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Apuepe

De Atlas Digital da América Lusa

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'''Nome histórico:''' Apuepe; Tapicura; Tapicuna.
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'''Nomes históricos:''' Apuepe; Tapicura; Tapicuna; Tapacurá.
 
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Possivelmente é o Engenho de Belchior Rodrigues Covas citado como 'casa do Covas' em [[(Broeck, 1651)]], pg. 13 (vide citação abaixo), pois não há outro engenho nas cercanias.
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'''Nome atual:''' Engenho Tapacurá, no município de São Lourenço da Mata-PE.
 
'''Nome atual:''' Engenho Tapacurá, no município de São Lourenço da Mata-PE.
  
Vide mapa [[IBGE]] Geocódigo 2613701 São Lourenço da Mata-PE.
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*Vide mapa [[IBGE]] Geocódigo 2613701 São Lourenço da Mata-PE.
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'''Nota:'''
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*Alguns autores ao discorrer sobre as primeiras ações militares da Restauração Pernambucana na região deste engenho, em Julho de 1645, citam o  Engenho Tapacurá, outros o Engenho de Belchior Rodrigues Covas, 'sitio'  ou a 'casa do Covas', o que causa alguma confusão.
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*O Engenho Tapacurá e a 'casa do Covas' são entes distintos, conforme esclarecido por José Antonio Gonsalves de Mello - vide citação abaixo.
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====Citações:====
 
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►Mapa PE-C [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #40 CAPITANIA DE PHARNAMBOCQVE, plotado como engenho, 'Ԑ: Tapicura', na [[m.e.]] do rio sem nome, afluente [[m.d.]] do 'Rº. Capauiriuÿ'.
 
►Mapa PE-C [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #40 CAPITANIA DE PHARNAMBOCQVE, plotado como engenho, 'Ԑ: Tapicura', na [[m.e.]] do rio sem nome, afluente [[m.d.]] do 'Rº. Capauiriuÿ'.
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►Mapa IT [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #43 CAPITANIA DE I. TAMARICA, plotado como engenho, 'Tapicura Ԑ', na [[m.e.]] do rio sem nome, afluente [[m.d.]] do 'Rº. Capauiriuÿ'.
 
►Mapa IT [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #43 CAPITANIA DE I. TAMARICA, plotado como engenho, 'Tapicura Ԑ', na [[m.e.]] do rio sem nome, afluente [[m.d.]] do 'Rº. Capauiriuÿ'.
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►Mapa PE [[(Orazi, 1698)]] PROVINCIA DI PERNAMBVCO, plotado, 'Apuepe', na [[m.e.]] do 'Iabaira' (Riacho Jabaíra).
 
►Mapa PE [[(Orazi, 1698)]] PROVINCIA DI PERNAMBVCO, plotado, 'Apuepe', na [[m.e.]] do 'Iabaira' (Riacho Jabaíra).
  
►[[(Laet, 1644)]], Livro Décimo Terceiro, 1636, agosto, relata os feitos da coluna do Coronel Artichau ― Crestofle d'Artischau Arciszewski (ou Krzysztof Arciszewski) ― pg. 911-912:
 
 
"Pondo-se em movimento no dia 4, cedo pela manhã, chegou em tempo na aldeia de Nossa Senhora da Luz, onde morava ainda alguma gente fiel e um padre de confiança; tinha marchado de Muribeca até ali quatro léguas. Nessa aldeia fez provisão de víveres para uma longa viagem e deu aos habitantes uns vales para o Conselho pagar a conta dos animais e outras coisas que forneceram.
 
 
No dia seguinte choveu forte, e não havendo casas bastante nesta aldeia para ficarem com as suas mochilas enxutas, foram obrigados a se porem em caminho para o engenho de Antônio Rodrigues Moreno, cerca de uma légua da aldeia, a fim de se abrigarem da chuva.".
 
  
 
►[[(Broeck, 1651)]], relatando eventos relacionados à batalha do Monte das Tabocas:
 
►[[(Broeck, 1651)]], relatando eventos relacionados à batalha do Monte das Tabocas:
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4. — O Sr. tenente-coronel chegou à Tapicura, e daí seguiu para S. Lourenço, onde repousamos alguns dias, e nos provemos de pólvora, chumbo e morrões. Seguiu depois para o engenho Nassou, na Várzea, onde acampou.".
 
