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Capitulo V - Da Bussola, ou Agulha de marcar

De Atlas Digital da América Lusa

Capitulo V - Da Bussola, ou Agulha de marcar

Geometria

Da Bussola, ou Agulha de marcar.

A maior parte dos Engenheiros deste reino chamam Bússola ao Semicírculo, ou circulo dimensório, e confundem estas duas coisas, que são porém distintas, e bem diferentes, e devem ter diferentes nomes: a causa de lhe equivocarem o nome é sem duvida, ( como já notei ) porque nestes instrumentos se costuma por uma agulha de marcar, que é coisa estranha de instrumentos, [77] ... , em que se põe, e só serve para orientar os lugares, como fica dito no Capitulo segundo.

A fabrica da Bussola consiste em uma folha de latão bem lisa, quadrada, ou circular de seis polegadas de diâmetro mais, ou menos, segundo o uso que há de ter.

A roda tem uma orla circular dividida em 360. graus : no centro da orla graduada se põe um pião de lata perpendicular, e delgado para a ponta, a que se aplica uma agulha de aço, que tem no meio um capitel, ou capelo, para andar sobre a ponta do pião sobre o qual fica em equilíbrio e do centro partem varias divisões gravadas a modo de Rosa, que mostram a direção dos principais ventos: aquela linha, que dirige o Norte, deve corresponder justamente o ponto em que começa e acaba [78] ... a divisão dos 360 graus: tem sua aba levantada a modo de aba de boceta com uma ranhura, ou rebaixo para se lhe poder aplicar um vidro claro, que serve de impedir que o ar, e o vento não desviem a agulha da sua direção, fazendo-a mover: as que servem para fazer Cartas Geográficas tem duas pínulas, que correspondem justamente a direção do Norte, e Sul, com uma linha, que passa pelo centro, como se vê na Figura décima sexta, estampa quarta.
Figura Décima sexta

A agulha de aço é tocada em uma pedra de cevar, que lhe dá a virtude de se dirigir sempre para os Pólos.

O primeiro uso da Bussola foi para as viagens do mar, porque a respeito da sobredita virtude a agulha dirige os navegadores para o rumo, que devem seguir.

A esta [79] A esta imitação se serviram dela os homens para as viagens da terra em países desertos, aonde não achavam sinal algum, que os guiasse, e ainda hoje os que caminham pelos desertos da Arábia se servem de Bussolas; e como os caminhos se podem transferir ao papel, fazendo nele os mesmos ângulos, que com este instrumento se observam sobre a terra, muitos Engenheiros se tem servido da Bussola para fazer as Cartas Geográficas.

É certo que este instrumento da boa expedição, e pode servir melhor do que qualquer outro, não para tomar com ele os pontos de posição, mas sim para tomar as tortuosidades de caminhos, ribeiras, rios, e costas marítimas; e para acabar de encher uma Carta, em que o terreno deve ser figurado, depois de ter tomado os pontos [80] ... de posição dos principais lugares com o Circulo dimensório, ou ainda muito melhor com a Prancheta moderna; porque ainda que os mesmos pontos principais Se possam tomar com a Bussola, nunca pode ser com tanta exacçaõ.[exatidão]

As bussolas, que servem para o mar, tem as caixas, ou morteiros em que estão, suspendidas as outras caixas exteriores por dois peões horizontais, que servem de eixos, para que fique horizontal sem embargo do balanço do navio, e aplicam pelo comprimento da agulha um papelão circular, sobre o qual vai pintada a Rosa dos Ventos: serve este papelão para impedir a demasiada vivacidade da agulha, que sem ele não daria lugar para se observar a graduação apontada por do movimento da nao. [81] Muitas destas Bussolas se fazem mais pequenas em caixas de latão ou de marfim, com uma orla, que em lugar da graduação tem gravada a divisão das horas para servirem de relógios portáteis do Sol.

Para este instrumento servirá fatura das Cartas Geográficas é necessário que se aplique a um pé firme, e se tiver joelho, muito melhor, para se poder por horizontal, e virar com facilidade.

Quem obrar com este instrumento, é necessário que visite o pião a miúda para ver se conserva a ponta delicada, e se o capitel é bem liso por dentro, que não haja coisa, que embarace o livro movimento da agulha; e é necessário ter grande cuidado em desviar de si tudo o que houver de ferro, e nem ainda chegar à agulha com [82] ... as pontas do compasso, e que no pé, a que se aplicar, não haja coisa alguma de ferro, nem no bofete, ou mesa, sobre a qual se houverem de transferir ao papel as suas operações com a mesma agulha.

Alguns são tão escrupulosos, que no fim de qualquer operação recolhem a agulha a um canudo, e a tornam a por quando é necessário, para que roçando o capitel não faça perder a ponta do pião: outros levam consigo alguns piões de sobrecelente, e uma pedra de cevar para tocar de tempos a tempos a agulho :porém em quanto fazem as operações é necessário que a pedra de cevar não chegue perto do instrumento, nem vá junto a ele nas jornadas.

Quando se não trabalha com este instrumento, se deve guardar em [83] ... em parte que não haja coisa alguma de ferro na sua vizinhança, e posto de sorte, que não haja coisa, que embarace a direção da agulha para o Norte; porque se fica fora desta direção por algum tempo considerável, perde muito da sua virtude.

Pelos problemas seguintes se conhecerá melhor o uso deste instrumento pelo que respeita às Cartas Geográficas.


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Ficha técnica da Fonte
Autor: Manuel de Azevedo Fortes
Data: 1722.
Referência: ..
Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal.
Transcrição: Carlos Antonio Pereira de Carvalho.
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