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Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro

De Atlas Digital da América Lusa

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{{verbete|nome=Victor Luiz Alvares|sobrenome=Oliveira|verbete=As primeiras informações sobre a população carioca são muito vagas, ficando restritas à relação de viajantes e cronistas que estiveram na [[cidade]], ou seja, são informações que não foram resultado de uma contagem rigorosa da população ou mesmo realizadas de forma oficial por poderes régios ou locais. Uma das primeiras estimativas é a de [[Pero de Magalhães Gândavo]] que, escrevendo na década de 1570, pouco tempo depois da fundação da cidade, afirma que nela poderiam haver 140 vizinhos.<ref> GÂNDAVO, Pero de Magalhães. ''Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil.'' Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2008, p.47</ref> O historiador Joaquim Veríssimo Serrão, com base nas cartas de sesmarias passadas no período de 1585 a 1598, estima que cerca de 40 a 50 sesmeiros vieram de outras capitanias para colonizar a cidade e os seus arredores, o que poderia significar um aumento de 200 a 300 habitantes na região pelo final do século XVI.<ref> SERRÃO, Joaquim Veríssimo. ''O Rio de Janeiro no Século XVI.'' Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial, 2008, p.163.</ref>
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As primeiras informações sobre a população carioca são muito vagas, ficando restritas à relação de viajantes e cronistas que estiveram na [[cidade]], ou seja, são informações que não foram resultado de uma contagem rigorosa da população ou mesmo realizadas de forma oficial por poderes régios ou locais. Uma das primeiras estimativas é a de [[Pero de Magalhães Gândavo]] que, escrevendo na década de 1570, pouco tempo depois da fundação da cidade, afirma que nela poderiam haver 140 vizinhos.<ref>GÂNDAVO, Pero de Magalhães. ''Tratado da Terra do Brasil: história da província Santa Cruz, a que vulgarmente chamamos Brasil.'' Brasília: Senado Federal, Conselho Editorial, 2008, p.47</ref> O historiador Joaquim Veríssimo Serrão, com base nas cartas de sesmarias passadas no período de 1585 a 1598, estima que cerca de 40 a 50 sesmeiros vieram de outras capitanias para colonizar a cidade e os seus arredores, o que poderia significar um aumento de 200 a 300 habitantes na região pelo final do século XVI.<ref>SERRÃO, Joaquim Veríssimo. ''O Rio de Janeiro no Século XVI.'' Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial, 2008, p.163.</ref>
  
 
Para o século XVII uma das relações mais completas da população é uma visita paroquial anônima intitulada '''[[Notícias do Bispado do Rio de Janeiro no ano de 1687]]'''. Segundo esta notícia, o núcleo da cidade contava com duas paróquias: a freguesia da Sé a freguesia da [[Candelária]]. No seu perímetro urbano viviam 7.000 pessoas (com 3.500 em cada uma das paróquias) divididas em 650 fogos na Sé e mais 600 fogos na [[Candelária]]. As [[freguesias|freguesia]] do seu entorno e do recôncavo somavam menos ainda: a de [[São Gonçalo]] com 250 fogos e 1.500 pessoas (sendo 700 escravos); a de [[Santo Antônio de Macacu]] com 167 fogos e 1.037 pessoas; a de [[São João de Itaboraí]] com 91 fogos e 382 pessoas de comunhão; a de [[N. S. da Apresentação de Irajá]] com 200 fogos e 1.800 pessoas e a de [[N. S. do Loreto de Jacarepaguá]] com 186 fogos e 400 pessoas. Contava ainda com uma população vivendo em torno de capelas curadas ([[Tambí], [[São João de Meriti]], [[Santíssima Trindade]], [[Guapimirim]], [[Suruí]], [[Pacobaíba]], [[Inhomirim]], [[Marapicu]], [[Santo Antônio]], [[Inhoaíba]], [[Campo Grande]], [[Inhaúma]], [[Magé]] e [[Caraí]]), perfazendo em finais do século XVII a cidade e suas imediações rurais uma população de 18.578 pessoas divididas em 3.101 fogos<ref> Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro. '''[[Notícias do Bispado do Rio de Janeiro no ano de 1687]]'''. Séria Visita Pastoral, VP38. Não foram contados os fogos da capela curada de Suruí por problemas de corrosão do documento que impossibilita averiguar o dito cujo; Apesar de existir a relação sobre a capela curada de São João de Meriti, não consta o seu número de fogos e população, por isso o total apresentado não faz referência a essa localidade.</ref>
 
