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Mato rodondo

De Atlas Digital da América Lusa

Mato rodondo

Geometria

Coleção Levy Pereira


Mato rodondo


Natureza: mata


Mapa: PRÆFECTURÆ PARANAMBUCÆ PARS BOREALIS, una cum PRÆFECTURA de ITÂMARACÂ


Capitania: PARANAMBVCA

Mata na região entre o 'Mocabitá' (Rio Mocaitá) e o 'R. do Carço' (Riacho Pasta).


Nomes históricos: Mato rodondo; Mato Redondo; Matredowne.

No combate nesta mata Dom Luiz Rojas Y Borja, Duque de Granja - nobre espanhol que substituiu Matias de Albuquerque no comando das forças ibero-brasileiras - foi morto em combate em 18 de Janeiro de 1636. As forças da WIC eram comandados pelo coronel Crestofle d'Artischau Arciszewski.


Nome atual: a região é conhecida como Mata Redonda.

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Nota:

Há uma "Fazenda Mata Redonda" a sudeste, aproximadamente 7,7 Km deste marcador, próxima aos riachos Campina e Pau-Sangue - vide mapa IBGE Geocódigo 2707404 Porto de Pedras - AL, disponivel em ftp://geoftp.IBGE.gov.br/MME2007/AL/PORTO%20DE%20PEDRAS.pdf acesso em 3/10/2010. Essa fazenda é o engenho citado em (Diegues Jr, 1949) - vide citação abaixo - e isso, se esse historiador estiver certo ao afirmar que a batalha foi nas suas cercanias, pode significar que o 'Mato rodondo' esteja plotado no BQPPB numa posição diferente da correta, que seria nas vizinhanças dessa fazenda, situada entre o atual Riacho Floresta, plotado sem nome no BQPPB, e o 'Tatúaímanha' (Rio Tatuamunha).

■ ====Citações====

►Mapa PE (Orazi, 1698) PROVINCIA DI PERNAMBVCO, designando região ou mata (dúbio), 'Mato rodondo', entre o 'Mocabita' (Rio Mocaitá) e o 'Tatuaymonha' (Rio Tatuamunha).

►(Calado, 1648), Volume 1, pg. 71-72, descreve a batalha com os neerlandeses, em 18 de janeiro de 1636:

"Tanto que o Mestre de Campo Artixof soube que Dom Luiz de Roxas era passado com sua infanteria, entendendo que o Governador Sigismundo, que estava na povoação, estaria em grande aperto, ou cercado, e que tinha pouca gente consigo, partiu da Paripoeira com mil e quinhentos soldados, e veio em seguimento de Dom Luiz de Roxas, o qual sabendo como ele era partido, e não estando certo do caminho por onde vinha marchando, mandou espias por todas as partes, e principalmente à praia, porquanto por ali lhe diziam que podia o inimigo vir com mais facilidade; e ele mesmo se abalou com toda a infanteria a esperá-lo, e nunca sua gente descansou até que soube de certo o por onde o inimigo vinha marchando; e sendo certificado de que vinha por Camaragibe, e que ali abrasara com fogo três engenhos, e todas as casas dos moradores daquele distrito, e que vinha entrando por o caminho da Mata redonda na derrota da povoação, logo lhe saiu ao encontro com mil e trezentos infantes, e deixou na povoação ao Tenente-General Manuel Dias de Andrada com trezentos e cinqüenta soldados em resguardo da pólvora, e das mais munições, e bastimentos. Partido Dom Luiz de Roxas com a nossa gente em busca do Artixof um dia à tarde, foi a encontrar com ele de noite na Mata redonda, aonde os Holandeses descobridores do campo nos assaltearam de emboscada a nossa retaguarda, e nos mataram ao Capitão Dom Pedro Marinho, e quatro soldados, e revirando os nossos sobre os Holandeses, os perseguiram com tanto furor, que os fizeram fugir, e lhe mataram cinqüenta homens, e muitos deixaram as armas, e as mochilas, cheias de mantimento por escapar da morte com menos embaraço.

