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Prancheta circular moderna

De Atlas Digital da América Lusa

Prancheta circular moderna

Geometria
por Gustavo Barcelos


A prancheta moderna se trata de um desenvolvimento técnico das pranchetas simples conhecidas até os dias de hoje. Como a prancheta simples, a prancheta moderna tem funcionalidade para a anotação de dados em campo e para a produção do esboço do mapa. Sua particularidade técnica está em conter os 360º de um círculo, não necessitando do uso de um semicírculo ou compasso para transferir ao papel os graus achados na bússola sobre a localização de um ponto. Dessa forma, potencializa a não ocorrência de erros na passagem dos graus a uma folha ou como chamado na época, Borrador.

Segundo Fortes [1] As mais modernas se fazem de latão, e de figura circular com um circulo sobreposto a modo de orla, e graduado, que se ajusta a um rebaixo, que há na circunferência da Prancheta, para que o papel fique preso, e a graduação descoberta: as que não tem graduação, para estar fixo o papel, o aplicam, e pegam com uma pequena porção de cera branda. Este instrumento em lugar de pínulas tem um óculo de ver ao longe, aplicado a régua móvel, que é levadiça sobre o pião para se lhe por, e tirar o papel ; e as que tem orla graduada para poder servir de Circulo, tem um segundo óculo, cujo Focus são paralelos ao diâmetro da Prancheta, e este segundo óculo fica pela parte inferior, ou por baixo da Prancheta como mostra a Figura décima quinta, estampa quarta, o óculo sobre a régua móvel é aplicado de sorte a ela, que não possa impedir lançar as linhas com lápis, ou pena sobre o papel da Prancheta.
Prancheta circular moderna

Na obra Tratado do modo o mais fácil, e o mais axacto de fazer as cartas geográficas, onde Manuel de Azevedo Fortes desenvolve o modo de operar e produzir mapas através de estudos de geometria prática. Um dos problemas desenvolvidos pelo mesmo trata da produção de um mapa a partir do conhecimento da distância entre apenas dois pontos e com o uso da Bússola. Nesse problema, o uso da bússola sempre tem como referência os graus medidos de um ponto (x) em relação a outro (y), de modo que vão se fazendo linhas no borrador até se saber a localidade exata do ponto. Nesse sentido, Fortes [2] demonstra o uso e funcionalidade da prancheta moderna:

(...) Para que mais claramente se veja o uso da Prancheta : suponho que queremos fazer a Carta de um país, (Figura undecima, estampa segunda) e suponho medida a distancia AB, e pondo a Prancheta no ponto A, faço a primeira estação, e ponho a alidada de modo, que enfie o ponto B, e lanço com o lápis a linha sobre o papel, e virando a alidada para o lugar c, lanço a linha da mesma forma e o nome do lugar ; e o mesmo para o lugar F, e para o lugar C, e para o lugar H, e para o lugar l, e suponho que não descobria mais lugares daquele ponto, ou se os descobria, os não tomei, por me parecer sairiam os ângulos, ou muito obtusos  : e passando o instrumento para o lugar B posta Alidada na direção da linha AB já lançada tomei o ponto, ou lugar F; e porque deste lugar descobria melhor os mais, e a linha, ou distancia AF é maior que a base primeira AB, mudando de base fiz nova base d distancia AF, e pondo em F a Prancheta com a alidada, na direção do lugar A ficando a Prancheta firme, viro a Alidada para os lugares, H, I, e G, e para a outra parte ao lugar C lançando as linhas pela régua móvel, e escrevendo ao longo delas os nomes dos lugares.

Fortes [3] prossegue: Do mesmo ponto F, fazendo base de linha FB se tomaram os lugares, E e D cruzando-os por outra estação do ponto B : o lugar L que suponho não era visto dos pontos das estações precedentes, se poderá tomar de base A 1.

Com estas três estações se podem reduzir e transferir ao papel os mesmo ângulos do terreno, estabelecendo nele a base medida, e tomando no petipé um numero de partes iguais ao numero das braças, varas, etc., que se acharão na distancia medida no terreno : para as posições, ou estações seguintes, sempre se há de tomar uma base sabida, por exemplo tomamos primeiramente a base AB sabida, e para mudar de base nos serviremos de AF, primeiro supomos sabida a sua distancia por meio do triangulo ABF porque tomando no petipé o numero de parte iguais de base AB, que é sabida entre as pontas do compasso, e aplicando-a ao lado AF, se ve pelo mesmo petipe quanto esta é maior, ou menor que AB : porque como os ângulos são verdadeiras as distancias, ou lados do triangulo, e proporcionados a maior, ou menos abertura dos mesmos ângulos.

Bueno,[4] em sua análise sobre as obras de Fortes concluiu que a prancheta circular moderna se iguala ao teodolito, entretanto o teodolito não permite a função de desenho num borrador (folha para esboço) como permite a prancheta moderna. Esse uso de desenho na prancheta é confirmado na seguinte passagem da obra de Fortes [5]

Os Engenheiros curiosos levam (segundo as operações, que tem que fazer) quantidade de papeis cortados do tamanho da Prancheta, o que se faz com um compasso, que tenha uma das suas pontas capaz de cortar, e os buraquinhos no centro do papel já feitos com um ponteiro de grossura justamente do Cilindro, ou pião da prancheta, e o instrumento, com que fazem o buraquinho no papel, é semelhante aquele, com que os Sapateiros fazem buraquinhos no couro, chamado vafador.


Referências

  1. FORTES, Manoel de Azevedo. Tratado do modo o mais fácil, e o mais axacto de fazer as cartas geográficas, assim da terra, como do mar, e tirar as palntas das Praças, Cidades, e edifícios com instrumentos e sem instrumentos, para servir de instruccam à frabrica das Cartas Geográficas da História Ecclesiastica, e Secular de Portugal. 1722, pg. 101 e 102
  2. FORTES, Manoel de Azevedo. Tratado do modo o mais fácil, e o mais axacto de fazer as cartas geográficas, assim da terra, como do mar, e tirar as palntas das Praças, Cidades, e edifícios com instrumentos e sem instrumentos, para servir de instruccam à frabrica das Cartas Geográficas da História Ecclesiastica, e Secular de Portugal. 1722.
  3. FORTES, Manoel de Azevedo. Tratado do modo o mais fácil, e o mais axacto de fazer as cartas geográficas, assim da terra, como do mar, e tirar as palntas das Praças, Cidades, e edifícios com instrumentos e sem instrumentos, para servir de instruccam à frabrica das Cartas Geográficas da História Ecclesiastica, e Secular de Portugal. 1722.
  4. BUENO, Beatriz Piccolotto Siqueira. Entre teoria e prática: A cartografia dos engenheiros militares em Portugal e no Brasil, séculos XVI-XVII. Terra Brasilis [online]: Revista da Rede Brasileira da História da Geografia e Geografia Histórica, 7-8-9, 2007. Disponível em: http://terrabrasilis.revues.org/271
  5. FORTES, Manoel de Azevedo. Tratado do modo o mais fácil, e o mais axacto de fazer as cartas geográficas, assim da terra, como do mar, e tirar as palntas das Praças, Cidades, e edifícios com instrumentos e sem instrumentos, para servir de instruccam à frabrica das Cartas Geográficas da História Ecclesiastica, e Secular de Portugal. 1722, pg. 65



Citação deste verbete
Autor do verbete: Gustavo Barcelos
Como citar: BARCELOS, Gustavo. "Prancheta circular moderna". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Prancheta_circular_moderna. Data de acesso: 25 de abril de 2024.



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