4. — O Sr. tenente-coronel chegou à Tapicura, e daí seguiu para S. Lourenço, onde repousamos alguns dias, e nos provemos de pólvora, chumbo e morrões. Seguiu depois para o engenho Nassou, na Várzea, onde acampou.".
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►Pereira, José Hygino Duarte, in [[(Broeck, 1651)]], pg. 13-14, Notas:
 
►Pereira, José Hygino Duarte, in [[(Broeck, 1651)]], pg. 13-14, Notas:
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(7) Os nossos, segundo Fr. Raphael de Jesus, liv. VII, n. 21, tiveram 37 feridos e 28 mortos.».
 
(7) Os nossos, segundo Fr. Raphael de Jesus, liv. VII, n. 21, tiveram 37 feridos e 28 mortos.».
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►[[(Gonsalves de Mello, 2000)]], pg. 148-149:
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"... Prosseguindo sempre em direção ao interior, à procura de um sítio onde pudessem enfrentar com vantagem o ataque holandês, para compensar o pouco armamento que possuíam, atravessaram o rio Tapacurá em «uma jangada com um vai e vem de cipós, a qual fez por suas mãos o capitão João Barbosa de Sousa, por ser mui engenhoso», chegando ao engenho do mesmo nome, de Manuel Fernandes Cruz, pessoa que não se tinha declarado pela insurreição e por isso «não nos detivemos mais que uma noite, nem o Governador quis comer cousa de sua casa nem dormir dentro dela e se agasalhou na ermida do engenho e o levou consigo, mostrando-lhe ruim semblante, por as grandes suspeitas que havia de que ele avisava ao inimigo de tudo o que entre nós se passava». Do Engenho Tapacurá caminharam mais para o interior e ultrapassaram o limite ocidental da zona canavieira, chegando ao sítio (não engenho, como se tem escrito por engano) e casa de Melchior Rodrigues Covas «que era a mais alterosa e espaçosa que no sertão de Pernambuco havia», onde se alojaram todos. Ocorrera isto, segundo parece, a 10 de Julho, pois Frei Manuel Calado informa que ali permaneceram 22 dias e de onde partiram no último dia do mês de Julho (23).
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(23) BORGES DA FONSECA, Nobiliarquia, cit., I, p. 417 e II, p. 396.
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(24) Rio Branco, Efemérides, cit., p. 317, diz que a chegada ao «Engenho Covas» ocorreu em 9 de Julho; escrevemos 10, porque os cronistas dizem que os insurgentes permaneceram ali 22 dias, de onde partiram a 31 de Julho. Deve ser retificada a referência ao Engenho Covas, pois não o era; Calado e Santiago escreveram «sítio».".
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►[[(Silva, 2005)]], pg. 250-251:
 
►[[(Silva, 2005)]], pg. 250-251:
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Aproveitando-se da escuridão e das fortes chuvas que caíam, os holandeses refugiaram-se no Engenho Tapacurá, a quatro léguas do local do confronto, seguindo depois em direção à Várzea pondo de assalto várias casas-grandes de onde levaram o que restava de objetos de valor, tendo sido aprisionadas algumas mulheres dos conjurados, dentre as quais se encontrava a sogra de João Fernandes Vieira.".
 
Aproveitando-se da escuridão e das fortes chuvas que caíam, os holandeses refugiaram-se no Engenho Tapacurá, a quatro léguas do local do confronto, seguindo depois em direção à Várzea pondo de assalto várias casas-grandes de onde levaram o que restava de objetos de valor, tendo sido aprisionadas algumas mulheres dos conjurados, dentre as quais se encontrava a sogra de João Fernandes Vieira.".
  
