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Capitulo II - Do Semicírculo, ou Circulo dimensório, e do seu uso para tirar plantas, ou Cartas

De Atlas Digital da América Lusa

Edição feita às 13h50min de 4 de abril de 2013 por Tiagogil (disc | contribs)

Do Semicírculo, ou Circulo dimensório, e do seu uso para tirar plantas, ou Cartas.


O Semicírculo dimensório é um instrumento, que tira o nome de sua figura: a sua semicircunferência se acha dividida em graus, e minutos; e pelo centro passa uma linha, que é o diâmetro. [19] ... chamada linha de se, e nos extremos desta linha tem duas pínulas, que servem para ver por elas os objetos : sobre esta mesma linha, ou diâmetro se ajusta uma régua móvel sobre o mesmo centro, que muitos chamam de Alidada: e nos extremos desta régua móvel outras duas pínulas para o mesmo efeito, que as primeiras.

Pela parte inferior, que corresponde ao centro, tem um joelho se aplica um pé de três pernas, que segundo se encolhem, ou alargam, se abaixa, ou levanta o instrumento, e se endireitam as desigualdades do terreno: a figura primeira, estampa primeira mostra a forma deste instrumento.
Figura Primeira


No vão, que fica entre a circunferência [20] ... , e o diâmetro, se Poe uma agulha de marcar, ou bussola, para orientar os lugares das posições, isto é, para saber as que ficam para o Norte, para o Sul, etc.

Em razão desta agulha de marcar chamam muitos erradamente em Portugal Bussola a este instrumento : os Alemães lhe chamam Astrolábio com mais propriedade; por que este instrumento só difere do Astrolábio na aplicação, e no uso

O circulo inteiro tem a mesma fabrica, que o Semicírculo : mas para uso de fazer Cartas Geograficas é o Circulo dimensório mais cômodo em razão de que sem mudar o instrumento se pode contar os graus, e minutos para toda a parte : no Circulo a agulha, ou Bussola se costuma por no centro do instrumento, e a caixa [21] ... serve de régua móvel; por que o seu diâmetro fazem duas pontas, ou ponteiros, que apontam os graus, e minutos na circunferência do circulo dimensório.

Ao presente em lugar de pínulas lhe ajustam pelo centro dois óculos de ver ao longe, os quais tem só duas Lentes, ou vidros; o ocular, e o objetivo; um destes óculos é fixo sobre a Alidada: cada um dos vidros tem dois fios em Cruz de seda, tirada dos casulos, que fazem os bichos da seda, e postos de sorte, que se cruzem justamente no Focus dos vidros, que assim se chama aquela parte dos vidros, ou lentes, em que os raios visuais se unem: o Focus destes vidros deve corresponder justamente ao centro do instrumento por uma linha paralela ao lado [22] ... da Alidada, ou régua móvel.

Desta sorte se vem distintamente os objetos remotos sem alterar a sua situação, por não terem os óculos mais que dois vidros; e por esta razão mostram os objetos virados de cima para baixo: porém as linhas visuais se tomam pelos óculos muito mais ajustadas, do que pelas pínulas. A figura segunda, estampa primeira mostra o Semicírculo com óculos, e para o Circulo dimensório não há mais, que imaginar-lhe outra tanta circunferência graduada.

Figura Segunda

Os que se servirem de pínulas, devem procurar que sejam das melhores. As que ordinariamente vemos nos instrumentos, costumam ser de duas sortes, umas que tem uma fenda, ou fresta perpendicular, e um buraquinho em igual altura em cada uma das pínulas, tanto [23] ... tanto na ocular, como na objetiva, por onde se vem os objetos(figura primeira.) Chama-se pínula ocular aquela, que se aplica ao olho; e objetiva aquela que fica de parte do objeto, que se quer ver : outras tem na ocular uma fresta, ou fenda perpendicular estreitíssima, e na objetiva uma fresta mais larga com um fio de latão, ou de corda de viola, também perpendicular sobre a Alidada, e linha, que passa pelo centro.

Estas sortes de pínulas ambas parecem defeituosas: as primeiras, porque nunca pelas fendas, ou buraquinhos se pode se pode bem determinar o objeto, porque se distingue mal; e as segundas porque o fio de latão, que determina os objetos, sempre tem muita grossura, e nunca pode ser tão sutil, que os não encubra todos, sendo a distancia considerável; [24] ... e para bem deviam partir o objeto pelo meio de sorte, que pela largura da fresta objetiva se visse a metade do objeto para uma parte, e a outra a metade para a outra. Eu tenho por melhores as pínulas, que tem as frestas objetivas mais largas, e no meio da abertura um cabelo, ou alguma coisa ainda mais subtil : a fresta ocular deve ser quanto mais estreita melhor.

Nos Círculos dimensórios inteiros, que hoje se fabricaram em França, e em Inglaterra com pínulas, são estas dobradas, quero dizer, que cada pínula pode ao mesmo tempo servir de ocular, e de objetiva, porque cada pínula tem fresta estreita, e fresta larga com fio: mas a pínula sua correspondente tem as mesmas frestas desencontradas de sorte, que a ocular de uma corresponda

[25] ... a objetiva da outra. Esta forte (ou sorte?) de pínulas dão maior comodidade no Circulo dimensório; porque pelas pínulas fixas se pode ver se correspondem justamente aos objetos de qualquer parte.

Deve-se advertir que os que querem ver por pínulas, não devem chegar muito o olho a elas, (principalmente as que tem fio de latão) porque chegando-o muito, o fio lhes encobre o objeto, e assim o não poderiam ver distintamente: é necessário que o olho se ponha em uma distancia racionável.

Este instrumento não é (como muito cuidam) necessário para tirar as plantas particulares, como de uma Praça, de um edifício, etc. por que estas (como diremos em seu lugar) se tiram muito mais ajustadas [26] ... por alinhamentos e diagonais; mas porque também poderá suceder que seja necessário usar-se de instrumento, nesta caso se farão as suas operações pelos Problemas seguintes.


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Ficha técnica da Fonte
Autor: Manuel de Azevedo Fortes
Data: 1722.
Referência: ..
Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal.
Transcrição: Carlos Antonio Pereira de Carvalho.
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