Ações

Aldeia de Abauçanga

De Atlas Digital da América Lusa

(Diferença entre revisões)
(Criou página com '{{Verbete |nome=Gustavo |sobrenome=GODOY |verbete=Foi uma aldeia tamoia, surgida no contexto posterior à conquista da Guanabara pelos portugueses e temiminós. Essa gente che...')
 
Linha 4: Linha 4:
 
|verbete=Foi uma aldeia tamoia, surgida no contexto posterior à conquista da Guanabara pelos portugueses e temiminós. Essa gente chefiada por Abauçanga – inicialmente 40-50 pessoas – foi fugindo dos ataques, estabelecendo-se em cavernas, até chegarem na região onde se localizavam os goitacases [''Wataquazes''], com quem tinha relações conflituosas. Esse grupo tamoio instalou-se nas bordas da Serra de Macaé (designada então de “morada de Abauçanga”), numa aldeia próxima ao mar. A expedição de Gonçalo Correia de Sá contra os os goitacases, no ano de 1599, acabou por encontrá-la no meio do caminho. Nesta época a aldeia contava com aproximadamente 500 habitantes, e as informações disponíveis estão em Anthony Knivet<ref>''The admirable adventures and strange fortunes of Master Antonie Knivet''. - Glasgow: James McLehose and Sons, 1906. pp. 227-8 e 253-4. Cf. http://biblio.etnolinguistica.org/autor:anthony-knivet </ref>, que era escravo da família Sá.  
 
|verbete=Foi uma aldeia tamoia, surgida no contexto posterior à conquista da Guanabara pelos portugueses e temiminós. Essa gente chefiada por Abauçanga – inicialmente 40-50 pessoas – foi fugindo dos ataques, estabelecendo-se em cavernas, até chegarem na região onde se localizavam os goitacases [''Wataquazes''], com quem tinha relações conflituosas. Esse grupo tamoio instalou-se nas bordas da Serra de Macaé (designada então de “morada de Abauçanga”), numa aldeia próxima ao mar. A expedição de Gonçalo Correia de Sá contra os os goitacases, no ano de 1599, acabou por encontrá-la no meio do caminho. Nesta época a aldeia contava com aproximadamente 500 habitantes, e as informações disponíveis estão em Anthony Knivet<ref>''The admirable adventures and strange fortunes of Master Antonie Knivet''. - Glasgow: James McLehose and Sons, 1906. pp. 227-8 e 253-4. Cf. http://biblio.etnolinguistica.org/autor:anthony-knivet </ref>, que era escravo da família Sá.  
 
 
Knivet relata a chegada da expedição na grande montanha “Abausanga retam”. Tal palavra que é a composição do nome do principal da aldeia, o ancião '''Abausanga''' + a palavra '''etama (t-)''': “Natureza, onde hum mora. — Tetama.” (Vocabulário na Língua Brasílica). <ref>Segundo hipótese de Edelweiss (1969: http://biblio.etnolinguistica.org/edelweiss-1969-69-108 ), no dialeto tupinambá (os tamoios seriam uma subdivisão dos tupinambás) por vezes cai o ['''a'''] final, teríamos então ''etã''' ou '''etam'''.</ref> A composição a palavra resultante é '''Abausanga retam''' - que significa: “a região/a morada de Abauçanga”. Esta seria uma montanha que Sheila Moura Hue identifica<ref>Em notas e mapa da edição obra de Knivet pela Zahar (2008). pp. 28 e p.30, n.30, que. Ver. O relato das pp.130-2 e 181-3. Sem explicação ela flexiona o nome da aldeia no passado ('''-mbûera''').</ref> como sendo a Serra de Macaé, a aldeia ficava a beira mar, na base da montanha.
+
Knivet relata a chegada da expedição na grande montanha “Abausanga retam”. Tal palavra que é a composição do nome do principal da aldeia, o ancião '''Abausanga''' + a palavra '''etama (t-)''': “Natureza, onde hum mora. — Tetama.” (Vocabulário na Língua Brasílica). <ref>Segundo hipótese de Edelweiss (1969: http://biblio.etnolinguistica.org/edelweiss-1969-69-108 ), no dialeto tupinambá (os tamoios seriam uma subdivisão dos tupinambás) por vezes cai o ['''a'''] final, teríamos então ''etã''' ou '''etam'''.</ref> A composição a palavra resultante é '''Abausanga retam''' - que significa: “a região/a morada de Abauçanga”. Esta seria uma montanha que Sheila Moura Hue identifica<ref>Em notas e mapa da edição obra de Knivet pela Zahar (2008). pp. 28 e p.30, n.30, que. Ver. O relato das pp.130-2 e 181-3. Sem explicação, Teodoro Sampaio (1914: 386) flexiona o nome da aldeia no passado ('''-mbûera''').</ref> como sendo a Serra de Macaé, a aldeia ficava a beira mar, na base da montanha.
 
