandre José da Guerra, o qual estivera preso por ordem do Coronel, e que depois fora solto, mas que nada sabe se o dito soldado se justificou não ser o delinqüente e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe ter dado uma facada o Soldado de Cavalaria chamado vulgarmente o Cadete, em outro Soldado do mesmo corpo chamado Raimundo, estando ambos destacados no passo do Beca, e que passados tempos depois deste ferimento, aparecera publicamente nesta Vila o dito Soldado agressor, e continuava o serviço na mesma praça de Soldado, morando em casa do dito Coronel. Que sabe que o furriel de Cavalaria João José de Souza, dera umas cutiladas em um soldado do mesmo Corpo, em uma noite na Rua do Rosário desta Vila, de cujas feridas faleceu o Soldado, e que na mesma noite desertara o agressor, e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe que o Sargento de Cavalaria Joaquim Rodrigues, matara a sua mulher e ao Cabo de Esquadra do mesmo Corpo José Moreira, e que logo depois de ter executado estes assassínios procurara ao dito Coronel, e lhe dera notícia do que acabara de executar, e que isto sabe por lho dizer o Doutor José de Saldanha que se achava na casa do dito Coronel quando ali foi o dito Sargento a dar a ele aquela notícia, e que isto mesmo era voz constante nesta Vila, e também fora voz constante, que o dito agressor se retirara em uma mula que estava no pátio do dito Coronel. Que sabe, que por ordem do Brigadeiro Governador deste Continente, se recolherem para esta Vila todos os negociantes que se achavam no povo novo, trazendo todos os seus efeitos, mas que não sabe o motivo que houve para esta Ordem, nem tão pouco se o dito Coronel Bandeira tinha Loja de fazendas na sua Estância de Piratini. Que sabe que o dito Coronel possui várias Estâncias neste Continente, nas quais tem um grande número de animais, tanto vacum, como cavalar, mas que ignora se estes animais são vindos da Campanha ou são crias das suas próprias Estâncias. E de tudo mais de que foi perguntado por mim o Coronel Comandante, declarou que nada sabia, e para constar assinou nesta Vila de São Pedro do Rio Grande aos três de Outubro de mil setecentos e oitenta e sete.

João José Ribeiro da Costa Tomé Pedro Vaz Marcarenhas da Costa Ramos


Ficha técnica da Fonte
Autor: diversos
Data: 1787.
Referência: Códice 104. Volume 09. Secretaria do Estado do Brasil.
Acervo: Arquivo Nacional.
Transcrição: Tiago Luís Gil.
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