Aspectos visuais na construção de bases de dados

De Cliomatica - Digital History
Tempo estimado de leitura deste artigo 22 minutos - por Tiago Gil


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Bancos de dados: um breve histórico do seu uso por historiadores (verbete sobre diversos historiadores que usaram bancos de dados em suas pesquisas, demonstrando algumas dos problemas enfrentados por eles)

Estrutura de dados e Modelos conceituais, lógicos e físicos (Artigos de caráter técnico que apresentam o vocabulário básico de criação de bancos de dados)

Aspectos visuais (Algumas notas sobre como bases visualmente claras podem ser úteis, além de dicas sobre como criar bases visualmente boas)

Bases centradas na fonte (Texto sobre bases de dados criadas com base em uma fonte histórica, como Registros de Batismos, cartas ou Inventários Post-Mortem)

Bases centradas no método (Texto sobre bases de dados criadas com base em um método ou problema de pesquisa, como aquelas focadas em indivíduos, famílias, redes, etc)

Uma base não precisa ser bonita, mas deve ser visualmente clara. É recomendável que ela tenha algum equilíbrio estético, pois vamos trabalhar muitas horas e dias com ela, e isso pode afetar nossa visão e nosso humor, o que não é pouca coisa. Não é simples discutir sobre os aspectos visuais de bases de dados sem fazer referência a um programa específico, já que isso varia conforme o software. Em pacotes comerciais, como Filemaker e Microsoft Access, essas opções são bastante acessíveis e o leque de cores, de formas, de contornos e de outros detalhes é muito grande. A situação é diferente para quem usa bases SQL. Ou o utilizador usa as formas normais da maioria dos programas, geralmente muito simples, ou precisa criar um formulário em linguagem de programação (PHP, CSS) que permite praticamente tudo, mas com um custo de tempo e esforço enorme. Mesmo com as dificuldades apontadas acima, atrevo-me a apresentar algumas sugestões para quem vai criar sua base, independentemente da plataforma escolhida. Vamos começar com as diferentes formas de ver os dados, passando para as cores, as formas e outros elementos.

Formas diferentes de visualizar dados

Ainda que isso varie de acordo com o programa utilizado, é muito comum diferenciarmos tabelas, formulários e listas. Atenção, caro leitor, para não ter dúvidas! Tabela aqui é diferente do que usamos até agora. Não é sinônimo de “entidade”, como aquele lugar onde guardamos conteúdos de diferentes tipos através de campos. É a imagem comum da tabela, uma forma de ver dados em que se usam linhas e colunas. Eles podem ter (e geralmente tem) relação direta com aquela outra tabela - a das entidades. Mas pode NÃO ter. Podemos criar uma tabela-visual para apresentar dados de diferentes tabelas-entidades, usando um relacionamento. Por isso, vou usar a expressão “tabela-visual”, como usarei formulário-visual e lista-visual, para que fique claro que estou falando das formas de exibir os conteúdos na tela do computador (ou na impressora), e não, o conjunto completo de dados.

ENTIDADEVISUAL.png


Exemplo de diferenciação entre tabelas "entidade" e tabelas "visuais"


Na imagem acima vemos que foram usadas três diferentes tabelas-entidade, cada uma com seus dados, para criar uma única tabela-visual. Porém nem todos os dados de cada tabela-entidade foram usados, apenas alguns. Isso mostra a diferença entre as duas. Se estivermos consultando uma base de dados, geralmente o que vemos são os registros dispostos na forma de uma tabela-visual ou de uma lista-visual. Eles podem mas não precisam exibir todos os dados da tabela-entidade. Outros podem ficar ocultos, disponíveis somente quando observarmos a ficha de um registro. Se estivermos abastecendo uma base com dados, temos o cenário oposto: geralmente começamos com o formulário-visual em branco, preenchemos os campos e só então poderemos ver esse registro em uma tabela-visual. Usamos esses recursos para facilitar nosso uso. Se todos os dados aparecerem em todos os registros de uma tabela-visual, a imagem será caótica e confusa, salvo se nosso banco tiver pouquíssimos campos, entre dois e dez, por exemplo, e nenhum deles é mais longo que 50 caracteres. Se algum for maior, ocupará muito espaço e será visualmente condenável.


FORMtabelavisual.png

Exemplo de formulário e Exemplo de tabela visual



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Assim, podemos estabelecer esta regra: na tabela-visual, exibimos apenas os dados que permitem identificar as coisas e separar os registros entre si. Deixamos os detalhes para os formulários-visuais, que também são usados para o preenchimento das fichas. Isso talvez não se aplique a tabelas-visuais com menos de oito campos curtos. Nesse caso, talvez seja mais fácil nem usar formulários: a tabela já exibe tudo o que importa. Se você gosta de imprimir, lembre-se das florestas, do lixo e das grandes corporações por trás das poluentes fábricas de celulose que destroem rios para clarear o papel. Se ainda assim quiser imprimir, talvez o mais inteligente seja criar listas-visuais, que apresentam poucos campos, apenas os essenciais para alguma finalidade. Vimos, pois, que convém elaborar tantos visuais quantos forem necessários para facilitar a consulta dos dados. Como a tabela-visual é diferente da tabela-entidade, poderemos ver seus dados de múltiplas maneiras. Essa é uma das grandes vantagens do modelo relacional. Em alguns programas, as tabelas-visuais têm conteúdos distribuídos de modo mais complexo, de tal maneira que possamos ter campos à direita e à esquerda de outros, como já esperávamos, mas também acima e abaixo de outros, como se tivéssemos “andares” de campos. Esse recurso pode ser útil em alguns visuais. Podemos, por exemplo, colocar os nomes dos pais do noivo acima do campo “noivo” e os nomes dos pais da noiva acima do campo “noiva”, em um registro que informa casamentos. Também podemos ter um registro com três “andares”, de tal modo que tenhamos de cima para baixo, em um registro de batismo, a data do batismo, a data do nascimento e o número de dias entre a primeira e a segunda, como se fosse uma subtração matemática mesmo, apresentada com clareza. Se você achar exagerado que as linhas de sua tabela tenham “andares”, pode guardar essas funcionalidades para os formulários. Mas pode ser vantajoso.