 
 
O ancião Abauçanga teria 120 anos, fato que Knivet teria entendido por meio de sinais. Ele e 60 jovens de sua região foram capturados pela “bandeira” contra os goiatacases que Knivet participava, no ano de 1599. O '''morubixaba''' e acabou morrendo flechado logo em seguida num confronto com goitacases, que eram outro alvo da expedição e que os tamoios ajudaram a alcançar. Devido ao fato de franceses já terem lhe contado sobre a existência de um deus que seria salvador, quis se batizar – recebendo o nome João - e acreditar em alguns ensinamentos cristãos ensinados por ocasião de sua futura morte.
 
O ancião Abauçanga teria 120 anos, fato que Knivet teria entendido por meio de sinais. Ele e 60 jovens de sua região foram capturados pela “bandeira” contra os goiatacases que Knivet participava, no ano de 1599. O '''morubixaba''' e acabou morrendo flechado logo em seguida num confronto com goitacases, que eram outro alvo da expedição e que os tamoios ajudaram a alcançar. Devido ao fato de franceses já terem lhe contado sobre a existência de um deus que seria salvador, quis se batizar – recebendo o nome João - e acreditar em alguns ensinamentos cristãos ensinados por ocasião de sua futura morte.

Edição de 10h22min de 11 de setembro de 2013

por Gustavo GODOY


Foi uma aldeia tamoia, surgida no contexto posterior à conquista da Guanabara pelos portugueses e temiminós. Essa gente chefiada por Abauçanga – inicialmente 40-50 pessoas – foi fugindo dos ataques, estabelecendo-se em cavernas, até chegarem na região onde se localizavam os goitacases [Wataquazes], com quem tinha relações conflituosas. Esse grupo tamoio instalou-se nas bordas da Serra de Macaé (designada então de “morada de Abauçanga”), numa aldeia próxima ao mar. A expedição de Gonçalo Correia de Sá contra os os goitacases, no ano de 1599, acabou por encontrá-la no meio do caminho. Nesta época a aldeia contava com aproximadamente 500 habitantes, e as informações disponíveis estão em Anthony Knivet[1], que era escravo da família Sá.

Knivet relata a chegada da expedição na grande montanha “Abausanga retam”. Tal palavra que é a composição do nome do principal da aldeia, o ancião Abausanga + a palavra etama (t-): “Natureza, onde hum mora. — Tetama.” (Vocabulário na Língua Brasílica). [2] A composição a palavra resultante é Abausanga retam - que significa: “a região/a morada de Abauçanga”. Esta seria uma montanha que Sheila Moura Hue identifica[3] como sendo a Serra de Macaé, a aldeia ficava a beira mar, na base da montanha.

O ancião Abauçanga teria 120 anos, fato que Knivet teria entendido por meio de sinais. Ele e 60 jovens de sua região foram capturados pela “bandeira” contra os goiatacases que Knivet participava, no ano de 1599. O morubixaba e acabou morrendo flechado logo em seguida num confronto com goitacases, que eram outro alvo da expedição e que os tamoios ajudaram a alcançar. Devido ao fato de franceses já terem lhe contado sobre a existência de um deus que seria salvador, quis se batizar – recebendo o nome João - e acreditar em alguns ensinamentos cristãos ensinados por ocasião de sua futura morte.

Na edição da Duke University Press de 2008 do livro de H. Staden [4], alega-se que “Abausanga” seria o chefe Abati posanga que o arcabuzeiro de Hessen conhecera anos antes. Mas o nome do morubixaba que Knivet relata pode não coincidir com o outro chefe tamoios conhecido por Staden.


Referências

  1. The admirable adventures and strange fortunes of Master Antonie Knivet. - Glasgow: James McLehose and Sons, 1906. pp. 227-8 e 253-4. Cf. http://biblio.etnolinguistica.org/autor:anthony-knivet
  2. Segundo hipótese de Edelweiss (1969: http://biblio.etnolinguistica.org/edelweiss-1969-69-108 ), no dialeto tupinambá (os tamoios seriam uma subdivisão dos tupinambás) por vezes cai o ['a] final, teríamos então etã ou etam.
  3. Em notas e mapa da edição obra de Knivet pela Zahar (2008). pp. 28 e p.30, n.30, que. Ver. O relato das pp.130-2 e 181-3. Sem explicação, Teodoro Sampaio (1914: 386) flexiona o nome da aldeia no passado (-mbûera).
  4. Hans Staden’s True History: An Account of Cannibal Captivity in Brazil. Editado e traduzido por Neil L. Whitehead e Michael Harbsmeier. Parcialmente disponível em: http://books.google.com.br/books?id=WJljy1yQ6mUC&lpg=PA176&ots=RA_MnIpgP0&dq=abausanga&hl=pt-BR&pg=PA177#v=onepage&q=abbati&f=false



Citação deste verbete
Autor do verbete: Gustavo GODOY
Como citar: GODOY, Gustavo. "Aldeia de Abauçanga". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Aldeia_de_Abau%C3%A7anga. Data de acesso: 29 de março de 2024.



Baixe a referência bibliográfica deste verbete usando

BiblioAtlas recomenda o ZOTERO

(clique aqui para saber mais)

Informar erro nesta página