O jornalista Heitor Lima escrevia regularmente no jornal Correio da Manhã, importante periódico da cidade do Rio de Janeiro. Nessa e em outras colunas, Lima defende o divórcio como a solução para a violência contra a mulher e a tirania dos maridos. Faz duras críticas a Bertha Lutz: seu pensamento é confuso e impreciso, não ataca as questões principais que afligem as mulheres e mantém perigosa aliança com a Igreja católica.
Não sem razão, haveremos de concordar que a desigualdade de poder entre maridos e esposas trazia consequências terríveis para a vida das mulheres. As feministas da FBPF tinha consciência disso, mas a palavra divórcio não era pronunciada nas tudor imitacion reuniões e congressos feministas, menos por falta de convicção e mais por temor de retaliação da Igreja.
Para ler a reportagem, basta clicar duas vezes na imagem.
A dor causada pela Guerra recém encerrada na Europa ainda era sentida por milhares de pessoas quando delegados de 50 países se reuniram na cidade de San Francisco para elaborar o documento de fundação da nova organização internacional, que todos
esperavam ser capaz de preservar a paz e reduzir as desigualdades entre as nações. Esse momento de grande expectativa foi acompanhado por Bertha, que participou ativamente das negociações em defesa da revisão periódica da Carta da ONU, além de ter defendido a inclusão do princípio da igualdade entre homens e mulheres no Preâmbulo do documento.Uma das mulheres mais interessantes da Primeira República foi a professora Leolinda Daltro. Nascida na Bahia, Leolinda veio para o Rio de Janeiro com os filhos e buscou viver do ofício do magistério. Não suficiente acreditar profundamente no papel revolucionário da educação, a professora abraçou a causa da proteção (laica) aos indígenas.
Se os constituintes de 1891 negaram às mulheres brasileiras o direito de votar porque não serviam militarmente à pátria (Eis um dos argumentos contrários!), Leolinda instruía suas alunas do Instituto Orsina da Fonseca a atirar. Se os congressistas de 1891 negaram o sufrágio às mulheres, as alunas do Instituto aprendiam datilografia e, assim, podiam concorrer a empregos públicos (para horror dos homens!). A escola ficava na rua General Câmara, nº 387, próximo à Central do Brasil. Hoje, essa rua, como muitas na região, não existe mais; deu lugar à Avenida Presidente Vargas.
Candidatou-se a deputada constituinte na eleição de 1933, defendendo o divórcio e o ensino público. Não se elegeu.
Nos anos seguintes, passou a ser homenageada pela rival de Bertha, a gaúcha Natércia da Silveira, que fundara a Aliança Nacional de Mulheres. Mas a idade e o cansaço fizeram Leolinda se afastar dos eventos públicos e das controvérsias.
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Um segundo atropelamento a matou em maio de 1935. Em verdade, a modernidade a atropelou.
Em 1975, o movimento feminista saboreou a vitória de ver acontecer a longamente desejada conferência da ONU sobre a mulher. Há muitos anos as ativistas pressionavam a ONU para que a agenda das questões da mulher ocupasse o centro do debate diplomático. O resultado foi a convocação da conferência, realizada na Cidade do México, entre junho e julho daquele ano, e que inaugurou o Ano Internacional da Mulher.
Bertha Lutz foi a convidada especial da delegação brasileira, na qualidade de delegada plenipotenciária. Esse gesto valeu ao embaixador Lauro Escorel a honra de presidir a conferência e discursar logo após os anfitriões. Escorel destacou a presença de Lutz, cuja contribuição para a redação da Carta da ONU em 1945 assegurou o compromisso com a igualdade entre os sexos no desenho da instituição que se erguia então. A documentação sobre a Conferência, preservada no Arquivo do Itamaraty, revela o acerto dos diplomatas brasileiros ao convidar a velha ativista, pois Escorel relata em telegrama à Chancelaria que os conselhos de Lutz foram decisivos para a condução dos trabalhos da delegação brasileira no emaranhado dos grupos feministas (e não muito feministas) que compareceram à reunião.
Você pode ler o relato que Bertha fez ao Itamaraty contendo suas impressões pessoais sobre a Conferência:
Relatório Conferencia Mexico, 1975
Apenas à jornalista Heleoneida Studardt, destacada pela Revista Manchete para cobrir os trabalhos da Conferência pareceu não ser importante que Bertha compusesse a delegação brasileira. Sobre isso, a jornalista silenciou, como você pode conferir na reportagem reproduzida abaixo. Como eu sei que Heleoneida cobriu o evento para a Manchete? Assim estava registrado nos arquivos do Itamarati.
Eis mais um trabalho da advogada Myrtes Campos em defesa do sufrágio feminino.
No dia 12 de novembro de 1932, Bertha Lutz fez seu primeiro discurso público como integrante da Comissão de Redação do Anteprojeto de Constituição. Vargas, astutamente, nomeou Lutz e Nataercia da Silveira para integrar a Comissão de Redação, mas não as nomeou para a comissão de poucos notáveis que realmente redigiu o anteprojeto. Desta comissão, reunida em separado, participaram apenas homens. Ali, os trabalhos foram presididos pelo Ministro Oswaldo Aranha, com quem Bertha não mantinha bom diálogo político.zorb ball
De toda forma, os homens reunidos salões do Palacete Monroe, antiga sede do Senado, ouviram as vozes das duas únicas mulheres presentes.
Clique abaixo para ler a transcrição da fala de Lutz, a partir de cópia fornecida pelo Arquivo da Câmara dos Deputados.
Diário Oficial da União, 12/11/1932.nn1
Entrevista com Rachel Soihet
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No dia 28 de julho de 1936, Bertha Lutz tomou posse do mandato de deputada federal. Esse momento tão importante na sua vida política e pessoal foi acompanhado por seu pai, Adolfo Lutz, e por suas companheiras da FBPF. A foto registra o momento em que o grupo sobe, orgulhosamente, as escadaria do Palácio Tiradentes, então a sede da Câmara dos Deputados.
O insucesso da candidatura de Lutz à Assembléia Constituinte em 1933 não desanimou as feministas. Apurados os votos, a votação final alcançada por Bertha foi de 16.423 votos, o suficiente para que ela alcançasse a primeira suplência do Partido Autonomista. Com a morte do titular da cadeira, o deputado Cândido Pessoa, Bertha assumiu a vaga. Naquela legislatura, havia apenas duas deputadas na Câmara: a médica Carlota Pereira de Queiróz e Bertha.
Clique à esquerda para ler o discurso, publicado no Diário do Poder Legislativo, e cedido pelo Arquivo da Câmara dos Deputados.
Quem se detém na historiografia sobre o governo Vargas é levado a crer que a política se fazia nos grupos de oposição, confrontados pela polícia. Ora, o período também é marcado por forte atividade legislativa, a exemplo dos esforços para regulamentar o texto constitucional, a despeito das restrições à liberdade política dos cidadãos comuns.
Na sessão de 1º de abril de 1937, os deputados discutiram uma proposta de reformulação do importante Ministério da Educação e da Saúde, na esperança de retomar um projeto neste teor que Vargas havia vetado no ano anterior. Poucos sabemos sobre essa discussão e a menção ao projeto pode ser o fio condutor que nos levará a saber mais sobre as relações entre o Executivo e o Legislativo nos conturbados anos 1930.