Andares.png

Figura 16 - Exemplo de tabela-visual com "andares"


Cores

Mesmo que saibamos que o vermelho é sempre mais bonito do que o azul, parece-me conveniente escolher esta última cor para o pano de fundo da base. Para ser mais preciso, eu usaria um tom claro de azul, com a medida RGB 244,244,255. Essa cor tem algumas qualidades: quebra o fundo branco, que pode ofuscar quem trabalha por muitas horas, especialmente em monitores muito iluminados, mas não é escura o suficiente para atrapalhar a leitura. É uma cor associada à tranquilidade, ao mar, à vastidão do céu, entre outras coisas que você não verá durante seu trabalho na base. Testei muito com outras cores e não tive resultados melhores. Convém usar as cores como aliadas na criação dos visuais, tanto formulários quanto tabelas. Se usarmos aquele azul clarinho, que indiquei acima para uma tabela, devemos intercalar as linhas das tabelas usando outra cor - eu diria o branco - para facilitar a observação. Isso é melhor do que usar contornos, que poluem tanto quanto o excesso de campos visíveis. Da mesma forma, nos formulários, convém usar diferentes tons de azul, como aquele, e o mesmo branco para certos campos. Isso ajuda a “disciplinar o olho” na tela, de tal maneira que possamos acelerar a identificação de dados e, até, encontrar coisas fora do lugar com maior facilidade. Como queremos usar as cores como aliadas nesse processo de disciplinar o olho, podemos usar outras gamas, preferencialmente se forem claras. Não convém usar amarelo, tem efeito pior do que o branco. Recomendo usar rosa-claro, verde-claro (RGB 244,255,244), laranja-claro e marrom-claro. Mas é importante ter cuidado para não abusar e transformar a base num programa infantil. Isso vai criar um efeito de confusão e pode atrapalhar a observação dos dados. Parece mais prudente usar as cores somente em campos muito específicos, para destacar certas informações. De resto, um fundo azul-claro, com campos com a cor branca, usando um contorno cinza-escuro parece uma pedida melhor. Quem quiser experimentar, recomenda-se reflexão sobre as horas que ficará na frente da tela. Quem não quiser, já tem aí uma sugestão bem clara.


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Formas

Há dois problemas que envolvem as formas. O primeiro diz respeito ao tamanho da tela do computador. Poucos softwares permitem o ajuste automático da tela. E disso desdobram-se dois outros problemas: a conveniência de ter uma tela grande para poder ver mais coisas ao mesmo tempo (o que é ótimo) e a inconveniência causada pelo fato de os outros usuários terem outro tamanho de tela. É difícil agradar a todos nesse quesito. Todavia, é importante pensar no universo de monitores disponíveis e nos formatos de tela utilizados (1280 X800; 800 X 600; etc). Este último dado é o que mais interessa, pois é o tamanho real em pixels que importa na maioria dos programas, e não, em polegadas (como são medidos os monitores). Convém deixar uma margem para evitar diferenças muito grandes, tal como uma base que não pode ser vista em alguns monitores por falta de tela. O outro problema é a organização dos campos dentro da tela. Aqui vale a mesma coisa dita sobre as cores: convém usar, mas não convém abusar. É importante distribuir os campos como quem desenha a planta de uma casa. Os moradores precisam achar as coisas e os usuários precisam encontrar os campos que procuram. É importante distribuir os campos por critérios claros, temáticos, por exemplo, ou por tipo de dado. Se criamos uma base source-oriented, baseada na fonte, então o melhor, me parece, é tentar reproduzir o melhor possível a própria ordem da fonte. Vejamos como ficaria isso em um formulário-visual quase anedótico, mas igualmente válido:


Baseadonafonte.png

Figura 18 - Exemplo de formulário baseado na ordem da fonte

É certo que o texto varia e que não precisamos exagerar na adequação do formulário à fonte. Mas convém colocar os campos na ordem das informações, pelo menos na coleta dos dados. Para a análise, podemos criar outros visuais, feitos segundo outros critérios.


Referências



Citação deste verbete
Como citar: GIL, Tiago. "Aspectos visuais na construção de bases de dados". In: CLIOMATICA - Portal de História Digital e Pesquisa. Disponível em: http://lhs.unb.br/cliomatica/index.php/Aspectos_visuais_na_constru%C3%A7%C3%A3o_de_bases_de_dados. Data de acesso: 1 de junho de 2024.






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