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►[[(Cabral de Mello, 2012)]]:
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@ pg. 80-82, Os engenhos de açúcar do Brasil Holandês, I - Capitania de Pernambuco, São Lourenço:
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«3) NOSSA SENHORA DO MONSERRATE. Sito à margem esquerda do rio homônimo. Markgraf registrou-o sob a denominação de Nossa Senhora do Rosário e Golijath como Tapacurá. Engenho de bois. Pagava de pensão 10 mil-réis em dinheiro. Fundado após 1609. Pertencia em 1623 a Antônio Rodrigues Moreno, produzindo 5,7 mil arrobas. Saqueado em 1636 por campanhistas luso-brasileiros. Seu proprietário permaneceu sob o domínio holandês. O engenho safrejou em 1637 e 1639, com cinco partidos de lavradores, no total de cerca de cem tarefas (3,5 mil arrobas), sem partido da fazenda. Em 1643, com o falecimento do dono, seus credores expuseram ao governo do Brasil holandês o abandono em que se achava, propondo fosse repassado a Manuel Fernandes Cruz, "indivíduo de suficientes capitais", que se oferecera para beneficiá-lo pagando aos credores e à WIC nas três safras seguintes. A oferta foi aceita e em 1644 Cruz reclamava contra os contratadores de pau-brasil (um deles seu amigo o padre Manuel de Morais), cujos carros de boi causavam dano aos canaviais. O engenho dispunha então de "todas suas terras, canaviais, pastagens, matas e outras coisas a ele pertencentes, tais como: oito caldeiras de cobre, dez tachos e paróis, além de outras vasilhas de cobre [...], noventa escravos [...] sua casa [de vivenda] e sessenta bois". Em setembro daquele ano, Cruz compareceu perante as autoridades, acompanhado dos credores, igualmente devedores à WIC no montante de 41526 florins. De acordo com a recente decisão governamental de encampar as dívidas particulares dos senhores de engenho mais endividados, acordou-se que Cruz ficaria devedor à WIC da soma de 60795 florins, dos quais 19269 florins das suas próprias dívidas à Companhia, e os restantes 41526 florins das dívidas dos seus credores. O débito de Cruz deveria ser pago nas três safras seguintes e a primeira prestação em janeiro de 1645. Foram fiadores João de Mendonça e Manuel Gomes de Lisboa. Um deles, cunhado de Cruz, "não tem nada"; e o outro "é remediado". Ainda segundo "A bolsa do Brasil", Cruz teria subornado com 10 mil florins as autoridades do Recife. Em junho daquele ano, ao desfechar a insurreição luso-brasileira, Fernandes Vieira, subindo com sua tropa pela ribeira do Capibaribe, deteve-se no engenho de Cruz, mas "nem [...] quis comer coisa de sua casa nem dormir dentro nela, e se agasalhou na ermida do engenho, e o levou [Cruz] consigo, mostrando-lhe ruim semblante pelas grandes suspeitas que havia de que ele avisava ao inimigo de tudo o que entre nós se passava". Em 1652, Cruz sugeria a d. João IV várias medidas de incentivo à economia canavieira. O engenho safrejava em 1655. Em 1645, Cruz era devedor de 47756 florins à WIC e de outros 10070 florins "conta a prazo"; e em 1663, de 61160 florins.(34)».
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@ pg. 178, Notas:
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«(34) FHBH, I, pp. 29, 87, 155, 236; RCCB, pp. 50, 156; DN, 17.III.1643, 12.X.1644; "Generale staet", ARA, OWIC, n. 62; VWIC, IV, p. 245; J. Nieuhof, ''Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil'', 2ª ed., São Paulo, 1951, p. 84; BB, p. 142; VL, I, p. 338; II, 18; MCC, I, pp. 90-1; Ronaldo Vainfas, ''Traição: um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela Inquisição'', São Paulo, 2008, pp. 213, 227, 231, 240, 262.».
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'''NOTAS:'''
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*No mapa de Marcgrave não estão registrados o rio Nossa Senhora de Montserrate, nem o engenho Nossa Senhora do Rosário, no vale do Rio Tapacurá.
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*Há uma igreja com o topônimo 'N S. de Ro∫airo' na [[m.e.]] desse rio.
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*Associa-se o topônimo 'Apuepe' ao engenho de bois com igreja na [[m.e.]] do 'Iabaira' (Riacho Jabaíra), por, no mapa, esse topônimo estar escrito na proximidade do engenho, e não haver outro símbolo ou ente geográfico plotado nas suas proximidades que se possa associar a esse topônimo.
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*Observa-se, no entanto, que há o topônimo 'Tapa: cura' escrito, próximo ao símbolo do engenho e na [[m.e.]] do Rio Tapacurá, e opta-se, pelos motivos expostos, a interpretá-lo como identificador do rio.
  
 
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Edição atual tal como 17h42min de 16 de outubro de 2015

Coleção Levy Pereira


[editar] Apuepe

Engenho de bois com igreja na m.e. do 'Iabaíra' (Riacho Jabaíra).


Natureza: engenho de bois com igreja.


