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Bases centradas na fonte

De Cliomatica - Digital History

{{Verbete|nome=Tiago|sobrenome=Gil|verbete= Esse é o tipo preferido de grandes nomes, como Manfred Thaller e Alan Macfarlane. Ambos adotaram como padrão de trabalho uma espécie de transcrição estruturada, através da qual o documento era transcrito normalmente, mas certos fragmentos, palavras, números e datas, eram rotulados para que o computador pudesse processá-los. O mesmo também é defendido por Carvalho, que disse que "os melhores métodos de entrada de dados oriundos de fontes históricas são aqueles que preservam a estrutura original da informação". Usando desse recurso ou não, precisamos criar tabelas e campos para transformar nossos papéis velhos em bytes. Vejamos alguns exemplos. Registros de batismo Comecemos com uma fonte bastante tradicional nas aplicações informatizadas: os registros de batismo. Sei que os mais antigos conservados são de algumas cidades italianas e que podemos encontrá-los em toda a Europa, na África e na América. Como vou trabalhar com essa fonte, li vários artigos e livros sobre o uso que fizeram dela e das variações possíveis (ou, pelo, menos as mais comuns) em seu formato. Sei que há vasta metodologia desenvolvida para sua análise e que elas podem se revelar úteis em algum momento da pesquisa, pois minha pergunta inicial pode se revelar insuficiente e demandar outras abordagens não previstas inicialmente. Para tanto, precisarei adequar a pesquisa. Quando isso acontecer, será bom ter preparado a base de maneira a prever algumas possibilidades. Isso não significa criar uma base para tudo, mas desmontar de tal modo que os dados dos batismos possam ser remontados de diversos modos e não apenas da forma originalmente pensada. Vamos pensar na forma como os registros estão dispostos. Sempre serão na forma de livros, não apenas pelo fato de isso ser comum, mas porque há uma demanda oficial através de normativas internas da Igreja, que não vou explorar aqui. Todos os arquivos têm volumes onde ficam registrados os batismos que couberam ali. O número de registros de batismo possível em cada tomo é n. Não há mínimo ou máximo. Eles não têm divisão interna estabelecida. Os batismos geralmente são listados na ordem cronológica, um após o outro. É possível encontrar divisões em alguns casos, como metade do livro para pessoas livres e a outra metade para escravos, em sociedades escravistas. Há, igualmente, separação para indígenas. Mas são especificidades de alguns exemplares e não regras da fonte. Precisamos, contudo, considerar esta possibilidade e saber incluir isso no nosso modelo conceitual. Mesmo que os registros estejam dentro de livros, eles se constituem em uma série. Os livros são o suporte para que a série exista e fique organizada, mas se fosse possível ter um livro infinito, ele teria todos os registros. Assim, o livro é importante, mas não é central. O centro das atenções está no registro propriamente dito que tem uma estrutura interna relativamente regular. É comum que comece com a data, que fale imediatamente o nome do batizando com sua legitimidade, e os responsáveis por ela, seus pais. Pode mencionar os avós, mas, nem sempre, isso ocorre. Ele informa os padrinhos e acaba com a assinatura do padre. É comum que sejam acrescidas observações sobre cada um dos participantes, especialmente sobre o estatuto das pessoas, a residência, a naturalidade e o local do batizado. Observando a descrição acima, sabemos que há elementos constantes e esperados, como o nome do batizando, dos pais e dos padrinhos. Seria igualmente esperada a informação sobre os avós, mas ela não é tão regular. Há ainda conteúdos completamente irregulares, que podem ou não ser mencionados para alguns (e não, para todos) dentro de um mesmo registro. Pode haver duas informações de qualidade diferente ("filho do capitão" nos diz de quem é filho e que o pai é capitão) para um único participante e nenhuma para os demais. Por ter visto muitos registros, sei que é possível que os batizados aconteçam em um lugar diferente da Igreja Matriz, como em uma propriedade agrária ou na casa de alguém. Da mesma maneira, a criança pode ter sido batizada in extremis, por temor de sua morte, mas sobrevivido para ter com o padre e receber os santos óleos posteriormente. O padre pode ser um e a pessoa que batiza, outra, assim como o batismo pode ser dado por um padre e o registro ser feito por outro. Podemos começar nosso trabalho. Tomamos o papel e anotamos todas essas observações. Sabemos também o volume que vamos abordar - se um, dois ou três livros, por exemplo. Contamos que cada página tem, em média, quatro registros e que os três volumes que vamos usar tem, somados, 650 páginas. Isso nos permite estimar a grandeza do número de registros: uns 2600. Tendo isso apontado, podemos seguir em frente. O passo seguinte é pensar sobre quantas tabelas serão necessárias. Pelo que foi dito até aqui, quantas você, leitor, pensaria? Eu diria que, pelos menos, três: uma para registrar os livros, outra, a mais importante, para registrar os batismos, e uma terceira para registrar as informações irregulares sobre os participantes do batismo, sua condição social, seu estatuto, sua residência, etc. Elas merecem, em minha opinião, uma tabela separada e relacionada com a dos batismos. Vejamos:


TABELA "LIVROS" ----> TABELA "BATISMOS" ----> TABELA "DETALHES"

Criamos tabelas quando os fragmentos que identificamos em nossos materiais têm relevância e especificidades suficientes para ganhar um espaço exclusivo feito sob medida. Vamos pensar, agora, nos campos de cada uma das tabelas, começando pela de “livros”. O primeiro campo que sempre devemos criar é o “código”, um campo que vai identificar inequivocamente cada registro, nesse caso, cada livro. Alguns usam a expressão “Identificador” ou “ID”. Há quem use “Matrícula”. Eu prefiro chamar de “código”, especialmente pelo fato de que ali será inserido um código alfanumérico que será facilmente identificado como uma fonte. No caso dos batismos, eu faria algo como “SAnt_bat_001” para identificar o livro de batismos número 1 da Paróquia de Santo Antônio. Os programadores chamam esse tipo de campo de “chave primária”. Depois, veremos que os registros de batismos desse mesmo livro terão também esse rótulo, acrescido da página e da ordem do registro dentro dela. O campo seguinte é o nome da paróquia, um campo de texto; o próximo é o número do volume, e o seguinte, um campo de texto para informar o ano inicial e o final do tomo. É também importante fazer um campo para informar o número de registros total desse livro, assim como o de páginas. Eu ainda faria um campo para a abertura do livro (isso é feito, quase sempre, na primeira folha) e outro para seu “fechamento” (fica na última). Acabaria com um campo de observações. Talvez seja o caso de criar um campo para o nome do volume, pois, em algumas vezes são identificados com um título como “Livros dos Pretos da Candelária”. Assim, temos:


CAMPO TIPO OBS
Código_livro* Texto (chave primária) Máximo de 12 caracteres
Paróquia Texto Livre
Número do livro Número Máximo de 3 caracteres
Data inicial Data (ou texto) AAAA
Data final Data (ou texto) AAAA
Total de registros Número Máximo de 5 caracteres
Total de páginas Número Máximo de 4 caracteres
Abertura Texto Livre
Fechamento Texto Livre
Observações Texto Livre