Ações

(depoimento em 1787 - Antonio da Silva Barros)

De Atlas Digital da América Lusa

Edição feita às 11h11min de 14 de janeiro de 2013 por Tiagogil (disc | contribs)

(dif) ← Versão anterior | ver versão atual (dif) | Versão posterior → (dif)

(depoimento em 1787 - Antonio da Silva Barros)

Geometria

Antonio da Silva Barros, morador no Rio do Sino, e que vive de suas lavouras informa o seguinte.

Que sabe que o capitão Manuel José de Alencastre estivera por duas vezes preso nesta vila de Porto Alegre a primeira por ordem do capitão Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães, e a segunda por representação do mesmo Custódio Ferreira, que a cauza da primeira, ele informante ignora, e que ouvira dizer a diversas pessoas dignas de crédito vizinhos do dito capitão Custódio Ferreira que a segunda prisão tivera por motivo umas dúvidas que houveram entre Manuel José de Oliveira, e um preto por nome Manuel escravo do capitão Alencastre, cujo escravo querendo apartar um terneiro que pertencia a seu senhor, e que se achava no rodeio do capitão Custódio Ferreira, lho embaraçou o dito Manuel José de Oliveira, dizendo ao preto que [p. 343] não aprendesse a ser ladrão com seu senhor, e por que o dito preto quis defender o crédito de seu senhor, procuraram maltratá-lo, e ultimamente prendê-lo, mas o preto defendendo-se fugira para a casa do seu senhor, aonde passados alguns dias, o quiseram novamente prender em um rodeio, e porque também o dito escravo escapou nesta ocasião e seu senhor o capitão Alencastre não o quis entregar, lhe resultou a segunda prisão que fica dito: que sabe que entre os ditos capitães Custódio Ferreira e Manuel José de Alencastre há uma grande inimizade sendo a causa primeira querer o capitão Custódio Ferreira que o capitão Alencastre casasse na mesma família, e porque o capitão Alencastre o fez em outra, se desgostara: que sabe que o capitão Custódio Ferreira por paixões particulares prendia em sua casa e soltava aos moradores do seu distrito valendo-se para isso da autoridade do seu comando, e de falsas faltas de serviço: que sabe por ser voz pública e constante que o dito capitão Custódio Ferreira por ter a inspeção de registrar as tropas para obviar os contrabandos, costuma confiscar alguns animais dos quais depois se utilizava vendendo-as, e que isto fazia principalmente aos que não lhe compravam os animais da sua estância, e que ele informante ouvira dizer a um Raimundo de tal capataz de uma tropa de Antonio Machado, que chegando ele dito capataz a Estância do Capitão Custódio Ferreira montado em uma mula que havia [p. 343v] com a marca do confisco e também contrato do tempo do capitão Mor Manuel Bento da Rocha, o dito capitão Custódio Ferreira lhe confiscara dizendo por ser de contrabando; mas que passados poucos dias, ele mesmo capataz Raimundo vira passar a própria mula carregada, e que perguntando a quem conduzia a dita mula por que título ela lhe pertencia, lhe respondera que a tinha comprado ao capitão Custódio Ferreira: que sabe por ter ouvido dizer, que por ordem do Provedor da Real Fazenda confiscara o meirinho da Provedoria em certa ocasião uma porção de Bestas de contrabando nos potreiros do capitão Custódio Ferreira, não obstante ter o dito capitão a inspeção de obviar os contrabandos: que sabe que o capitão Custódio Ferreira costumava descompor, ultrajar, e até prender com falsos pretextos aos que eram seus credores, e lhe pediam seu pagamento de obras feitas para a sua casa, e trabalhos nas suas fazendas como sucedeu ao sapateiro Manuel Antunes que por lhe pedir o que lhe devia o perseguiu, e com tal modo, que se viu constrangido o dito sapateiro a retirar-se para a freguesia de Santo Antonio da guarda velha, aonde não lhe escapou porque dai veio preso e remetido para a vila de São Pedro do Rio Grande: que sabe que um Antonio Pinto, por algumas violências que lhe fizera o dito Custódio Ferreira, vendera as terras que possuía e se mudara para outro Distrito: que [p. 344] sabe que o capitão Custódio Ferreira viera a esta vila de Porto Alegre jurar na última correição contra o capitão Manuel José de Alencastre para evitar o seu precipício, arrendara as suas fazendas e se retirara para a freguesia do Triunfo, e deixando ali a sua família, se passou a cidade do Rio de Janeiro: que sabe por ser voz pública e constante que o capitão Evaristo Pinto Bandeira, irmão do coronel Rafael Pinto Bandeira era costumado a conduzir animais de contrabando fazendo-os passar nos Registros, ou por passos que abria nas vizinhanças do dito Registro: que sabe que falecendo Antonio de Souza de Oliveira, não declarara no seu testamento um filho que tinha por nome Jacinto Nunes de Oliveira, havido de uma mulher livre, deixando por sua herdeira a sua sobrinha casada com o capitão Bernardo José Pereira, e irmã do coronel Rafael Pinto Bandeira, e que querendo o dito Jacinto Nunes de Oliveira anular o testamento, e o opor-se contra um cunhado do coronel Rafael Pinto Bandeira, de quem tinham grandíssimo temor que sabe que vindo a este continente José Bernardes a fazer uma tropa de bestas, lhe vendera o coronel Rafael Pinto Bandeira uma porção grande de bestas de contrabando segurando o dito coronel ao tropeiro que havia de passar [p. 344v] passar livres, o que não que não sucedeu assim, porque foram confiscadas pela fazenda Real; que sabe que o dito coronel Rafael Pinto Bandeira vendera em outra ocasião porção bastante de bestas de contrabando a um tropeiro por nome João José, que as passou para as minas gerais. E de tudo o mais que foi perguntado por mim coronel comandante deste continente, respondeu que nada sabia, e para constar assinou comigo coronel comandante, em Porto Alegre aos vinte e quatro de novembro de mil setecentos e oitenta e sete.

Joaquim José Ribeiro da Costa Antonio da Silva Barros


Ficha técnica da Fonte
Autor: diversos
Data: 1787.
Referência: Códice 104. Volume 09. Secretaria do Estado do Brasil.
Acervo: Arquivo Nacional.
Transcrição: Tiago Luís Gil.
link principal no BiblioAtlas: Devassa_de_1787