O jornalista Heitor Lima escrevia regularmente no jornal Correio da Manhã, importante periódico da cidade do Rio de Janeiro. Nessa e em outras colunas, Lima defende o divórcio como a solução para a violência contra a mulher e a tirania dos maridos. Faz duras críticas a Bertha Lutz: seu pensamento é confuso e impreciso, não ataca as questões principais que afligem as mulheres e mantém perigosa aliança com a Igreja católica.
Não sem razão, haveremos de concordar que a desigualdade de poder entre maridos e esposas trazia consequências terríveis para a vida das mulheres. As feministas da FBPF tinha consciência disso, mas a palavra divórcio não era pronunciada nas tudor imitacion reuniões e congressos feministas, menos por falta de convicção e mais por temor de retaliação da Igreja.
Para ler a reportagem, basta clicar duas vezes na imagem.
Uma das mulheres mais interessantes da Primeira República foi a professora Leolinda Daltro. Nascida na Bahia, Leolinda veio para o Rio de Janeiro com os filhos e buscou viver do ofício do magistério. Não suficiente acreditar profundamente no papel revolucionário da educação, a professora abraçou a causa da proteção (laica) aos indígenas.
Se os constituintes de 1891 negaram às mulheres brasileiras o direito de votar porque não serviam militarmente à pátria (Eis um dos argumentos contrários!), Leolinda instruía suas alunas do Instituto Orsina da Fonseca a atirar. Se os congressistas de 1891 negaram o sufrágio às mulheres, as alunas do Instituto aprendiam datilografia e, assim, podiam concorrer a empregos públicos (para horror dos homens!). A escola ficava na rua General Câmara, nº 387, próximo à Central do Brasil. Hoje, essa rua, como muitas na região, não existe mais; deu lugar à Avenida Presidente Vargas.
Candidatou-se a deputada constituinte na eleição de 1933, defendendo o divórcio e o ensino público. Não se elegeu.
Nos anos seguintes, passou a ser homenageada pela rival de Bertha, a gaúcha Natércia da Silveira, que fundara a Aliança Nacional de Mulheres. Mas a idade e o cansaço fizeram Leolinda se afastar dos eventos públicos e das controvérsias.
Um segundo atropelamento a matou em maio de 1935. Em verdade, a modernidade a atropelou.
Em 1975, o movimento feminista saboreou a vitória de ver acontecer a longamente desejada conferência da ONU sobre a mulher. Há muitos anos as ativistas pressionavam a ONU para que a agenda das questões da mulher ocupasse o centro do debate diplomático. O resultado foi a convocação da conferência, realizada na Cidade do México, entre junho e julho daquele ano, e que inaugurou o Ano Internacional da Mulher.
Bertha Lutz foi a convidada especial da delegação brasileira, na qualidade de delegada plenipotenciária. Esse gesto valeu ao embaixador Lauro Escorel a honra de presidir a conferência e discursar logo após os anfitriões. Escorel destacou a presença de Lutz, cuja contribuição para a redação da Carta da ONU em 1945 assegurou o compromisso com a igualdade entre os sexos no desenho da instituição que se erguia então. A documentação sobre a Conferência, preservada no Arquivo do Itamaraty, revela o acerto dos diplomatas brasileiros ao convidar a velha ativista, pois Escorel relata em telegrama à Chancelaria que os conselhos de Lutz foram decisivos para a condução dos trabalhos da delegação brasileira no emaranhado dos grupos feministas (e não muito feministas) que compareceram à reunião.
Você pode ler o relato que Bertha fez ao Itamaraty contendo suas impressões pessoais sobre a Conferência:
Relatório Conferencia Mexico, 1975
Apenas à jornalista Heleoneida Studardt, destacada pela Revista Manchete para cobrir os trabalhos da Conferência pareceu não ser importante que Bertha compusesse a delegação brasileira. Sobre isso, a jornalista silenciou, como você pode conferir na reportagem reproduzida abaixo. Como eu sei que Heleoneida cobriu o evento para a Manchete? Assim estava registrado nos arquivos do Itamarati.
No dia 12 de novembro de 1932, Bertha Lutz fez seu primeiro discurso público como integrante da Comissão de Redação do Anteprojeto de Constituição. Vargas, astutamente, nomeou Lutz e Nataercia da Silveira para integrar a Comissão de Redação, mas não as nomeou para a comissão de poucos notáveis que realmente redigiu o anteprojeto. Desta comissão, reunida em separado, participaram apenas homens. Ali, os trabalhos foram presididos pelo Ministro Oswaldo Aranha, com quem Bertha não mantinha bom diálogo político.zorb ball
De toda forma, os homens reunidos salões do Palacete Monroe, antiga sede do Senado, ouviram as vozes das duas únicas mulheres presentes.
Clique abaixo para ler a transcrição da fala de Lutz, a partir de cópia fornecida pelo Arquivo da Câmara dos Deputados.
Diário Oficial da União, 12/11/1932.nn1
Entrevista com Rachel Soihet
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Este post contem a descrição do movimento feminista….
A convite do jornal “Correio da Manhã”, a Federação Brasileira Pelo Progresso Feminino organiza um suplemento dominical em que se discute o progresso da mulher e do feminismo em geral. O suplemento saiu no dia 29 de outubro de 1930.
Como nos demais posts, basta você clicar duas vezes para poder ler a matéria com nitidez.
A Federação Brasileira pelo Progresso Feminino tornavam públicas as suas atividades de várias formas. Regularmente, as feministas se quotizavam para publicar no jornal “O Paíz” um suplemento dominical contendo notícias políticas. Aqui, mostramos o audemars piguet replica registro de campanha de propaganda feminista. Os objetivos eram atrair ativistas para a entidade e promover a consciência política feminina. O jornal “Diário Carioca” publica com destaque as iniciativas de Bertha e de suas colaboradoras em 29 de abril de 1930.
Clique na imagem para visualizá-la melhor!
Pode causar espanto a alguém habituado à estética atual dos feminismos ver um site dedicado a uma ativista em que o laranja toma o lugar do lilás ou do rosa. São teimosias de historiador: cremos que as pessoas de uma época devem ser compreendidas conforme a mentalidade que prevalecia ao tempo de suas vidas. Nada mais anacrônico, portanto, do que um site sobre Bertha Lutz em lilás.
A escolha do laranja, associado ao preto, tem uma história na vida da Federação. Aconteceu durante a Segunda Convenção Feminina Nacional, reunião que as feministas da Federação convocaram em junho de 1934 para definir as estratégias políticas diante do quadro do país. Discutiram-se teses e planos de ação, mas também decidiu-se padronizar os rituais dos encontros feministas. As filiadas passaram a cantar um hino composto pela maestrina Joanídia Sodré, além de enfeitar as mesas com calêndulas de cor laranja.
Respeitar as escolhas estéticas das feministas da FBPF talvez pareça tolice, ou exagero de minúcias, mas hoje se reconhece que os grupos políticos se fortalecem com as experiências partilhadas e as lembranças dos rituais. Sem o saberem, as feministas da Federação cultivavam o que os grupos feministas atuais conhecem bem: o sentimento de pertencer a uma comunidade de eleição e de apoio.
Eis o refrão do hino da FBPF:
“Todas juntas na conquista
Deste novo e sagrado mister
Que é essência do ideal feminista,
Tudo à mulher, pela mulher!
[Origem: Boletim da FBPF, out.-nov./1934]