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Antônio Teles de Menezes (1600- 1657)

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Antônio Teles de Menezes (1600- 1657)

Geometria
por Hugo André Flores Fernandes ARAÚJO


Antônio Teles de Menezes (1600- 1657)

Antonio Teles de Menezes foi governador geral do Estado do Brasil entre 1647 e 1650. Sua ''carta patente'' [1] e seu regimento [2] são datados de 8 de Outubro de 1647, contudo este só tomou posse do governo no dia 26 de Dezembro de 1647. [3]

Tabela de conteúdo

Origem Fidalga

Antonio Teles de Menezes era o quinto filho de Rui Teles de Menezes, 8º. Senhor de Unhão, e de D. Maria da Silveira, filha de Vasco da Silveira, comendador de Arguim, e de D. Inês de Noronha [4] Charles Boxer sugere que Antonio Teles de Menezes pode ter nascido em Santarém, uma vez que sua família também teria se originado ali. [5]

Trajetória de Serviços

O declínio das possessões portuguesas na Ásia pode ser entendido em um contexto multidimensional, como atentou Sanjay Subrahmanyam, pois é preciso considerar a complexidade geopolítica existente no oriente índico. Os conflitos travados naquela região envolviam não apenas os Portugueses e os Holandeses, mas também os Safavid Sha, os Nayaka governantes de Tanjavur e Madurai, os Sushuhunam de Mataram, e o Sultão de Makassar, para citar cinco exemplos do muitos que existiam. [6]

Em meio a este contexto, António Teles de Menezes iniciou sua trajetória, partindo para Índia na armada de 1613 que largou o Tejo sob o comando de D. Manuel de Menezes, indo com o foro de fidalgo cavaleiro [7] e com tença de 36.800 réis por mês [8]

A atuação militar no Estado da Índia possibilitou a Antonio Teles de Menezes uma intensa ascensão hierárquica, uma vez que em 1614 participou da armada do Vice-rei D. Jerônimo de Azevedo [9]; em 1616 foi capitão de um navio na Armada de D. Bernardo de Noronha [10]; em 1617 teve o mesmo posto na armada de Constantino de Sá [11]

Foi durante este período inicial que António Teles de Menezes se casou no Estado da Índia com sua primeira mulher D. Maria de Castelo-Branco, filha de D. Jorge de Castelo-Branco, ao que tudo indica uma fidalga inequívoca [12], contudo, essa união não produziu herdeiros.

Entre 1619 e 1621 António Teles de Menezes teria retornado para Portugal, uma vez que neste período recebeu a mercê de Capitão-mor de uma esquadra de seis galeões, destinada a socorrer o Estado da Índia. Contudo, sua partida foi retardada pelo mal tempo e este embarcou para a Índia apenas ano seguinte, porém desta vez sem a patente de capitão-mor [13]. Ao retornar para o Estado da Índia recebeu capitania da fortaleza de Diu, por patente de 15 de Março de 1622 [14], contudo não exerceu todo o tempo previsto em sua patente, passando a função para D. Miguel de Almeida [15].

Entre 1624 e 1625 António Teles de Menezes capitaneou o galeão São Sebastião, como membro da armada de alto bordo que se destinava a combater a presença anglo-holandesa no Golfo Pérsico. Combateu as frotas inimigas nas proximidades da ilha de Ormuz [16] em 1625, confronto do qual saiu ferido [17] . Em 1626, António Teles de Menezes ascendeu a hierarquia militar tornando-se almirante na armada de Nuno Álvares Botelho, Capitão Geral das Armadas de alto-bordo do Estado da Índia, exercendo esse ofício entre 1626 e 1628, como sugeriu Charles Boxer.

António Teles de Menezes retornou ao reino em 1632, quando recebeu um alvará régio que lhe permitia vencer soldo e moradia em quanto servir nas ditas partes posto que esteja despachado para seus serviços.[18]. No ano seguinte recebeu outro alvará concedendo a licença para concluir o restante do tempo de serviço como Capitão da Fortaleza de Diu [19]. Com o término de seu serviço em Diu recebeu a patente de capitão mor das naus da Índia em 1635 [20].

António Teles de Menezes exerceu o ofício de Capitão Geral da Armada de alto bordo até 1639 [21], quando passou a ocupar o governo do Estado da Índia em caráter interino, por morte do vice-rei Pero da Silva. Seu período como governador interino terminou com a chegada de João da Silva Tello, Conde de Aveiras, vice-rei nomeado por Felipe IV e cunhado de António Teles de Menezes por seu segundo matrimônio [22]


Adesão a dinastia de Bragança

António Teles de Menezes aderiu à nova dinastia quando retornou ao Reino vindo do Estado da Índia, como retratou o Conde da Ericeira: e recebendo a nova do novo Principe de que era Vassallo, foy desembarcar ao Paço, e achou em ElRey tantas demonstrações de alegria da sua chegada, e tão executivo o favor, que se recolheo para sua casa com o título de General da Armada [23]. Sua adesão ao novo regime também garantiu sua presença nos Conselhos de Estado e Guerra [24], algumas comendas [25] . Em Dezembro de 1642 recebeu licença para o hábito de Santiago ou de Avis, com pensão de 12$000 réis, em função de alguns serviços de seu pai e de sua atuação na armada de Tristão de Mendonça Furtado. [26] O título de Conde de Vila Pouca de Aguiar lhe foi concedido em Agosto de 1647, antes da partida deste para o Estado do Brasil como governador geral [27].

