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JORNAL DA VIAGEM FEITA À MINA DO RIO GRANDE, ESCRITO PELO ESCOTETE (= bailio) JAN HOUCK

De Atlas Digital da América Lusa

JORNAL DA VIAGEM FEITA À MINA DO RIO GRANDE, ESCRITO PELO ESCOTETE (= bailio) JAN HOUCK

Geometria

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Tradução para o português feita por Benjamin N. Teensma


NL-HaNA_OWIC 1.05.01.01, número de inventário 65, número consecutivo 197: 7-10.

[7] JORNAL DA VIAGEM FEITA À MINA DO RIO GRANDE, ESCRITO PELO ESCOTETE (= bailio) JAN HOUCK.

Na terça-feira, 25 de janeiro de 1650, Pieter van Strucht, Jan Houck: bailio aqui no Rio Grande, e Pieter Persijn, saímos de madrugada num bote do Castelo Keulen pelo Rio Grande, atracando, ao fim do primeiro trajeto pelo Rio Potengi, no portinho (= pontão?) de Dirck Mulder, na distância de aproximadamente três léguas do Castelo Keulen. Tivemos por comboio, um sargento com doze soldados, quatro brasilianos e três escravos para transportar nossas provisões e apanhar minerais. Do portinho (= pontão?) começamos a marchar uma légua em direção à antiga e agora incendiada casa do dito bailio, onde, pelo meio-dia, descansamos na beira do riacho Pabuna. Depois do meio-dia, seguimos marchando pelos montes de Jan Galdron e pelo cajueiral, passando o acampamento dos brasilianos de Antônio Perupaba (= Paraupaba) que lá está. Continuamos assim pela campina a Jacaré-Mirim: uma lagoa assim chamada porque nela vivem jacarés, e onde antes moravam dois portugueses, chamados Domingos Lopes e Francisco de Macedo, achando-se aproximadamente a duas horas de marcha da casa do mencionado bailio, onde passamos a noite.

No dia 26, continuamos a marcha uma hora antes do amanhecer, passando pela casa incendiada do major Garstmans, o riacho Krombeek que é um córrego de água limpa e fresca, e pela casa de Maria Magalhães que agora pertence a Claes Claesz, até o curral de João Francisco, onde descansamos um pouco na margem duma lagoa grande. E seguindo por um bom caminho chegamos por volta das 10 ou 11 horas ao rio Potengi, que nesse lugar e durante toda a época da seca está sem água. Depois de marchar algum tempo encontramos num ângulo na margem norte dele algumas pedras maravilhosamente amontoadas umas sobre as outras. Perto desse lugar, o rio Camaragibe deságua no rio Potengi, sempre contém água no seu começo o ano todo, se estende ao noroeste e oeste, e está afastado 9 léguas do Castelo Keulen. E deste lugar o Potengi estende-se ao sul-sudeste.4) Marchamos até o fim desse trecho, onde Pieter Persijn nos indicou, ao lado esquerdo, no canto leste da curva, a última mina, da qual disse ter entregado ultimamente algum mineral aos Nobres e Poderosos Senhores. Fomos visitar esse lugar depois do descanso do meio-dia, tratando-se duma montanha razoavelmente grande, ao lado de outra grande. E, como agora é verão, [8] está cheia de arvorinhas sem folhas; e por toda parte achamos no chão pedras pequenas, e também muito grandes, como minério; algumas das quais também metidas muito profundamente na terra, principalmente ao sopé da montanha no rio, onde pela forte correnteza da água nos meses das chuvas as pedras ou minérios ficam descobertos e sem terra por cima. Nele passamos a noite.

Na madrugada do dia 27 seguimos marchando ao longo do próprio rio Potengi, principalmente ao sul-sudoeste, ou mais para oeste, e raramente ao norte ponto oeste: cada trecho com extensão de cerca de um quarto de légua, por aproximadamente três léguas; e descansamos num lugar chamado Cuité, porque nele crescem cabaças pequenas. Depois do meio-dia continuamos umas duas léguas, onde passamos a noite dentro do rio a leste duma montanha alta, aguda, pedregosa e calva, que Itabita se chama.

A 28 continuamos marchando dentro e ao longo do mesmo rio Potengi pelos mencionados rumos por duas léguas e meia, quando descansamos no lugar duma poça de má água no rio e ao sopé duma montanha pedregosa, onde a gente se refrescou e banhou. Depois do meio dia continuamos mais duas grandes léguas até um lugar chamado Caicatinga, por uma árvore frutífera desse nome que cresce numa pedra grande. Ali passamos a noite.

A 29 seguimos marchando aproximadamente duas léguas grandes pelo e ao longo do rio, e de vez em quando diretamente pelos montes na mesma direção, onde achamos no rio ao lado duma montanha alta e pedregosa uma poça de água boa, que se chamava Apitange e Tingeyado. Desse lugar seguimos marchando mais uma légua, descansando no leito do rio Potengi, que aqui se estende ao oes-sudoeste, junto à foz do rio chamado Capibo-re-Retouba (= Córrego Retorto) e também Kromme Rivier (= Rio Curvado); ao longo e no qual marchamos depois do meio-dia, e que é seco e muito pedregoso. Aqui se mostrava à distância de aproximadamente duas léguas a oeste uma montanha muita alta e pedregosa, com um cume curto e arqueado em forma de sela. Depois de marchar uma légua ao longo deste Rio Curvado, preponderantemente ao oes-noroeste, e de vez em quando em linha reta, sobre a montanha e por entre as árvores, chegamos a uma poça neste rio que os brasilianos — porque o sitio está assombrado — chamam Mereminnewater (= Água da Sereia). Daqui ainda seguimos mais uma légua, onde passamos a noite num lugar que chamamos Rottepiswater (= Água do Mijo de Mocó), porque a água nos buracos das pedras estava cheia de mijo e caganitas de mocós ou coelhos pequenos, e tinha o cheiro e o sabor fedorentos.

