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Livro 3 - DA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Tomé de Souza ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Manuel Teles Barreto - Capítulo 13 - De como o governador tornou para a Bahia, e de uma nau que a ela arribou indo para a Índia

De Atlas Digital da América Lusa

Livro 3 - DA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Tomé de Souza ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Manuel Teles Barreto - Capítulo 13 - De como o governador tornou para a Bahia, e de uma nau que a ela arribou indo para a Índia

Geometria

Tornando o governador Mem de Sá para a Bahia, e chegando a ela, escreveu logo a rainha, e ao infante cardeal d. Henrique, que governava o reino, o que tinha feito no Rio de Janeiro, pedindo em satisfação de seus serviços lhe mandasse sucessor, para se poder ir para Portugal, onde tinha sua filha d. Helena, que depois casou com o conde de Linhares d. Fernando de Noronha; e entretanto foi continuando com seu cargo como costumava, e era obrigado. Neste tempo veio aqui de arribada Francisco Barreto, que havia sido governador da Índia, e ia conquistar Menomotapa, a quem o governador em tudo o que pôde para sua navegação; ficou-lhe aqui muita gente, e entre os mais um soldado homicida, que em algum tempo teve diferenças com outro em Portugal, mas haviam-se depois congraçado, e vinham ambos, e como tais se foram uma tarde recrear ao campo, onde se lançaram à sombra de uma fresca árvore, e adormecendo o outro, o Medeiros / que assim se chamava o homicida/ lhe deu uma estocada de que logo morreu. Muito desejou Francisco Barreto castigar esta aleivosia do seu soldado, mas não pôde colhê­lo, porém depois da sua partida o ouvidor-geral Fernão da Silva o prendeu, e formado o processo foi sentenciado à morte. O dia que o levaram a justiçar os mais, que ficaram de Francisco Barreto, tinham dado ordem que estivessem trincados os baraços, para que caísse da forca, como em efeito caiu não só uma vez mas três vezes, o que visto pelos irmãos da Misericórdia, que o haviam acompanhado com a justiça, como é costume, requereram ao ouvidor-geral, que não executasse a sentença, pois assim parecia ser vontade de Deus, o que ele fez, e tornando-o ao cárcere foi logo avisar ao governador do que havia passado, o qual, como era letrado e reto na justiça, o repreendeu muito, dizendo que aquela piedosa opinião era, mas não tinha lugar naquele caso, onde a verdade era sabida, e a aleivosia tão notória, pelo que o mesmo governador uma madrugada o mandou tirar da cadeia, e fazer uma forca à porta dela, onde o enforcaram, e não quebrou a corda. Nestas, e outras coisas semelhantes se ocupava o governador na Bahia enquanto esperava sucessor, e as guerras não cessavam assim nas capitanias do sul, como do norte, segundo veremos nos capítulos seguintes.


Ficha técnica da Fonte
Autor: Frei Vicente do Salvador
Data: 1627.
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