Governo no Estado do Brasil (1647-1650)

António Teles de Menezes detinha o ofício de General da Armada Real [28] , contudo, recebera do monarca um alvará para exercer o governo no Estado do Brasil com os mesmos poderes e jurisdições que António Teles da Silva (1590-1650) detinha [29]

O início do governo de Antonio Teles de Menezes foi marcado pela prisão de Antonio Teles da Silva, que até então exercia o oficio de governador geral. [30] Contudo, vários indícios apontam para este evento como sendo uma dissimulação, uma vez que Antonio Teles da Silva foi liberto após os sucessos da primeira batalha de Guararapes. [31]

As preocupações iniciais de seu governo se voltam para os cuidados com o abastecimento da cidade de Salvador e seu presídio. Entretanto, seu governo foi marcado por diversas tensões com os luso-brasileiros e, em especial, com os oficiais do terço de Salvador. Seu período de governo se encerrou com a chegada do Conde de Castelo Melhor que assumiu o ofício em 10 de Março de 1650.

Após retornar a Portugal foi Alferes-mor de D. Afonso VI, o que lhe logrou a concessão do ofício de Vice-Rei da Índia e a promessa do título de Marques, contudo estes ofícios não se verificaram por este ter falecido durante sua viagem para o Estado da Índia [32]