Na manhã do dia 30, domingo, continuamos marchando aproximadamente meia légua pelo rio, onde Pieter Persijn nos indicou, ao sopé duma montanha pedregosa coberta com um arvoredo seco, o sítio do segundo mineral, que também afirmou recentemente ter entregado aos Nobres e Poderosos Senhores, junto com o primeiro; mas aqui não se via a montanha calva e reluzente chamada Itabiraba que ele anunciara antes da nossa saída, onde também declarara [9] que haveria perto uma aldeia de brasilianos com uma fonte. Razão porque dissemos aos brasilianos que guiavam tanto a Persijn como a nós, que nos conduzissem à aldeia deles e à fonte. Assim seguimos nossa viagem com eles por e ao longo deste rio, cruzando de vez em quando os leitos dalguns outros riachos secos, e sempre entre montanhas altas e cheias de arvorinhas secas por aproximadamente duas léguas. Chegamos primeiro, às roças e à aldeia dos brasilianos, e depois à fonte, que não era senão uma grande poça de água parada, formada pela que descia dos montes ao rio, e que Iporé se chamava. As montanhas de ambos os lados desta poça chamam-se Iberibetou e Outezapoua. Perto desta água tomamos algumas amostras do mineral das rochas; depois voltamos à segunda mina de Persijn, onde também apanhamos algum mineral. Prosseguindo assim nosso regresso até três quartos de légua além da Água do Mijo de Mocó, onde passamos a noite.

Na manhã do dia 31 seguimos marchando até à Água da Sereia, onde também tomamos um pedaço de pedra por mineral, e seguimos andando ao longo deste Riacho Curvado até chegarmos outra vez ao rio Potengi, prosseguindo aproximadamente uma légua por ele, passando a boa água chamada Tingeyado, e também da Caicatinga, até um lugar que chamávamos o Quartel de João Vergeson, por um soldado que ia conosco; onde descemos dum monte íngreme no leito dum riacho, onde descansamos ao meio-dia. E depois do meio-dia prosseguimos ao longo do lugar onde nós tínhamos banhado — donde também tomamos pedras por mineral — e fomos dormir aproximadamente meia légua a oeste da roca que Itabita se chama. Neste dia, como também no anterior, marchamos muito.

Na madrugada do primeiro de fevereiro continuamos marchando mui cedo de manhã, passando por Itabita, e descansando pelo meio-dia no rio na altura de Coité. De noite fomos dormir perto de Camaragibe, no lugar da primeira mina.

Na manhã do dia 2 de fevereiro tomamos material também de todos os lugares desta montanha, e seguimos marchando, passando o curral de João Francisco, as casas de Maria Magalhães e do senhor Garstmans, tomando nosso descanso do meio-dia à margem da lagoa de Jacaré-Mirim. Depois do meio-dia seguimos marchando, passando o acampamento de Perupaba (= Paraupaba), que ainda estava no cajueiral, e passamos a noite ao lado da casa de Dirck Mulder, distante três léguas do Castelo Keulen.

No dia 3 de fevereiro começamos a marchar quatro horas antes do amanhecer, chegando cedo na manhã ao Castelo Keulen.

[10] No que se refere à perfeita direção e distância deste caminho às minas, refiro-me ao Engenheiro Pieter van Strucht; mas acho que — como não marchamos em linha direta — a distância chegará a ser um quarto mais curta. Mas se precisará medir os trajetos entre os arvoredos e sobre as montanhas quando servindo-se de carros e cavalos. Isso porque agora o acesso à mina mais afastada só é possível com pessoas que andam a pé. Mas à primeira mina de Camaragibe há um bom caminho para carros puxados com cavalos, e ela só dista nove léguas do Castelo.

No que se refere à situação e ubicação da dita mina situada na distância de 26 ou 27 léguas: três léguas afastadas dela e no lugar entre as montanhas onde estão as roças dos brasilianos, e perto delas e do riacho Iporé, há pouca madeira para a construção. Mas, confio que entre essas montanhas que agora não pudemos investigar, sim que haja bastante madeira e água. Cavamos agora ao sopé da montanha da mina um poço no rio de profundidade de uma braça, mas com água de má qualidade. No entanto a lenha não falta em nenhuma parte; e na ausência de boa madeira para construção, uma vez construída a estrada, sempre seria possível trazê-la com carros do distrito de Potengi.

No que se refere às minas mais próximas a 9 léguas sobre o rio Camaragibe, lá há bastante água na distância de um quarto de légua, e também em poços ao sopé da própria montanha; e há boa terra para plantar, e lenha suficiente; mas a madeira para construir também deveria vir do distrito de Potengi, que lá está suficientemente disponível numa distância de duas ou três léguas.

Este rio Potengi é navegável por grandes iates até ao lugar onde desembarcamos do bote, e por mais duas léguas rio acima por botes. No bom período está seco, mas na época das chuvas — que maximamente dura três meses — está cheio pelas enchentes que vêm do interior do sertão, e aonde ainda ninguém tem ido para investigá-lo. E então é impossível navegar o rio mais para cima, por causa das árvores que boiam na água por razão da enchente.

Feito no Castelo Keulen do Rio Grande neste dia 4 de fevereiro de 1650.

Foi assinado: J. Houck.



NOTA

4. O Potengi efetivamente tem alguns trajetos que se estendem ao sul-sudeste.