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Aldeia de Jabebiracica

De Atlas Digital da América Lusa

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Na ''Carta factícia''<ref>''La France Antactique Autrement le Rio de Janeiro, Tirée des Voyages que Villegagnon et Jean de Leri ont faits au Bresil les Années 1557 et 1558.</ref> está grafada como ''Yaboraci at. Pepin'':
 
Na ''Carta factícia''<ref>''La France Antactique Autrement le Rio de Janeiro, Tirée des Voyages que Villegagnon et Jean de Leri ont faits au Bresil les Années 1557 et 1558.</ref> está grafada como ''Yaboraci at. Pepin'':
  
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Depois da expulsão dos tamoios, da instalação e da cidade de São Sebastião e sua posterior transferência, os temiminós chefiados por '''Araryboîa''' (Martim Afonso de Sousa) que participaram da conquista da Guanabara, instalaram-se num primeiro momento “no sopé do outeiro em que se instalou a urbe [o morro do Castelo]”<ref>Abreu, Maurício de Almeida. ''Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700'' Volume 1. -Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda. & Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010: 168-9, n.425. cf. A Carta de sesmaria de chãos de de Manoel de Brito  (22/07/1568 http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5270), a de Aires Fernandes Vitória (12/05/1569: http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5280) e a de Nuno Tavares (11/09/1573: http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5290). </ref>. Em 1568, os temiminós se deslocam, então, para terras apropriadas pelos jesuítas e constroem uma grande aldeia, próxima foz do rio Comprido onde há uma enseada <ref> Tal enseada foi psoteriormente desfigurada e aterrada, mas corresponde aproximadamente a esta localização: http://goo.gl/maps/NvtfW , lá havia a entrada de um mangue (chamada posteriormente de saco ou mangal de São Diogo, devido a uma ermida dedicada ao santo), transformado num monótono canal.</ref>,  local chamado “Gebiracica” <ref>''ib''.:169, 214.</ref>, nas proximidade de onde se localizava a aldeia tamoia de Jabebiracica. Ainda neste mesmo ano, os tamoios de cabo Frio persuadiram os franceses a entrarem com eles na baía para atacar '''Araryboîa''', nessa aldeia mas não tiveram sucesso <ref>''ib''. 2010:169-70, citando S. de Vasconcelos </ref>. Algum tempo depois na aldeia, foi erguida uma ermida dedicada a São Lourenço <ref>''ib''.: 170, n. 430.</ref>. No mapa de Luiz Teixeira (ca. 1574) <ref>em ''Roteiros de todos os Sinais, Conhecimentos, Fundos, Baixos, Alturas e Derrotas que há na costa do Brasil, desd'o Cabo Santo Agostinho até o Estreito de Fernão de Magalhães.</ref>, observamos que ao noroeste da “cidade de S. Sebastiam,” na margem esquerda do “R. Iububuracica”, nas proximidades de terras identificadas com sendo de Manoel de Brito, está a “Aldeia do Martinho” – como indica.
 
  
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Depois da expulsão dos tamoios, da instalação da cidade de São Sebastião e sua posterior transferência, os temiminós chefiados por '''Araryboîa''' (Martim Afonso de Sousa) que participaram da conquista da Guanabara, instalaram-se num primeiro momento “no sopé do outeiro em que se instalou a urbe [o morro do Castelo]”<ref>Abreu, Maurício de Almeida. ''Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700'' Volume 1. -Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda. & Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010: 168-9, n.425. cf. A Carta de sesmaria de chãos de de Manoel de Brito  (22/07/1568 http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5270), a de Aires Fernandes Vitória (12/05/1569: http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5280) e a de Nuno Tavares (11/09/1573: http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5290). </ref>. Em 1568, os temiminós se deslocam, então, para terras apropriadas pelos jesuítas e constroem uma grande aldeia, próxima foz do rio Comprido onde há uma enseada <ref> Tal enseada foi psoteriormente desfigurada e aterrada, mas corresponde aproximadamente a esta localização: http://goo.gl/maps/NvtfW , lá havia a entrada de um mangue (chamada posteriormente de saco ou mangal de São Diogo, devido a uma ermida dedicada ao santo), transformado num monótono canal.</ref>,  local chamado “Gebiracica” <ref>''ib''.:169, 214.</ref>, nas proximidade de onde se localizava a aldeia tamoia de Jabebiracica. Ainda neste mesmo ano, os tamoios de cabo Frio persuadiram os franceses a entrarem com eles na baía para atacar '''Araryboîa''', nessa aldeia mas não tiveram sucesso <ref>''ib''. 2010:169-70, citando S. de Vasconcelos </ref>. Algum tempo depois na aldeia, foi erguida uma ermida dedicada a São Lourenço <ref>''ib''.: 170, n. 430.</ref>. No mapa de Luiz Teixeira (ca. 1574) <ref>em ''Roteiros de todos os Sinais, Conhecimentos, Fundos, Baixos, Alturas e Derrotas que há na costa do Brasil, desd'o Cabo Santo Agostinho até o Estreito de Fernão de Magalhães.</ref>, observamos que ao noroeste da “cidade de S. Sebastiam,” na margem esquerda do “R. Iububuracica”, nas proximidades de terras identificadas com sendo de Manoel de Brito, está a “Aldeia do Martinho” – como indica.
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No mapa de Vau de Claye (1579)<ref>''Levrai pourtraict de Geneure et du Cap de Frie par Jacques de Vau de Claye''.</ref> , há a legenda ''Araroue'', que designaria o chefe '''Araryboîa'''.
 