Mapa: PRÆFECTURÆ PARANAMBUCÆ PARS BOREALIS, una cum PRÆFECTURA de ITÂMARACÂ.


Capitania: PARANAMBVCA.


Nomes históricos: Apuepe; Tapicura; Tapicuna; Tapacurá.


Nome atual: Engenho Tapacurá, no município de São Lourenço da Mata-PE.

  • Vide mapa IBGE Geocódigo 2613701 São Lourenço da Mata-PE.


Nota:

  • Alguns autores ao discorrer sobre as primeiras ações militares da Restauração Pernambucana na região deste engenho, em Julho de 1645, citam o Engenho Tapacurá, outros o Engenho de Belchior Rodrigues Covas, 'sitio' ou a 'casa do Covas', o que causa alguma confusão.
  • O Engenho Tapacurá e a 'casa do Covas' são entes distintos, conforme esclarecido por José Antonio Gonsalves de Mello - vide citação abaixo.


[editar] Citações:

►Mapa PE-C (IAHGP-Vingboons, 1640) #40 CAPITANIA DE PHARNAMBOCQVE, plotado como engenho, 'Ԑ: Tapicura', na m.e. do rio sem nome, afluente m.d. do 'Rº. Capauiriuÿ'.


►Mapa IT (IAHGP-Vingboons, 1640) #43 CAPITANIA DE I. TAMARICA, plotado como engenho, 'Tapicura Ԑ', na m.e. do rio sem nome, afluente m.d. do 'Rº. Capauiriuÿ'.


►Mapa PE (Orazi, 1698) PROVINCIA DI PERNAMBVCO, plotado, 'Apuepe', na m.e. do 'Iabaira' (Riacho Jabaíra).


(Broeck, 1651), relatando eventos relacionados à batalha do Monte das Tabocas:

@ pg. 11-12, julho de 1645:

"10. — ...

À tardinha do seguinte dia ...

Ao outro dia apareceu um português com uma bandeirola branca para pedir perdão, mas os indígenas logo o degolaram, sem lhe dar lugar a ser ouvido. Este mesmo dia o capitão Blaer teve ordem de sair com um bom troço em procura do inimigo, que se havia retirado para Tapicuna (Tapacurá), mas, por estarem crescidas as aguas do rio, não pôde ir ter ao engenho.".

@ pg. 13-14, agosto de 1645:

"2 de Agosto. — O Sr. tenente-coronel chegou à casa do Covas (6), onde pernoitamos. Ao outro dia, 3 do corrente mês, pusemos fogo à casa e tendas, onde acampara o inimigo, e nos pusemos a caminho. Tendo avançado obra de três ou quatro léguas, acercamo-nos de um posto avançado do inimigo, que atirou contra os da nossa vanguarda, e se retirou para os seus, que eram da outra banda do rio. Os nossos vadearam também o rio, cujas aguas davam-lhes pela cintura, e saíram em uma pequena campina ao sopé dc um monte, assim coberto de tabocas ou canas cortantes, que não podiam ver o inimigo que ali estava em número grosso. Nada obstante, os nossos, que também eram numerosos, o foram buscar com muita coragem, do que se seguiram muitas mortes e ferimentos, assim de oficiais como de soldados. Os indígenas houveram-se otimamente, e brigaram com valor. Durou este combate desde as duas horas da tarde até que a noite veio separar os combatentes. Como a nossa pólvora estava quase de todo consumida, o chefe Hous retirou-se durante a noite para Tapicura, levando o maior número possível dc feridos. Perdemos uns duzentos homens, uns mortos e outros feridos, entre os quais vários oficiais, como o capitão Andries Fallo, atravessado por uma bala, do que veiu depois a morrer no Recife; o capitão Sicquema ferido em três partes, o tenente Hoyckesloot morto, o tenente Jacob Hemel morto, o tenente Schol ferido mortalmente (depois morreu), e mais outros.

Creio que o inimigo não recebeu também pequeno detrimento (7); pelo menos sei que perdeu duas pessoas principais: o capitão João Paes Cabral e Ignacio Mendes de Azevedo, e outros; e pois não tem muito de que gloriar-se. E se não fora a estreiteza do passo, que apenas permitia caminharem emparelhados dois homens, bem como o grande escarpamento do monte, e as tabocas cortantes que muito estorvaram os nossos, pois os mais dos nossos andavam descalços, as coisas houveram facilmente corrido de modo diverso.

