Ações

(depoimento em 1787 - Manuel Carvalho de Souza)

De Atlas Digital da América Lusa

(depoimento em 1787 - Manuel Carvalho de Souza)

Geometria

[p. 350]Manuel Carvalho de Souza, tenente de Dragões e comandante da freguesia do Triunfo, informa o seguinte.

Que sabe ter estado preso por duas vezes nesta vila e Porto Alegre o capitão Manuel José de Alencastre por ordem e representação do capitão Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães: que ele informante ignora o motivo da primeira prisão e que fora voz constante e ele informante ouvira dizer a pessoas dignas de crédito que a segunda prisão fora pelo motivo de querer um escravo do capitão Alencastre apartar do rodeio do capitão Custódio Ferreira um terneiro que dizia o dito escravo pertencer a seu senhor e porque duvidaram em consentir na dita apartação moveram-se algumas dúvidas maiores, pelas quais quiseram prender o dito escravo, o qual fugindo, se recolheu a casa de seu senhor, e porque este duvidou entregar o escravo se lhe seguiu a segunda prisão que sabe que em certo tempo, que pudera ter decorrido dois para três anos o capitão Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães confiscara, digo, mandara prender a um filho de um capitão fulano Carneiro morador em Curitiba mas que ele informante não sabe a causa porque mandara proceder a dita prisão , e só sabe que não se efetuando esta, por fugir o dito filho do capitão Carneiro, fizera o capitão Custódio Ferreira apreensão nos cavalos do dito fugitivo, e mandando-os marcar [p. 350v] com a sua marca os mandara conduzir para uma estância que tem no outro lado de Camaquã, o que não se efetuou porquanto encontrando-os em caminho o fugitivo dono deles e vendo-os marcados com a marca do dito capitão Custódio Ferreira, quando os supunha confiscados para a Real Fazenda, se resolveu a tirá-los do poder do condutor e assim o pôs em execução: que sabe que alguns moradores do distrito do capitão Custódio Ferreira se tem mudado daquele lugar, declarando que o fazem por se livrarem dos vexames que lhes causara o dito Capitão Custódio Ferreira, sendo um dos mudados um Tomás Francisco Garcia, o qual fizera a ele informante a mesma declaração suposto que não declarou quais eram os vexames que havia sofrido: que sabe que o capitão Custódio Ferreira viera a este Porto Alegre jurar na última correição contra o capitão Manuel José de Alencastre, e que ouvira dizer trouxera em sua companhia as testemunhas em quem havia de referir que sabe que o capitão Manuel José de Alencastre para evitar o seu precipício e desviar as continuadas desordens que com ele tinha o capitão Custódio Ferreira de Oliveira Guimarães, arrendara as suas fazendas e retirando-se com a sua família para a freguesia do Triunfo, dai se passara para a cidade do Rio de Janeiro: que sabe que andando na diligência de obviar os contrabandos [p. 351] o alferes de Regimento de Dragões Bernardo José Alves, por ordem do coronel Gaspar José de Matos Ferreira e Lucena, e tendo noticia o dito alferes que na estância do capitão Evaristo Pinto Bandeira estavam alguns animais de contrabando se encaminhara àquele lugar aonde fizera apreensão nos ditos, mas que não os conduzira por lho impedir o dito capitão Evaristo Pinto Bandeira, e que fora voz constante ter vindo com armas ofensivas, desatendendo ao dito alferes de Dragões com palavras pouco decentes, o que mesmo alferes sofreu em atenção a ser aquele capitão irmão do coronel Rafael Pinto Bandeira, comandante que era deste continente naquele tempo, e que por esta mesma atenção faltava o sobredito alferes na obrigação que tinha de se opor aquele capitão, e conduzi-lo preso cuja confissão fizera o mesmo alferes a ele informante que é voz constante que o capitão Evaristo Pinto Bandeira se interessava e fazia negócios de contrabando. E de tudo o mais que foi perguntado por mim coronel comandante deste continente disse nada sabia, e para constar assinou comigo coronel comandante em Porto Alegre no primeiro de dezembro de mil setecentos e oitenta e sete.

Ficha técnica da Fonte
Autor: diversos
Data: 1787.
Referência: Códice 104. Volume 09. Secretaria do Estado do Brasil.
Acervo: Arquivo Nacional.
Transcrição: Tiago Luís Gil.
link principal no BiblioAtlas: Devassa_de_1787