Para o século XVII uma das relações mais completas da população é uma visita paroquial anônima intitulada '''[[Notícias do Bispado do Rio de Janeiro no ano de 1687]]'''. Segundo esta notícia, o núcleo da cidade contava com duas paróquias: a freguesia da Sé a freguesia da [[Candelária]]. No seu perímetro urbano viviam 7.000 pessoas (com 3.500 em cada uma das paróquias) divididas em 650 fogos na Sé e mais 600 fogos na [[Candelária]]. As [[freguesias|freguesia]] do seu entorno e do recôncavo somavam menos ainda: a de [[São Gonçalo]] com 250 fogos e 1.500 pessoas (sendo 700 escravos); a de [[Santo Antônio de Macacu]] com 167 fogos e 1.037 pessoas; a de [[São João de Itaboraí]] com 91 fogos e 382 pessoas de comunhão; a de [[N. S. da Apresentação de Irajá]] com 200 fogos e 1.800 pessoas e a de [[N. S. do Loreto de Jacarepaguá]] com 186 fogos e 400 pessoas. Contava ainda com uma população vivendo em torno de capelas curadas ([[Tambí], [[São João de Meriti]], [[Santíssima Trindade]], [[Guapimirim]], [[Suruí]], [[Pacobaíba]], [[Inhomirim]], [[Marapicu]], [[Santo Antônio]], [[Inhoaíba]], [[Campo Grande]], [[Inhaúma]], [[Magé]] e [[Caraí]]), perfazendo em finais do século XVII a cidade e suas imediações rurais uma população de 18.578 pessoas divididas em 3.101 fogos<ref> Arquivo da Cúria Metropolitana do Rio de Janeiro. '''[[Notícias do Bispado do Rio de Janeiro no ano de 1687]]'''. Séria Visita Pastoral, VP38. Não foram contados os fogos da capela curada de Suruí por problemas de corrosão do documento que impossibilita averiguar o dito cujo; Apesar de existir a relação sobre a capela curada de São João de Meriti, não consta o seu número de fogos e população, por isso o total apresentado não faz referência a essa localidade.</ref>
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Pela altura da invasão do corsário francês [[Duguay Trouin]] em 1711, uma carta do alemão [[Jonas Finck]] que estava no Rio de Janeiro na época, dava conta de que a cidade contava com uma tropa de 1.000 soldados, 2.000 marinheiros, 4.000 cidadãos e 8.000 negros, perfazendo um total de 15.000 pessoas na sua estimativa.<ref> FRANÇA, Jean Marcel Carvalho (org.). Visões do Rio de Janeiro Colonial: antologia de textos (1531-1800). Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p.90.</ref> Avançando no século XVIII a urbe dava mostras da sua crescente população. De acordo com as memórias públicas da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, pela observação dos anos de 1779 até 1789, a cidade já contava com quatro freguesias urbanas (Sé, Candelária, [[São José]] e [[Santa Rita]]) que neste período somavam 38.707 pessoas divididas em 5.827 fogos.<ref> As informações foram retiradas do “Mappa geral das cidades, villas e freguesias que formão o corpo interior da capitania do Rio de Janeiro”, porém os dados deste mapa devem ser usados com cautela pois apresentam várias erros de somatória. Por exemplo, no mapa o somatório dos fogos das freguesias da Catedral (Sé com 2.072), [[Candelária]] (1.329), [[São José]] (1.244) e [[Santa Rita]] (1.167) é de 5.827, quando na verdade a soma destes números é de 5.812. Outro pequeno erro aparece no somatório das almas da freguesia da Catedral, que contava com 2.327 homens e 4.267 mulheres livres, além de 1.566 homens e 1.777 mulheres escravos, uma população total de 9.937 pessoas que, no entanto, aparece no mapa com um total de 9.997. Na verdade, os números dos