4. — O Sr. tenente-coronel chegou à Tapicura, e daí seguiu para S. Lourenço, onde repousamos alguns dias, e nos provemos de pólvora, chumbo e morrões. Seguiu depois para o engenho Nassou, na Várzea, onde acampou.".


►Pereira, José Hygino Duarte, in (Broeck, 1651), pg. 13-14, Notas:

"(6) Engenho de Belchior Rodrigues Covas, cuja casa de vivenda era, diz Callado, pag 193, «a mais alterosa e espaçosa que no sertão de Pernambuco havia.

(7) Os nossos, segundo Fr. Raphael de Jesus, liv. VII, n. 21, tiveram 37 feridos e 28 mortos.».


(Gonsalves de Mello, 2000), pg. 148-149:

"... Prosseguindo sempre em direção ao interior, à procura de um sítio onde pudessem enfrentar com vantagem o ataque holandês, para compensar o pouco armamento que possuíam, atravessaram o rio Tapacurá em «uma jangada com um vai e vem de cipós, a qual fez por suas mãos o capitão João Barbosa de Sousa, por ser mui engenhoso», chegando ao engenho do mesmo nome, de Manuel Fernandes Cruz, pessoa que não se tinha declarado pela insurreição e por isso «não nos detivemos mais que uma noite, nem o Governador quis comer cousa de sua casa nem dormir dentro dela e se agasalhou na ermida do engenho e o levou consigo, mostrando-lhe ruim semblante, por as grandes suspeitas que havia de que ele avisava ao inimigo de tudo o que entre nós se passava». Do Engenho Tapacurá caminharam mais para o interior e ultrapassaram o limite ocidental da zona canavieira, chegando ao sítio (não engenho, como se tem escrito por engano) e casa de Melchior Rodrigues Covas «que era a mais alterosa e espaçosa que no sertão de Pernambuco havia», onde se alojaram todos. Ocorrera isto, segundo parece, a 10 de Julho, pois Frei Manuel Calado informa que ali permaneceram 22 dias e de onde partiram no último dia do mês de Julho (23).

...

(23) BORGES DA FONSECA, Nobiliarquia, cit., I, p. 417 e II, p. 396.

(24) Rio Branco, Efemérides, cit., p. 317, diz que a chegada ao «Engenho Covas» ocorreu em 9 de Julho; escrevemos 10, porque os cronistas dizem que os insurgentes permaneceram ali 22 dias, de onde partiram a 31 de Julho. Deve ser retificada a referência ao Engenho Covas, pois não o era; Calado e Santiago escreveram «sítio».".


(Silva, 2005), pg. 250-251:

"No Monte das Tabocas, em terras do hoje município da Vitória de Santo Antão, com apenas 300 homens em armas, alguns munidos de facões, foices e paus tostados, a modo de chuço, vieram bater uma força de 1.200 infantes comandados pelo coronel Henrique van Haus a 3 de agosto de 1645. A batalha teve a duração de quatro para cinco horas, deixando um saldo de cerca de 600 soldados holandeses, entre mortos e feridos, bem como uma grande quantidade de armamento e munições, que vieram suprir as lacunas das tropas comandadas por João Fernandes Vieira. Do lado dos insurretos, segundo frei Manuel Calado, as perdas foram de 32 feridos e oito mortos.

Aproveitando-se da escuridão e das fortes chuvas que caíam, os holandeses refugiaram-se no Engenho Tapacurá, a quatro léguas do local do confronto, seguindo depois em direção à Várzea pondo de assalto várias casas-grandes de onde levaram o que restava de objetos de valor, tendo sido aprisionadas algumas mulheres dos conjurados, dentre as quais se encontrava a sogra de João Fernandes Vieira.".