Amanheceu o seguinte dia, e como ainda não eram chegados a povoação os dois Capitães nossos Manuel de Sousa de Abreu, e Ascenso da Silva, que vinham mais atrás do nosso exército, comboiando os cansados, e doentes, e algumas munições. O Tenente-General Manuel Dias de Andrada lhe mandou ordem que fossem seguindo o inimigo por a trilha, e que tanto que ouvissem estrondo de peleja lhe tocassem à arma por detrás das costas, porque assim o perturbariam de sorte, que apesar de sua soberba, ficasse vencido. ...

Mas tornando ao fio da história, tanto que amanheceu, e o nosso exército se pôs à vista do inimigo pouco mais de tiro de mosquete, mandou Dom Luiz de Roxas ao Capitão Rebelinho que com uma manga de soldados ligeiros fosse picar, e assanhar o inimigo por um lado, o que também fez por outro lado o Governador Camarão com parte dos seus índios, e lhe fizeram dano; e porque o inimigo não se moveu do sítio que tinha tomado, encheu-se Dom Luiz de Roxas de tanto fervor, que deu vezes aos Capitães, e soldados, dizendo: Não se gaste mais murrão, vamos a eles, invistamos, que a vitória é nossa. Tocou-se a investir, e movidos os dois batalhões um contra o outro, se começou a brigar valorosamente com muitas mortes, e feridas de ambas as partes, soava a vozeria, tocavam as trombetas, retumbavam as caixas, assoviavam as balas por o ar, tudo era confusão de parte a parte; e indo já o inimigo perdendo alguma terra, e os nossos carregando sobre eles, andava Dom Luiz de Roxas no meio do nosso esquadrão, animando os soldados, e provendo os postos como via ser necessário, e tendo a cara para o inimigo, eis que vem uma bala de entre o nosso esquadrão, e lhe deu por as costas, e o passou de parte a parte, caiu ele em terra, e logo se tornou a levantar, dizendo: Não ê nada, adiante soldados, que o inimigo vai vencido; dêem-me o meu cavalo. E querendo pôr o pé no estribo para cavalgar, disse estas palavras: Es posible que esto se me haze estando entre fidalgos Portugueses? E logo caiu estendido em terra morto. Henrique Teles de Melo, e o Padre Frei Manuel o retiraram para um mato, e o meteram em uma quebrada, e o cobriram com folhas secas por não ser achado, e tornando para o esquadrão, que andava mui aceso na briga, correu palavra, que o Mestre de Campo General era morto, e logo os de barrigas grandes, que nos haviam acompanhado a cavalo, não para pelejar, senão para ver touros de palanque, de cima de um outeiro, logo começaram a virar os cavalos, e a fugir; e os soldados vendo isto, imaginando que o inimigo poderia ter deitado alguma manga para os acolher no meio, começaram a virar, e em breve se começaram a meter por entre os matos, e uns após outros desampararam o campo, e se vieram retirando para a povoação, cada um por o caminho, ou vereda que se lhe oferecia; e só o Capitão Camarão, e o Rebelinho saíram de dentro do mato (donde brigaram) saindo ao alto do monte, e dali com vagaroso passo, e ordem se vieram retirando, fazendo alto algumas vezes, e virando a cara ao inimigo, o qual não veio em seu seguimento, antes se deixou ficar no mesmo lugar da batalha, aonde tinha duzentos mortos, dos quais enterrou os oficiais no mato, e levou mais de quatrocentos feridos, e se tornou por o mesmo caminho por onde havia vindo, para o forte da Parapueira.".

►(Pudsey, circa 1670), relatando fatos relacionados com a batalha de Mata Redonda em 1636:

@ pg. 97-98, Fólios 21v-22r.:

"Marchamos de São Gonçalo no ano de 1636, deixando os fortes sob o comando do Capitão Anders311 e do Capitão Day,312 sendo reforçados com 3 companhias de infantaria, sem deixar o inimigo saber de nossa marcha, senão seríamos batidos em retirada.