recenseamentos populacionais do período colonial devem ser vistos mais pela ordem de grandeza que expressam sobre a população do que por uma exata precisão do número de pessoas que realmente existiam, especialmente por se tratar, na segunda metade do século XVIII, de um período ainda da proto-estatística, quando as primeiras instruções e modelos de recenseamento emanados pela Coroa portuguesa começaram a ser aplicados. Para as informações do mapa ver “Memorias Publicas e Economicas da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro para uso do vice-rei Luiz de Vasconcellos por observação curiosa dos annos de 1779 até o de 1789”. ''Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brazil''. Tomo XLVII, parte I. Rio de Janeiro, 1884.Para a definição de proto-estatística na história do Brasil, seguimos aqui o exposto por Maria Luiza Marcílio em MARCÍLIO, Maria Luiza. ''Crescimento Demográfico e Evolução Agrária Paulista: 1700-1836.'' São Paulo: HUCITEC & EdUSP, 2000.</ref> As freguesias de fora do muro da cidade somaram uma população 51.011, porém como os cálculos referente a estas freguesias apresentam alguns erros, é de supor que a sua população rural beirasse as 50.000 almas pela década de 1780<ref> Mais uma vez, a conta do somatório não fecha. O mapa apresenta um total de 51.011 mas as contas realizada com os números das freguesias oferecidas pelo próprio documento perfazem o total de 50.851 pessoas. O total da freguesia de [[N. S. da Piedade do Aguaçu]] aparece errado, com uma população de 9.182 pessoas, quando o total da sua população livre e escrava é de 2.182. Ver “Memorias Publicas e Economicas da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro para uso do vice-rei Luiz de Vasconcellos por observação curiosa dos annos de 1779 até o de 1789”. ''Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brazil.'' Tomo XLVII, parte I. Rio de Janeiro, 1884.</ref> A população cativa das freguesias rurais era significativa, com 16.873 homens e 11.028 mulheres<ref> Na verdade, refazendo as contas com os números oferecidos pelo documento nasce outra divergência para a população escrava: 16.867 homens e 10.448 mulheres.</ref>
 
Pela altura da invasão do corsário francês [[Duguay Trouin]] em 1711, uma carta do alemão [[Jonas Finck]] que estava no Rio de Janeiro na época, dava conta de que a cidade contava com uma tropa de 1.000 soldados, 2.000 marinheiros, 4.000 cidadãos e 8.000 negros, perfazendo um total de 15.000 pessoas na sua estimativa.<ref> FRANÇA, Jean Marcel Carvalho (org.). Visões do Rio de Janeiro Colonial: antologia de textos (1531-1800). Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p.90.</ref> Avançando no século XVIII a urbe dava mostras da sua crescente população. De acordo com as memórias públicas da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, pela observação dos anos de 1779 até 1789, a cidade já contava com quatro freguesias urbanas (Sé, Candelária, [[São José]] e [[Santa Rita]]) que neste período somavam 38.707 pessoas divididas em 5.827 fogos.<ref> As informações foram retiradas do “Mappa geral das cidades, villas e freguesias que formão o corpo interior da capitania do Rio de Janeiro”, porém os dados deste mapa devem ser usados com cautela pois apresentam várias erros de somatória. Por exemplo, no mapa o somatório dos fogos das freguesias da Catedral (Sé com 2.072), [[Candelária]] (1.329), [[São José]] (1.244) e [[Santa Rita]] (1.167) é de 5.827, quando na verdade a soma destes números é de 5.812. Outro pequeno erro aparece no somatório das almas da freguesia da Catedral, que contava com 2.327 homens e 4.267 mulheres livres, além de 1.566 homens e 1.777 mulheres escravos, uma população total de 9.937 pessoas que, no entanto, aparece no mapa com um total de 9.997. Na verdade, os números dos recenseamentos populacionais do período colonial devem ser vistos mais pela ordem de