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Antigo Sistema Colonial

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Segundo Fernando Novais, ''sistema colonial (...)é o conjunto das relações entre as metrópoles e suas respectivas colônias, num dado período da história da colonização.''<ref>[[(Novais,1978)|Novaes, F.: Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808), São Paulo, Hucitec, 1995 – página 57]]</ref>
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Segundo [[Fernando Novais]], ''sistema colonial (...)é o conjunto das relações entre as [[metrópoles]] e suas respectivas [[colônias]], num dado período da história da colonização.''<ref>[[(Novais,1978)|Novaes, F.: Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808), São Paulo, Hucitec, 1995 – página 57]]</ref>
  
Especificamente, o período do Antigo Sistema Colonial vai do século XVI ao final do século XVIII. Ele se inicia com a colonização das Américas e entra em crise sob o impacto simultâneo das rebeliões nas colônias que, diferentemente das rebeliões anteriores, as conduzem às respectivas independências. É também impactado pelas revoluções políticas na Europa, que tendem a sepultar o Antigo Regime no Velho Mundo e, também, pela Revolução Industrial na Inglaterra, que contribui para a transição da hegemonia do capital mercantil para o capital industrial nas Ilhas Britânicas. Diferencia-se, pelo período e por várias características, do neocolonialismo praticado por potências européias de meados do século XIX às primeiras décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial.
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Especificamente, o período do Antigo Sistema Colonial vai do século XVI ao final do século XVIII. Ele se inicia com a colonização das Américas e entra em crise sob o impacto simultâneo das rebeliões nas colônias que, diferentemente das rebeliões anteriores, as conduzem às respectivas independências. É também impactado pelas revoluções políticas na Europa, que tendem a sepultar o [[Antigo Regime]] no Velho Mundo e, também, pela [[Revolução Industrial]] na Inglaterra, que contribui para a transição da hegemonia do capital mercantil para o capital industrial nas Ilhas Britânicas. Diferencia-se, pelo período e por várias características, do neocolonialismo praticado por potências européias de meados do século XIX às primeiras décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial.
  
Embora sejam grandes as variações de metrópoles e de colônias assim como as correlações de força entre os grupos mercantis coloniais e metropolitanos, pode-se perceber que as primeiras procuraram, tanto quanto possível, favorecer os capitais mercantis metropolitanos privilegiando-os ao tentar conferir-lhes o monopólio sobre o comércio colonial.
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Embora sejam grandes as variações de [[metrópoles]] e de [[colônias]] assim como as correlações de força entre os grupos mercantis coloniais e metropolitanos, pode-se perceber que as primeiras procuraram, tanto quanto possível, favorecer os capitais mercantis metropolitanos privilegiando-os ao tentar conferir-lhes o monopólio sobre o comércio colonial.
  
Em alguns casos, a partir do início do século XVII e até o final do século XVIII, o favorecimento chega a conferir aos grupos mercantis metropolitanos o próprio governo colonial.<ref>Adam Smith reputava os governos coloniais pelas companhias privilegiadas como os piores que poderia haver em razão dos conflitos de interesse entre o objetivo de obter lucros e o de promover a Justiça, de forma imparcial, que era, para ele, atributo do Estado.</ref> Por exemplo, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, a primeira companhia por ações do mundo (fundada em 1602, originando a Bolsa de Valores de Amsterdã), contava com o monopólio do comércio das colônias holandesas no Oceano Índico e administrava como governo as colônias na região; a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, fundada em 1621, exercia os mesmos papéis no Oceano Atlântico, incluindo-se o tráfico de escravos, tendo invadido o Nordeste em 1630 e administrado<ref>Maurício de Nassau-Siegen, governador do Brasil Holandês, exerceu esta função como funcionário da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Ele se reportava ao Conselho dos XIX Senhores, que administrava a Companhia em nome dos acionistas.</ref> a região até ser expulsa em 1654.
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Em alguns casos, a partir do início do século XVII e até o final do século XVIII, o favorecimento chega a conferir aos grupos mercantis metropolitanos o próprio governo colonial.<ref>Adam Smith reputava os governos coloniais pelas companhias privilegiadas como os piores que poderia haver em razão dos conflitos de interesse entre o objetivo de obter lucros e o de promover a Justiça, de forma imparcial, que era, para ele, atributo do Estado.</ref> Por exemplo, a [[Companhia Holandesa das Índias Orientais]], a primeira companhia por ações do mundo (fundada em 1602, originando a Bolsa de Valores de Amsterdã), contava com o monopólio do comércio das colônias holandesas no Oceano Índico e administrava como governo as colônias na região; a [[Companhia Holandesa das Índias Ocidentais]], fundada em 1621, exercia os mesmos papéis no Oceano Atlântico, incluindo-se o tráfico de escravos, tendo invadido o Nordeste em 1630 e administrado<ref>[[Maurício de Nassau-Siegen]], governador do Brasil Holandês, exerceu esta função como funcionário da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais. Ele se reportava ao Conselho dos XIX Senhores, que administrava a Companhia em nome dos acionistas.</ref> a região até ser expulsa em 1654.
  