No mapa de Vau de Claye (1579)<ref>''Levrai pourtraict de Geneure et du Cap de Frie par Jacques de Vau de Claye''.</ref> , há a legenda ''Araroue'', que designaria o chefe '''Araryboîa'''.
  
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Tendo tomado posse judicial da sesmaria doada por Mem de Sá no final de novembro de 1573, os temiminós posteriormente foram para “as bandas d'além”, provavelmente em 1574, <ref>Abreu 2010:170</ref>, onde se estabeleceria a [[Aldeia de São Lourenço - Rio de Janeiro|aldeia que lavaria o nome do santo já celebrado em Jabebiracica]]. O topônimo ainda permaneceu, sendo relatado no mesmo ano em que se encenou o ato de São Lourenço, no aldeamento que tinha esse santo como padroeiro: assim Relata Gabriel Soares de Sousa em 1587 <ref>''Tratado descritivo do Brasil em 1587''. -São Paulo: Hedra, 2010: 97-8.</ref>:
 
Tendo tomado posse judicial da sesmaria doada por Mem de Sá no final de novembro de 1573, os temiminós posteriormente foram para “as bandas d'além”, provavelmente em 1574, <ref>Abreu 2010:170</ref>, onde se estabeleceria a [[Aldeia de São Lourenço - Rio de Janeiro|aldeia que lavaria o nome do santo já celebrado em Jabebiracica]]. O topônimo ainda permaneceu, sendo relatado no mesmo ano em que se encenou o ato de São Lourenço, no aldeamento que tinha esse santo como padroeiro: assim Relata Gabriel Soares de Sousa em 1587 <ref>''Tratado descritivo do Brasil em 1587''. -São Paulo: Hedra, 2010: 97-8.</ref>:

Edição atual tal como 15h37min de 15 de julho de 2013

por Gustavo GODOY


No Auto de São Lourenço – representado em 10 de agosto de 1587 no adro da capela de São Lourenço – um anjo se dirige aos ouvintes e dizendo que São Sebastião, padroeiro da colonização do Rio de Janeiro, destruiu os tamoios (tamũîa) e que “não existem mais absolutamente suas antigas terras” (n'i tyb-angá-î s-etã-mbûera) [1]. Então cita várias das antigas aldeias, e por último a seguinte:

Îabebyrasyka tap-era – (a tapera de Jabebiracica –) akûeime n'i por-etá-î. (há tempo não contêm muita coisa.) I aûîé mu'am-ar-ûera; (Renderam-se os oponentes;) oîo-ybyr-i s'e'õ-mbûera (ao lado uns dos outros seus cadáveres) paranã ybyr-i i kûá-î. (ao longo do mar estavam.) (Anchieta 2006: 54/55)

O nome da aldeia, então destruída, significa em tupi “a chegada da(s) arraia(s)”, îabebyra (arraia, em geral) + syk-a (chegada)[2]. Três semanas depois que desembarcou na ilha de Villegagnon, Léry [3] conta que visitou junto com um interprete esta aldeia – Yabouraci, há duas léguas do forte francês – onde os tamoios chamaram-lhe Nian, e depois Reri-gûasu (Lery-ouʃʃou), “Grande Ostra”. Esta aldeia era “chamada pelos franceses de Pepin por causa de um navio que ali carregara tempos antes e cujo mestre tinha esse nome”. Na Carta factícia[4] está grafada como Yaboraci at. Pepin:


La France Antactique Autrement le Rio de Janeiro, Tirée des Voyages que Villegagnon et Jean de Leri ont faits au Bresil les Années 1557 et 1558.


Depois da expulsão dos tamoios, da instalação da cidade de São Sebastião e sua posterior transferência, os temiminós chefiados por Araryboîa (Martim Afonso de Sousa) que participaram da conquista da Guanabara, instalaram-se num primeiro momento “no sopé do outeiro em que se instalou a urbe [o morro do Castelo]”[5]. Em 1568, os temiminós se deslocam, então, para terras apropriadas pelos jesuítas e constroem uma grande aldeia, próxima foz do rio Comprido onde há uma enseada [6], local chamado “Gebiracica” [7], nas proximidade de onde se localizava a aldeia tamoia de Jabebiracica. Ainda neste mesmo ano, os tamoios de cabo Frio persuadiram os franceses a entrarem com eles na baía para atacar Araryboîa, nessa aldeia mas não tiveram sucesso [8]. Algum tempo depois na aldeia, foi erguida uma ermida dedicada a São Lourenço [9]. No mapa de Luiz Teixeira (ca. 1574) [10], observamos que ao noroeste da “cidade de S. Sebastiam,” na margem esquerda do “R. Iububuracica”, nas proximidades de terras identificadas com sendo de Manoel de Brito, está a “Aldeia do Martinho” – como indica.


