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A ameaça das datilógrafas

Na década de 1910, havia poucas alternativas de emprego para as mulheres. O Censo de 1920 mostrou que a maior parte das moradoras da Capital Federal trabalhava em casas de família, como cozinheiras, babás e lavadeiras. Em segundo lugar, havia as trabalhadoras do comércio, seguidas das trabalhadoras de confecções – as muitas costureiras e bordadeiras. Por fim, muitas trabalhavam nas fábricas têxteis da cidade. As profissionais do ensino, por sua vez, não passavam de 5.000 mulheres, embora ser professora fosse ofício de prestígio, ainda que mal remunerado (sempre foi). Uma diminuta porção das mulheres ativas no mercado de trabalho era de funcionárias do Estado. Ali estavam os empregos que todos cobiçavam, especialmente os homens.
Sabendo disso, a educadora Leolinda Daltro lutou para manter o Instituto Profissional Orsina da Fonseca, onde as moças podiam aprender um ofício, além das disciplinas básicas. A fim de que mais mulheres pudessem disputar postos nas repartições públicas, as alunas cursavam datilografia.

Alunas da Escola Orsina da Fonseca. [O Malho, 24/3/1917]

Alunas da Escola Orsina da Fonseca. [O Malho, 24/3/1917]


Vejam na reportagem abaixo, de outubro de 1911, como o avanço das datilógrafas nas repartições causava todo tipo de reação nos homens: desde a admiração à repulsa (especialmente daqueles que se sentiam atingidos pela competição).
"A Noite", 23/10/1911. Origem: Hemeroteca Digital Brasileira, disponível em

“A Noite”, 23/10/1911. Origem: Hemeroteca Digital Brasileira, disponível em


Quase uma década se passou e a presença das mulheres nas repartições cresceu. A imprensa continuou a cobrir o assunto com ironia e sarcasmo. A reportagem de A Noite enfatiza a dúvida sobre o uso dos atributos femininos: as mulheres estão no mundo do trabalho para seduzir (artifício?) ou para ganhar o pão (necessidade)? As ilustrações da Revista Feminina brincam com a moda dos cabelos curtos e a perturbadora mudança na atitude feminina. Quanto à datilógrafa, a passagem pela repartição é temporária. Seu objetivo mesmo é se casar, diz a revista.
Revista Feminina, n. 127, dez. 1924. Origem: Biblioteca Nacional.

Revista Feminina, n. 127, dez. 1924. Origem: Biblioteca Nacional.

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