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Livro 3 - DA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Tomé de Souza ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Manuel Teles Barreto - Capítulo 3 - Do segundo governador geral, que el-rei mandou ao Brasil

De Atlas Digital da América Lusa

Livro 3 - DA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Tomé de Souza ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Manuel Teles Barreto - Capítulo 3 - Do segundo governador geral, que el-rei mandou ao Brasil

Geometria

Movido el-rei dos rogos e importunações do governador Tomé de Souza, acabado o triênio do seu governo, lhe mandou por sucessor d. Duarte da Costa, o qual se embarcou, e partiu de Lisboa no ano de mil quinhentos cinqüenta e três a oito do mês de maio, trazendo em sua companhia seu filho d. Álvaro, e o Padre Luiz da Grã, que havia sido reitor no Colégio de Coimbra, e mais dois padres sacerdotes, e quatro irmãos da companhia, um dos quais era José de Anchieta, que depois foi cá seu provincial, e se pode chamar Apóstolo do Brasil, pelas obras e milagres, que nele fez, como o padre São Francisco Xavier se chamou da Índia. O governador tanto que chegou trabalhou muito por fortificar e defender esta nova cidade da Bahia contra os bárbaros gentios, que se levantaram, e cometeram grandes insultos, que ele emendava dissimulando alguns com prudência, e castigando outros com armas, matando-os, e cativando-os em guerras, que lhes fez, de que era capitão seu filho d. Álvaro da Costa, o qual em todas se houve valorosamente. Nem el-rei o deixou de favorecer em todo o seu tempo com armadas de muitos soldados, e moradores. Ajudavam também o bispo d. Pedro Fernandes, trabalhando sem cessar na conversão das almas, na ordem do Culto Divino, administração dos sacramentos, e em tudo mais tocante ao espírito, que el-rei não menos pretendia, e encomendava que o temporal. Porém o demônio perturbador da paz a começou a perturbar de modo entre estas cabeças eclesiásticas, e secular, e houve entre eles tantas diferenças que foi necessário ao bispo embarcar-se para o reino com suas riquezas, aonde não chegou por se perder a nau, em que ia, no rio Cururuipe, seis léguas do de S. Francisco, com toda a mais gente que nela ia, que era Antônio Cardoso de Barros, que fora provedor-mor, e dois cônegos, duas mulheres honradas, muitos homens nobres, e outra muita gente, que por todos eram mais de cem pessoas, os quais, posto que escaparam do naufrágio com vida, não escaparam da mão do gentio Caeté, que naquele tempo senhoreava aquela costa, o qual depois de roubados, e despidos, os prenderam, e ataram com cordas, e pouco a pouco os foram matando, e comendo, senão a dois índios, que iam desta Bahia, e um português, que sabia a língua. Não sei se deu isto ânimo aos mais governadores para depois continuarem diferenças com os bispos, de que tratarei em seus lugares, e porventura os culparei mais, porque tenho notícia das razões, ou para melhor dizer sem razões de suas diferenças, o que não posso neste caso sem ser notado de murmurador, pois não sei a causa, que tiveram, somente direi o que ouvi das pessoas, que caminham desta Bahia para Pernambuco, e passam junto ao lugar donde o bispo foi morto / porque por ali é o caminho / que nunca mais se cobriu de erva, estando todo o mais campo coberto dela, e de mato, como que está o seu sangue chamando a Deus da terra contra quem o derramou; e assim o ouviu Deus, que depois se foi desta Bahia dar guerra àquele gentio, e se tomou dele vingança, como adiante veremos.


Ficha técnica da Fonte
Autor: Frei Vicente do Salvador
Data: 1627.
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