Roteiros de todos os Sinais, Conhecimentos, Fundos, Baixos, Alturas e Derrotas que há na costa do Brasil, desd'o Cabo Santo Agostinho até o Estreito de Fernão de Magalhães


No mapa de Vau de Claye (1579)[11] , há a legenda Araroue, que designaria o chefe Araryboîa.


Levrai pourtraict de Geneure et du Cap de Frie par Jacques de Vau de Claye


Tendo tomado posse judicial da sesmaria doada por Mem de Sá no final de novembro de 1573, os temiminós posteriormente foram para “as bandas d'além”, provavelmente em 1574, [12], onde se estabeleceria a aldeia que lavaria o nome do santo já celebrado em Jabebiracica. O topônimo ainda permaneceu, sendo relatado no mesmo ano em que se encenou o ato de São Lourenço, no aldeamento que tinha esse santo como padroeiro: assim Relata Gabriel Soares de Sousa em 1587 [13]:

“Na ponta desta cidade o ancoradouro dos navios, que está detrás da cidade, está uma ilheta que se diz a da Madeira [atual ilha das Cobras], por se tirar dela muita, a qual serve aos navios que aqui se recolhem de consertar as velas. E desta ponta a uma légua está outra ponta, fazendo a terra em meio uma enseada, onde está o porto, que se diz de Martim Afonso, onde entra nesta baía um riacho, que se diz Jabiburaçiqua; defronte deste porto de Martim Afonso estão espalhados seis ilhéus de arvoredo.”

Dois mapas de João Albernaz [14] também indicam a aldeia, ao norte de da Igreja de São Cristóvão e antes da enseada de Inhaúma – na várzea de São Cristóvão. Localizava-se a beira mar e tinha um porto num riacho que se chamou Jabebiracica. Os dois caminhos que eram logradouros públicos, no final do século 16, ligavam o outeiro de São Sebastião[15] com a aldeia[16].


[editar] Referências

  1. negação [n-]-haver [tyb]-de modo algum [angá]-negação deles [s]-terra [etama]-passado [mbûera])
  2. No Vocabulário na Língua Brasílica: “Arraya. — Jabebîra. Suas especies: Jabebîgtinga, Narinari, Narinaripinima e Aiereba” e “Chegar como a corda ao posso et simil.— Acigc ” (cf. http://vlb.wikispaces.com/ )
  3. Histoire d'un voyage faict en la terre du Bresil, autrement dite Amerique 1580 [1578]: pp. 278-80.
  4. La France Antactique Autrement le Rio de Janeiro, Tirée des Voyages que Villegagnon et Jean de Leri ont faits au Bresil les Années 1557 et 1558.
  5. Abreu, Maurício de Almeida. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700 Volume 1. -Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial Ltda. & Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010: 168-9, n.425. cf. A Carta de sesmaria de chãos de de Manoel de Brito (22/07/1568 http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5270), a de Aires Fernandes Vitória (12/05/1569: http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5280) e a de Nuno Tavares (11/09/1573: http://mauricioabreu.com.br/escrituras/view.php?id=5290).
  6. Tal enseada foi psoteriormente desfigurada e aterrada, mas corresponde aproximadamente a esta localização: http://goo.gl/maps/NvtfW , lá havia a entrada de um mangue (chamada posteriormente de saco ou mangal de São Diogo, devido a uma ermida dedicada ao santo), transformado num monótono canal.
  7. ib.:169, 214.
  8. ib. 2010:169-70, citando S. de Vasconcelos
  9. ib.: 170, n. 430.
  10. em Roteiros de todos os Sinais, Conhecimentos, Fundos, Baixos, Alturas e Derrotas que há na costa do Brasil, desd'o Cabo Santo Agostinho até o Estreito de Fernão de Magalhães.
  11. Levrai pourtraict de Geneure et du Cap de Frie par Jacques de Vau de Claye.
  12. Abreu 2010:170
  13. Tratado descritivo do Brasil em 1587. -São Paulo: Hedra, 2010: 97-8.
  14. Demonstração do Rio de Janeiro (1645) e Aparência do Rio de Janeiro (1666)
  15. Depois chamado de Morro do Castelo.
  16. Abreu 2010, vol.2: 240.



Citação deste verbete
Autor do verbete: Gustavo GODOY
Como citar: GODOY, Gustavo. "Aldeia de Jabebiracica". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Aldeia_de_Jabebiracica. Data de acesso: 28 de março de 2024.



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