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De Atlas Digital da América Lusa

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Geometria

A El Rey

Nosso senhor

A SOBERANA proteção, que Vossa Majestade concede a toda a Academia Real da História Portuguesa, de que tenho a honra de ser aluno, me anima a buscá-la, quando por nenhum outro título podia merecê-la.

[4] É esta obra pequena no volume, e menor pelo curto engenho do seu autor, mas é grande pela sua matéria, e ainda será maior nos seus efeitos. É grande pela sua matéria, porque esta compreende toda a redondeza da terra, mostrando a situação dos Reinos, Províncias, Cidades, Vilas, e lugares: não deixando de atender à correspondência, que as partes da terra tem com os círculos celestes grandes, e pequenos, com as zonas, partes orientais, ocidentais, setentrionais, e meridionais.

Ainda será esta pequena obra maior nos seus efeitos; pois na História da qual a Geografia é parte integrante, mostra os lugares em que aconteceram os sucessos memoráveis e se obraram as ações heroicas, nas quais fazendo o entendimento reflexão, colha da mesma História como frutos os mais importantes preceitos para a paz, e para a guerra, para o governo Político, e Militar.

É sem duvida que os maiores generais são os que tem melhor conhecimento dos terrenos, em que se hão de executar as empresas militares. Deste importante conhecimento dependem as vitórias, e os triunfos: sem ele ninguém pode exercitar bem a arte Militar, a qual não só da, e tira Impérios, mas também a vida, que muitos tem perdido pela ignorância.

Sendo tão necessárias as cartas geográficas para a inteligência das histórias sagradas, e profanas, e tão importante o conhecimento dos terrenos para as expedições Militares, não é indigna a sua noticia da Real proteção de Vossa Majestade antes lhe servirá de imortal glória,inspirando os ânimos dos seus vassalos e especialmente na Nobreza do seu Reino, um verdadeiro amor as Artes, e Ciências, com que certamente florescem e triunfam os Reinos, e os Impérios: assim veremos na Nobreza não só reproduzidas, mas avantajadas aquelas ações gloriosas, com que tanto se ilustraram os seus ascendentes.

A mesma história nos mostra, que em outros tempos a terra lavrada pelas mãos vitoriosas dos maiores Capitães, e dos maiores Reis, (como gloriosa de sentir o arado triunfante) abriu liberalmente o seu seio, e mostrava a sua fecundidade e vários, e copiosos frutos: mas depois cultivada por mãos mecânicas e servis se mostrou menos fecunda, e como em vingança do desprezo, com que a tratam. Assim as mais nobres ciências, que são as verdadeiras sementes do entendimento, quando foram favorecidas e cultivadas pelos Príncipes produziram grandes e maravilhosos frutos, ostentando toda a sua nobre fecundidade com aplauso, e com assombro.

A arte de fazer as Cartas Geográficas e os primeiros instrumentos da Geografia em Portugal se inventaram, e foi este estudo digno emprego dos Príncipes deste Reino: o fruto, que produziu, foi levarem os Portugueses as suas armas triunfantes as partes mais remotas da terra, fazendo tantas conquistas, e obrando ações tão heroicas, que por grandes e admiráveis parecem incríveis.

Agora no felicíssimo reinado de Vossa Majestade com a instituição da Academia Real da História, e das Academias Militares, que se esperam brevemente erigidas pelo Real, e generoso animo de Vossa Majestade, se animarão os corações de seus vassalos a tentarem maiores empresas e se ilustrarão os engenhos Portugueses de forte, que possam penetrar nas mesmas Artes, e Ciências os seus mais profundos, e dificultosos segredos. Tudo ficarão devendo a Vossa Majestade, que não só procura que os seus súditos não tenham que invejar as outras nações da Europa, nas escolas Militares, e outras Academias, em que es exercitam, mas com a sua soberana proteção se configura sem duvida que Portugal seja a inveja dos outros Reinos.

Este breve tratado à sombra do Augusto nome de Vossa Majestade servirá de despertador, para que outra pena mais apurada, e outro engenho mais limado o ponha na sua ultima perfeição com grande utilidade, e crédito na nação Portuguesa, e glória de Vossa Majestade.

Manoel de Azevedo Fortes


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Ficha técnica da Fonte
Autor: Manuel de Azevedo Fortes
Data: 1722.
Referência: ..
Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal.
Transcrição: Thiego Fernandes.
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