(Cabral de Mello, 2012):

@ pg. 80-82, Os engenhos de açúcar do Brasil Holandês, I - Capitania de Pernambuco, São Lourenço:

«3) NOSSA SENHORA DO MONSERRATE. Sito à margem esquerda do rio homônimo. Markgraf registrou-o sob a denominação de Nossa Senhora do Rosário e Golijath como Tapacurá. Engenho de bois. Pagava de pensão 10 mil-réis em dinheiro. Fundado após 1609. Pertencia em 1623 a Antônio Rodrigues Moreno, produzindo 5,7 mil arrobas. Saqueado em 1636 por campanhistas luso-brasileiros. Seu proprietário permaneceu sob o domínio holandês. O engenho safrejou em 1637 e 1639, com cinco partidos de lavradores, no total de cerca de cem tarefas (3,5 mil arrobas), sem partido da fazenda. Em 1643, com o falecimento do dono, seus credores expuseram ao governo do Brasil holandês o abandono em que se achava, propondo fosse repassado a Manuel Fernandes Cruz, "indivíduo de suficientes capitais", que se oferecera para beneficiá-lo pagando aos credores e à WIC nas três safras seguintes. A oferta foi aceita e em 1644 Cruz reclamava contra os contratadores de pau-brasil (um deles seu amigo o padre Manuel de Morais), cujos carros de boi causavam dano aos canaviais. O engenho dispunha então de "todas suas terras, canaviais, pastagens, matas e outras coisas a ele pertencentes, tais como: oito caldeiras de cobre, dez tachos e paróis, além de outras vasilhas de cobre [...], noventa escravos [...] sua casa [de vivenda] e sessenta bois". Em setembro daquele ano, Cruz compareceu perante as autoridades, acompanhado dos credores, igualmente devedores à WIC no montante de 41526 florins. De acordo com a recente decisão governamental de encampar as dívidas particulares dos senhores de engenho mais endividados, acordou-se que Cruz ficaria devedor à WIC da soma de 60795 florins, dos quais 19269 florins das suas próprias dívidas à Companhia, e os restantes 41526 florins das dívidas dos seus credores. O débito de Cruz deveria ser pago nas três safras seguintes e a primeira prestação em janeiro de 1645. Foram fiadores João de Mendonça e Manuel Gomes de Lisboa. Um deles, cunhado de Cruz, "não tem nada"; e o outro "é remediado". Ainda segundo "A bolsa do Brasil", Cruz teria subornado com 10 mil florins as autoridades do Recife. Em junho daquele ano, ao desfechar a insurreição luso-brasileira, Fernandes Vieira, subindo com sua tropa pela ribeira do Capibaribe, deteve-se no engenho de Cruz, mas "nem [...] quis comer coisa de sua casa nem dormir dentro nela, e se agasalhou na ermida do engenho, e o levou [Cruz] consigo, mostrando-lhe ruim semblante pelas grandes suspeitas que havia de que ele avisava ao inimigo de tudo o que entre nós se passava". Em 1652, Cruz sugeria a d. João IV várias medidas de incentivo à economia canavieira. O engenho safrejava em 1655. Em 1645, Cruz era devedor de 47756 florins à WIC e de outros 10070 florins "conta a prazo"; e em 1663, de 61160 florins.(34)».

@ pg. 178, Notas:

«(34) FHBH, I, pp. 29, 87, 155, 236; RCCB, pp. 50, 156; DN, 17.III.1643, 12.X.1644; "Generale staet", ARA, OWIC, n. 62; VWIC, IV, p. 245; J. Nieuhof, Memorável viagem marítima e terrestre ao Brasil, 2ª ed., São Paulo, 1951, p. 84; BB, p. 142; VL, I, p. 338; II, 18; MCC, I, pp. 90-1; Ronaldo Vainfas, Traição: um jesuíta a serviço do Brasil holandês processado pela Inquisição, São Paulo, 2008, pp. 213, 227, 231, 240, 262.».

NOTAS:

  • No mapa de Marcgrave não estão registrados o rio Nossa Senhora de Montserrate, nem o engenho Nossa Senhora do Rosário, no vale do Rio Tapacurá.
  • Há uma igreja com o topônimo 'N S. de Ro∫airo' na m.e. desse rio.
  • Associa-se o topônimo 'Apuepe' ao engenho de bois com igreja na m.e. do 'Iabaira' (Riacho Jabaíra), por, no mapa, esse topônimo estar escrito na proximidade do engenho, e não haver outro símbolo ou ente geográfico plotado nas suas proximidades que se possa associar a esse topônimo.
  • Observa-se, no entanto, que há o topônimo 'Tapa: cura' escrito, próximo ao símbolo do engenho e na m.e. do Rio Tapacurá, e opta-se, pelos motivos expostos, a interpretá-lo como identificador do rio.






Citação deste verbete
Autor do verbete: Levy Pereira
Como citar: PEREIRA, Levy. "Apuepe". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Apuepe. Data de acesso: 28 de março de 2024.


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