grandeza que expressam sobre a população do que por uma exata precisão do número de pessoas que realmente existiam, especialmente por se tratar, na segunda metade do século XVIII, de um período ainda da proto-estatística, quando as primeiras instruções e modelos de recenseamento emanados pela Coroa portuguesa começaram a ser aplicados. Para as informações do mapa ver “Memorias Publicas e Economicas da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro para uso do vice-rei Luiz de Vasconcellos por observação curiosa dos annos de 1779 até o de 1789”. ''Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brazil''. Tomo XLVII, parte I. Rio de Janeiro, 1884.Para a definição de proto-estatística na história do Brasil, seguimos aqui o exposto por Maria Luiza Marcílio em MARCÍLIO, Maria Luiza. ''Crescimento Demográfico e Evolução Agrária Paulista: 1700-1836.'' São Paulo: HUCITEC & EdUSP, 2000.</ref> As freguesias de fora do muro da cidade somaram uma população 51.011, porém como os cálculos referente a estas freguesias apresentam alguns erros, é de supor que a sua população rural beirasse as 50.000 almas pela década de 1780<ref> Mais uma vez, a conta do somatório não fecha. O mapa apresenta um total de 51.011 mas as contas realizada com os números das freguesias oferecidas pelo próprio documento perfazem o total de 50.851 pessoas. O total da freguesia de [[N. S. da Piedade do Aguaçu]] aparece errado, com uma população de 9.182 pessoas, quando o total da sua população livre e escrava é de 2.182. Ver “Memorias Publicas e Economicas da Cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro para uso do vice-rei Luiz de Vasconcellos por observação curiosa dos annos de 1779 até o de 1789”. ''Revista Trimensal do Instituto Histórico Geographico e Ethnographico do Brazil.'' Tomo XLVII, parte I. Rio de Janeiro, 1884.</ref> A população cativa das freguesias rurais era significativa, com 16.873 homens e 11.028 mulheres<ref> Na verdade, refazendo as contas com os números oferecidos pelo documento nasce outra divergência para a população escrava: 16.867 homens e 10.448 mulheres.</ref>
  
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A população escravizada, especialmente a africana, teve uma importância crescente na composição populacional, apesar de nem sempre ser fácil constatar o seu peso na demografia carioca. No final do século XVI já existiam indícios da presença de cativos africanos no Rio de Janeiro, porém mesmo com algumas fontes atestando a sua presença não existem estimativas mais específicas sobre a sua quantidade para o período.<ref> [[Joaquim Serrão]] fornece o número de 100 africanos no Rio de Janeiro em 1585 a partir de uma informação para este mesmo ano do padre José de Anchieta. Ver SERRÃO, Joaquim Veríssimo. ''O Rio de Janeiro no Século XVI.'' Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial, 2008, p.162</ref> No século XVII com o crescimento do comércio entre a praça carioca e as partes de [[Angola]] começa a se formar um cenário mais favorável à entrada de africanos, porém ainda assim faltam estimativas ou números concretos que atestem isso. Recentemente, [[Maurício de Almeida Abreu]] constatou a significativa presença de escravos de origem africana nos inventários e testamentos da [[capitania do Rio de Janeiro]] entre 1626 a 1700. No segundo e terceiro quarto do século XVII a presença deles superou os 50% de referências nos documentos, referendando a perspectiva defendida pelo autor de uma guinada atlântica da cidade já no seiscentos.<ref> ABREU, Maurício de Almeida. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700). Volume 2. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial & Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010, p.36-41.</ref>
 
