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PROBLEMA II - Tirar uma perspectiva a olho, e sem quadricula

De Atlas Digital da América Lusa

PROBLEMA II - Tirar uma perspectiva a olho, e sem quadricula

Geometria

Tirar uma perspectiva a olho, e sem quadricula.

Como os Engenheiros não são pintores, nem o devem ser; porque a aplicação do debuxo os faz menos hábeis para a especulação, (razão, porque os principais dão aos [188] ... aos Engenheiros desenhadores) darei aqui o modo de poderem tirar a perspectiva de alguns terrenos, no caso em que não tenham quadricula, ou comodidade para a fazer.

Deve Engenheiro fingir uma quadricula imaginaria em lugar da real, e verdadeira. Esta quadricula consiste em não por parte alguma do objeto no papel, sem a comparar primeiro na grandeza com a primeira parte já posta assim a respeito da altura, como da largura: por exemplo, se o objeto for uma Vila, deve começar pela partes mais altas, como Torres, ou campanários, e lançará uma linha perpendicular de alto a baixo no papel, que lhe servirá como de petipé, nesta linha tomara uma altura arbitrária para o campanário, e logo examinara quanto a sua largura é menor a vista, do que a sua altura, para notar e na [189] ... e na mesma forma se vão repartindo as mais partes da Torre, ou campanário, proporcionando-lhe as alturas, e larguras, segundo elas se representão a vista: se houver mais campanários, e Torres, se fará o mesmo, regulando comparativamente as distancias, que há de umas a outras, e quanto uma de mais alta que a outra.

Devem-se desenhar primeiro as coisas mais eminentes assim do meio da vila, como dos lados, e o mais se acaba de encher das casas, edifícios, e muros; servindo-se sempre do petipé de comparação, ou da linha perpendicular.

Quando os pontos principais se tomam desta sorte, com pouco exercício se desenham as vistas, ou perspectivas com bastante exacção.[SIC]

Muitos usam da quadricula para copiar plantas, e para reduzir de maior [190] ... a menor, ou de menor a maior, cuja pratica é a seguinte.

Na planta, que se quer copiar, se faz com lápis uma quadricula com o numero de quadradinhos arbitrário, que para coisas miúdas deve ser maior o numero dos quadradinhos; e no papel, em que se há de copiar, se faz outra quadricula também com lápis de igual numero de quadradinhos, que podem ser iguais aos da planta quando a querem copiar igual, ou maiores, se a querem fazer maior ou também menores, se a querem fazer menor: e logo no papel se vão notando as partes da planta nos quadradinhos do papel, relativos aos quadradinhos da mesma planta; porém o modo mais fácil, e mais exato de copiar plantas em ponto igual, é sobre um vidro encaixilhado como vidro de coche ou liteira

[191] ... e ajustando-lhe em cima a planta, e por cima dela o papel, em que há de ser copiada, posto o vidro em forma de estante de sorte, que a luz lhe de da parte inferior, fica um, e outro papel transparente, e se vai desenhando sobre os mesmo riscos da planta com muita certeza, e exacção[SIC], e ainda com maior facilidade, do que de outro qualquer modo.

Antes de dar fim a este Appendix[SIC] diremos sumariamente o modo de ornar, e iluminar as Cartas Geográficas, e o como se devem notar nelas as latitudes, e longitudes; e ainda não sendo feitas por este método, como certamente o não podem ser as Topográficas, por não serem sensíveis as diferenças das latitudes, e longitudes curtas distancia.

Chamamos cartas Topográficas. [192] ... as Cartas particulares, que representão sobre um plano uma pequena parte da terra, como por exemplo Lisboa, e seu termo, ou quando muito uma província, como a Estremadura; e nestas Cartas particulares, além das Cidades, Vilas, Aldeias, Castelos, etc., se representão os montes, os vales, os outeiros, os Rios, ribeiras, e lagos, os prados, os matos, as charnecas, e terra lavradas, planas ou montuosas.[SIC]

Chamamos Cartas Chorograficas[SIC] aquelas, que representam sobre um plano uma parte considerável da terra, como um reino, por exemplo o de Portugal, e Cartas grandes as que representão uma das partes da terra, como Europa, ou África, etc, carta geral é a naquela, que representa toda a superfície da terra em um plano, por cuja [193] ... razão se chama Planisfério, ou Mapa Mundi.