Marchamos por 3 dias, queimando toda a região de Camaragibe, sem qualquer resistência ou qualquer inteligência ulterior senão aquela obtida do negro. Os camponeses de Camaragibe & Porto do Calvo estavam todos com o inimigo. Isto até a terceira noite, quando capturamos um prisioneiro que nos informou haver Dom Luís tomado Povoação e que havia regressado até um lugar chamado Mata Redonda.313 Depois disso ele reforçou o forte, esperando nossa chegada para dar batalha, havendo nós chegado essa noite a Camaragibe, após haver queimado os engenhos de açúcar e os canaviais. Colocamos sentinelas e nos aquartelamos, estando exaustos com a viagem.

...

Este lugar em que ele nos esperava ficava a cerca de duas léguas de onde nos havíamos reunido no começo da noite, e nossas tropas avançadas, havendo marchado até quase uma légua em direção ao quartel inimigo; mas eles haviam posto um espião no mato que, depois que passamos por ele, deu o alerta, abrindo fogo.

O inimigo, assim que o ouviu, retirou todos os espiões e sentinelas para seu batalhão. O major Tourlon,316 que comandava nossa tropa avançada, marchou adiante.

Cerca de uma milha mais adiante descemos uma íngreme colina e marchamos outra colina acima, onde o inimigo estava armado para batalha.".

►(Papavero & Teixeira, 2000), NOTAS à TRADUÇÃO:

@ pg. 179:

«311- "Captaine Andres", no original. Não encontramos qualquer referência a um nome semelhante entre as fontes consultadas.

312- "Captaine Day", no original. Provável referência ao capitão Marten Petersen Day mencionado por Richshoffer (1677).

313- "A place called Matredowne", no original. Referência ao local onde ocorreria a infausta batalha de Mata Redonda, travada em 17 de janeiro de 1636. Vide nota 321..».

@ pg. 180:

«321- Segundo Frei Manuel Calado (1648), uma inútil tentativa de sustentar o combate teria levado Dom Luís de Rojas y Borja a apear e meter-se entre os lanceiros, quando foi ferido na perna por uma bala de mosquete. Atingido nas costas por um outro projétil vindo de suas próprias linhas, o comandante geral ainda tentou montar e prosseguir na refrega, mas caiu uma segunda vez para não mais se erguer. Frei Manuel e Henrique Teles de Melo levaram o corpo de Rojas y Borja para uma moita e o cobriram com folhas secas, voltando em seguida ao calor da batalha, a qual não se revelou mais desastrosa para as tropas ibéricas graças à intervenção de Rebelinho e de Felipe Camarão, que fizeram frente aos holandeses e tomaram as melhores posições, cobrindo assim a fuga dos derrotados. Satisfeito com a vitória, Arciszewski volta a Paripueira sem arriscar-se a perseguir o inimigo. No segundo dia depois da batalha, Frei Manuel e Henrique Teles voltaram em busca do cadáver de Rojas y Borja, que seria enterrado em uma sepultura ao lado da floresta.».

►(Diegues Jr, 1949), pg. 75:

"Em terreno, onde se erigiu mais tarde um dos mais ilustres engenhos alagoanos — o da Mata Redonda — travou-se em janeiro de 1636 a célebre batalha de Mata Redonda; nela perdeu a vida o comandante dos exércitos luso-brasileiros Rojas y Borja. Nenhum dos cronistas que descrevem a batalha ou a ela se referem, indica a existência de engenho no local; mesmo nas relações de engenhos anteriores ou posteriores a 1636, não aparece nenhum engenho na região. Daí poder concluir-se que o engenho Mata Redonda somente mais tarde se construiu; quando, é que não se pode fixar com segurança. Tudo indica, porém, ter sido posterior ao período holandês.".

►(Câmara Cascudo, 1956), pg. 172:

"Do lado direito do rio Mongaguaba (Manguaba), desde "Mato Redondo", Mata Redonda onde morreu dom Luís de Rojas y Borja em janeiro de 1636, as casas se amiúdam até as ondas do mar.".






Citação deste verbete
Autor do verbete: Levy Pereira
Como citar: PEREIRA, Levy. "Mato rodondo". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Mato_rodondo. Data de acesso: 28 de março de 2024.


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