Referências

  1. BNRJ- Seção de Manuscritos (SM). 1, 2, 5.
  2. BNRJ-SM. 08,01,016 n°002
  3. Cf: MIRALES, D. José de. “História Militar do Brazil: Desde o anno de mil quinhentos quarenta e nove, em que teve principio a fundaçam da Cidade de S. Salvador Bahia de todos de todos os Santos até o de 1762”. Annaes da Bibliotheca Nacional do Rio de Janeiro. Vol. XXII, Rio de Janeiro: Typographia Leuzinger, 1900, p.145-146.
  4. Cf: GAIO, Felgueiras, (1750-1831). Nobiliário de famílias de Portugal. Tomo XXVII. Agostinho de Azevedo Meirelles, Domingos de Araújo Affonso (Eds.). Braga: Pax, 1938. p. 18
  5. BOXER, Charles Ralph. “O General do Mar, António Teles, e o seu combate naval contra os Holandeses na barra de Goa, em 4 de Janeiro de 1638”. In: Boletim do Instituto Vasco da Gama. n.° 37. Goa: Tipografia Rangel. Bastorá, 1938. p. 1-2
  6. SUBRAMANYAN, Sanjay. The portuguese Empire in Asia, 1500-1700: A Political na Economic History. Second Edition. West Sussex: Weley-Blackwell, 2012. p. 154.
  7. Este era o mais alto foro de fidalguia do século XVII. De acordo com Felgueiras Gaio os foros das pessoas que serviam no Paço eram divididos em três ordens e doze tipos. Os fidalgos cavaleiros pertenciam à primeira ordem e seu foro era “o 1° em qualidade, mayoria, e Nobreza” - GAIO, Felgueiras. Op. Cit. Tomo I, p. 13. Como “moradores” da casa real estes fidalgos “serviam directamente o rei, podendo alguns deles ‘morar’ no próprio Paço, recebendo regularmente, ‘Moradias’, ou seja, uma certa quantidade de bens e de dinheiro, destinada à sua subsistência” - CARDIM, Pedro. “A Casa Real e os Órgãos Centrais de Governo no Portugal da Segunda Metade de Seiscentos.” In: Tempo. Departamento de História da UFF. Rio de Janeiro: Sette Letras, nº. 13, 2002, p. 15- , no caso dos fidalgos cavaleiros essa quantia correspondia à “hum alqueire de cevada por dia, e 1600 réis de Moradia por Mes” - GAIO, Felgueiras. Op. Cit. Tomo I, p. 13.
  8. BOXER, Charles Ralph. Op. cit. p. 2.
  9. Essa armada foi destinada a combater os ingleses que ameaçavam a feitoria de Surrate, ao norte de Goa.
  10. Esta era a armada responsável por patrulhar a costa do Malabar até o cabo de Comorin, uma importante rota de comércio das pimentas e de especiarias do Sudoeste Asiático. Cf: SUBRAHMANYAM, Sanjay. Op. cit. p. 65.
  11. BOXER, Charles Ralph. Op. cit. p.2.
  12. ARAÚJO, Hugo André Flores Fernandes. Governação em tempo de guerra: Governo geral do Estado do Brasil e a gestão da defesa (1642-1654). Dissertação (Mestrado em História Social). Juiz de Fora, UFJF, 2014. p. 36
  13. BOXER,Charles. Op. cit. p. 3
  14. ANTT- Chancelaria de D. Felipe III – Livro 3- f.136-136v – Diu é situada na Província do Norte do Estado da Índia, é “considerada como a mais importante realização arquitectónica portuguesa na área das fortificações da Índia. A gigantesca muralha virada para terra tinha cerca de 260 metros e estava reforçada por fortes baluartes” GARCIA, José Manuel. “Breve roteiro das fortificações portuguesas no Estado da Índia” Oceanos. n°. 28. CNCDP. Out./dez. 1996. p. 123
  15. Conforme consta em sua carta patente de 1633 - ANTT- Chancelaria de D. Felipe III – Livro 26 – f. 119 -, António Teles de Menezes serviu durante quinze meses, e no mesmo ano recebeu nova patente para completar o tempo que lhe fora concedido como Capitão da fortaleza.
  16. Os portugueses se estabeleceram em Ormuz em 1507, contudo perderam o controle da ilha depois do rigoroso cerco imposto pelos persas em 1622. Cf: GARCIA, José Manuel. Op. cit. p. 123
  17. BOXER, Charles Ralph. Op. cit. p. 4.
  18. ANTT- Chancelaria de D. Felipe III – Livro 3 – f. 129v.
  19. ANTT- Chancelaria de D. Felipe III – Livro 26 – f. 119.
  20. Esta mercê foi concedida “na vagante dos providos”. ANTT- Chancelaria de D. Felipe III – Livro 40 – f.28-28v.
  21. Durante este período se consagrou como comandante militar nos confrontos navais contra os neerlandeses que bloqueavam a barra de um dos principais rios de Goa, o Mandovi. Charles Boxer detalha as três batalhas ocorridas entre 1637 e 1638 onde António Teles de Menezes comandava as forças marítimas portuguesas. Cf: BOXER, Charles Ralph. Op. cit. p. 6-12.
  22. ZÚQUETE, Afonso Eduardo Martins (Dir). Armorial lusitano: genealogia e heráldica; colaboração de Antonio Machado de Faria. 3.ed. Lisboa: Enciclopédia, 1987.p. 518; BOXER, Charles Ralph. Op. cit. p. 15-16.
  23. MENEZES, Luís de (Conde da Ericeira). História de Portugal Restaurado. Vol. I. Porto: Civilização, 1945. p. 157-158
  24. BNRJ-SM – 07,01, 031 – Doc. 16; BNRJ-SM – 1, 2, 5.
  25. Em Fevereiro de 1642 recebeu as comendas de de S.Vicente de Pereira, que foi do Duque de Ayala, e da de S. João de Beja, que foi Duque de Villa Formosa, ambas da Ordem de Christo, pelos seus serviços e pela renuncia de sua sogra D. Anna de Castro. Inventário do Livro das portarias do Reino. Vol 1. Livro I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1909. p. 39.
  26. Inventário do Livro das portarias do Reino. Vol 1. Livro I. Lisboa: Imprensa Nacional, 1909. p. 51.
  27. ANTT– Chancelaria de D. João IV – Livro 18 – f.268v.
  28. A designação general da armada de mar oceano se refere ao mesmo ofício. Em vários documentos encontramos o tratamento de “conde general”, utilizado por diversas autoridades para se referir a António Teles de Menezes, o Conde de Vila Pouca de Aguiar.
  29. “Alvara (...) para o senhor conde general do mar oceanno ser governador e capitam geral do Estado do Brasil”. BNRJ-SM- 1, 2, 5.
  30. O capítulo 5° de seu regimento autorizava a prisão de Antonio Teles da Silva. Cf: BNRJ-SM. 08,01,016 n°002.
  31. Cf. ARAÚJO, Hugo André Flores Fernandes. Op. cit. p. 110; 122.
  32. Segundo António Caetano de Sousa: se achou o conde de Villa-Pouca no acto de levantamento del Rey D. Affonso VI, em que fez o officio de Alferes mor. A Rainha Regente o fez passar terceira vez à Índia com o posto de Vice-Rey daquele Estado, fazendo-lhe entre outras mercês a do Titulo de Márquez quando voltasse ao Reyno, por Alvará de 2 de Março de 1657, e do Conde de Villa-Pouca para seu filho legitimado Ayres Telles de Menezes, por Alvará de 22 de Dezembro de 1656; e não lhe dando os males, que lhe sobrevierão, lugar para exercer este posto, morreo na viagem no dito anno de 1657 - SOUSA, D. Antonio Caetano. Historia genealógica da casa real portuguesa. Livro VII. Lisboa: Academia Portuguesa de História/QuidNovi/Publico, 2007. p.121



Citação deste verbete
Autor do verbete: Hugo André Flores Fernandes ARAÚJO
Como citar: ARAÚJO, Hugo André Flores Fernandes. "Antônio Teles de Menezes (1600- 1657)". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Ant%C3%B4nio_Teles_de_Menezes_(1600-_1657). Data de acesso: 29 de março de 2024.



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