O método, que temos dado, é só para as cartas Topográficas, e ainda pode servir para as Chorograficas: mas para as grandes Cartas, ou para as Cartas gerais, em que não é necessária tanta miudeza, e distinção, se usa das longitudes, e latitudes para as posições dos lugares.

Quem quiser por exemplo fazer por via das latitudes, e longitudes a Carta deste Reino, de Portugal, e Algarves, é necessário saber que o seu comprimento está incluído entre trinta e sete, e quarenta e dois graus de latitude, e entre nove, e doze graus de longitude; e assim o seu comprimento são cinco graus, e a sua largura três.

Isto suposto, se lança uma linha que se toma por Meridiano, e se divide. [194] ... em cinco partes iguais, que representão os cinco graus do seu comprimento, e do extremo da linha se levanta uma perpendicular, que representa um circulo paralelo ao equador, e distante trinta e sete graus, e pela divisões outras tantas linhas paralelas as primeiras.

Estas linhas paralelas se dividem nos três graus de longitude, que compreende Portugal: mas é necessário advertir que os graus de longitude só são iguais aos da latitude sobre o equador, e depois vão diminuindo para os Polos; e é necessário notar esta diferença, que se conhece pelas tabuada das longitudes, que andam impressas em várias autores, e as trás o nosso Roteiro Português da navegação; a onde também se poderão ver as latitudes, e longitudes dos principais lugares deste Reino,

[195] Para notar com as latitudes, e longitudes uma Carta Topográfica de qualquer Província, por exemplo a do Alentejo, esta se quadrará no papel, incluindo algumas confinantes, como pela parte do Oriente a Raia de Castela; para o Norte parte da Beira, e Estremadura : para o Ocidente parte da mesma estremadura, e mar Oceano: pela parte do Sul porção do Reino do Algarve, e vendo os graus, ou partes de grau, que compreende de Norte a Sul, estes serão a sua latitude, e os que compreender de Ocidente a Oriente, serão a sua longitude. Estas longitudes, e latitudes se notam nas cartas por umas linhas graduadas, que lhe servem de orla.

O mais ordinário é que a linha graduada que serve de base ao papel, denota as latitudes como também [196] ... a da cabeceira, e as linhas dos lados do papel representão as longitudes.

As cartas se ornam muito, e se fazem mais distintas, assinalando as povoações com os seus finais de capital, Patriarcado, Arcebispado, Universidade, Ducado, Marquesado, Condado, Campo de Batalha, etc. Estes finais se costumam por nas grimpas dos campanários, que representam uma povoação, sendo umas mais avultadas, que outras, conforme a grandeza, dos lugares, e sempre deve avultar mais que todas as que for capital e como estas ocupam mais espaço no papel, para se tomar a sua distancia, a qualquer outra, deve ter no meio uma cifra, e um pontinho no meio dela para notar a sua justa posição.

Os bispados se notam com um [197] ... Bago na grimpa : como também as prelazias, os arcebispados com Cruz, e bago : as Universidades com um caducêo[SIC] de Mercúrio: os Principados com a letra P, os Ducados com a letra D, os Marquesados com a letra C, um campo de batalha se denota com um alfange[SIC], ou cutelo pequenino, e proporcionado ao tamanho da Carta: o Patriarcado se notará com o Bago, e Cruz patriarcal de dois braços os limites das províncias, e territórios se notam com uma linha de pontos grossos, que compreende a figura do terreno: quando as Cartas são iluminadas, se dão a roda destes pontos de divisão aguadas de diferentes cores, e estas se fazem com as tintas seguintes: carmim, vermelhão, roam sombra, tinta da China, verdete, cinzas, verde bexiga, etc.

[198] Para a aguada dos Rios e mares, da melhor que se tem achado, darei aqui a receita.




Ficha técnica da Fonte
Autor: Manuel de Azevedo Fortes
Data: 1722.
Referência: ..
Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal.
Transcrição: Carlos Antonio Pereira de Carvalho.
link principal no BiblioAtlas: Tratado do modo o mais facil, e o mais exacto de fazer as cartas geograficas