Embora seja preponderante o aspecto da tentativa de exploração mercantil pelo capital metropolitano no período colonial, deve-se atentar para o fato de que o mercantilismo não era a política econômica dos Estados europeus aplicada apenas às colônias no Antigo Regime. De fato, era aplicado também sobre os territórios metropolitanos e era coerente com outras instituições européias como o trabalho compulsório, os direitos individuais definidos também pela condição de nascimento, a ausência de cidadania fiscal, o poder absoluto dos reis etc, instituições que de um modo ou de outro também foram introduzidas pelos europeus nas Américas formando um conjunto coerente, eliminado ao longo do século XIX e denominado posteriormente de Antigo Sistema Colonial.
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Embora seja preponderante o aspecto da tentativa de exploração mercantil pelo capital metropolitano no período colonial, deve-se atentar para o fato de que o [[mercantilismo]] não era a política econômica dos Estados europeus aplicada apenas às [[colônias]] no [[Antigo Regime]]. De fato, era aplicado também sobre os territórios metropolitanos e era coerente com outras instituições européias como o [[trabalho compulsório]], os direitos individuais definidos também pela condição de nascimento, a ausência de cidadania fiscal, o [[poder absoluto]] dos reis etc, instituições que de um modo ou de outro também foram introduzidas pelos europeus nas Américas formando um conjunto coerente, eliminado ao longo do século XIX e denominado posteriormente de Antigo Sistema Colonial.
 
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Edição de 12h27min de 11 de abril de 2013

Segundo Fernando Novais, sistema colonial (...)é o conjunto das relações entre as metrópoles e suas respectivas colônias, num dado período da história da colonização.[1]

Especificamente, o período do Antigo Sistema Colonial vai do século XVI ao final do século XVIII. Ele se inicia com a colonização das Américas e entra em crise sob o impacto simultâneo das rebeliões nas colônias que, diferentemente das rebeliões anteriores, as conduzem às respectivas independências. É também impactado pelas revoluções políticas na Europa, que tendem a sepultar o Antigo Regime no Velho Mundo e, também, pela Revolução Industrial na Inglaterra, que contribui para a transição da hegemonia do capital mercantil para o capital industrial nas Ilhas Britânicas. Diferencia-se, pelo período e por várias características, do neocolonialismo praticado por potências européias de meados do século XIX às primeiras décadas posteriores à Segunda Guerra Mundial.

Embora sejam grandes as variações de metrópoles e de colônias assim como as correlações de força entre os grupos mercantis coloniais e metropolitanos, pode-se perceber que as primeiras procuraram, tanto quanto possível, favorecer os capitais mercantis metropolitanos privilegiando-os ao tentar conferir-lhes o monopólio sobre o comércio colonial.

Em alguns casos, a partir do início do século XVII e até o final do século XVIII, o favorecimento chega a conferir aos grupos mercantis metropolitanos o próprio governo colonial.[2] Por exemplo, a Companhia Holandesa das Índias Orientais, a primeira companhia por ações do mundo (fundada em 1602, originando a Bolsa de Valores de Amsterdã), contava com o monopólio do comércio das colônias holandesas no Oceano Índico e administrava como governo as colônias na região; a Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, fundada em 1621, exercia os mesmos papéis no Oceano Atlântico, incluindo-se o tráfico de escravos, tendo invadido o Nordeste em 1630 e administrado[3] a região até ser expulsa em 1654.

Embora seja preponderante o aspecto da tentativa de exploração mercantil pelo capital metropolitano no período colonial, deve-se atentar para o fato de que o mercantilismo não era a política econômica dos Estados europeus aplicada apenas às colônias no Antigo Regime. De fato, era aplicado também sobre os territórios metropolitanos e era coerente com outras instituições européias como o trabalho compulsório, os direitos individuais definidos também pela condição de nascimento, a ausência de cidadania fiscal, o poder absoluto dos reis etc, instituições que de um modo ou de outro também foram introduzidas pelos europeus nas Américas formando um conjunto coerente, eliminado ao longo do século XIX e denominado posteriormente de Antigo Sistema Colonial.





Citação deste verbete
Autor do verbete: Luiz Paulo Nogueról
Como citar: NOGUERÓL, Luiz Paulo. "Antigo Sistema Colonial". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Antigo_Sistema_Colonial. Data de acesso: 28 de março de 2024.


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