A população escravizada, especialmente a africana, teve uma importância crescente na composição populacional, apesar de nem sempre ser fácil constatar o seu peso na demografia carioca. No final do século XVI já existiam indícios da presença de cativos africanos no Rio de Janeiro, porém mesmo com algumas fontes atestando a sua presença não existem estimativas mais específicas sobre a sua quantidade para o período.<ref> [[Joaquim Serrão]] fornece o número de 100 africanos no Rio de Janeiro em 1585 a partir de uma informação para este mesmo ano do padre José de Anchieta. Ver SERRÃO, Joaquim Veríssimo. ''O Rio de Janeiro no Século XVI.'' Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial, 2008, p.162</ref> No século XVII com o crescimento do comércio entre a praça carioca e as partes de [[Angola]] começa a se formar um cenário mais favorável à entrada de africanos, porém ainda assim faltam estimativas ou números concretos que atestem isso. Recentemente, [[Maurício de Almeida Abreu]] constatou a significativa presença de escravos de origem africana nos inventários e testamentos da [[capitania do Rio de Janeiro]] entre 1626 a 1700. No segundo e terceiro quarto do século XVII a presença deles superou os 50% de referências nos documentos, referendando a perspectiva defendida pelo autor de uma guinada atlântica da cidade já no seiscentos.<ref> ABREU, Maurício de Almeida. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700). Volume 2. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial & Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010, p.36-41.</ref>
  
A crescente construção de engenhos para a produção do açúcar no século XVII impulsionaram a população africana escravizada na cidade e seu termo rural, fator que só viria a aumentar com a descoberta do ouro no interior e o maior dinamismo da economia da região sul-sudeste da América lusa.<ref>[[Maurício de Almeida Abreu]] contou 136 engenhos na cidade e seus arredores no final do século XVII, um crescimento significativo pois no início do mesmo século só existiam 13. Ver ABREU, Maurício de Almeida. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700). Volume 2. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial & Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010, p. 94</ref> Alguns viajantes estrangeiros que passaram pelo Rio de Janeiro no século XVIII davam impressões da quantidade de escravos que circulavam pelas ruas, como o já citado alemão [[Jonas Finck]] que asseverou cerca de 8.000 escravos negros em 1711, “todos vivendo em condições miseráveis”.<ref> FRANÇA, Jean Marcel Carvalho (org.). Visões do Rio de Janeiro Colonial: antologia de textos (1531-1800). Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p.88</ref> Bem mais tarde, em 1768, o oficial da marinha britânica [[James Cook]] estimava a população da capitania do Rio de Janeiro em 666.000 homens, com 37.000 brancos e 629.000 negros.<ref> FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Idem, p.179</ref> A população negra está claramente superdimensionada e tal número na verdade parece demonstrar muito mais a forte impressão que ficava nos viajantes da presença negra nas ruas, característica que saltou aos olhos de boa parte dos estrangeiros que pisaram na cidade durante os séculos XVIII e XIX.
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A crescente construção de engenhos para a produção do açúcar no século XVII impulsionaram a população africana escravizada na cidade e seu termo rural, fator que só viria a aumentar com a descoberta do ouro no interior e o maior dinamismo da economia da região sul-sudeste da América lusa.<ref>[[Maurício de Almeida Abreu]] contou 136 engenhos na cidade e seus arredores no final do século XVII, um crescimento significativo pois no início do mesmo século só existiam 13. Ver ABREU, Maurício de Almeida. Geografia Histórica do Rio de Janeiro (1502-1700). Volume 2. Rio de Janeiro: Andrea Jakobsson Estúdio Editorial & Prefeitura do Município do Rio de Janeiro, 2010, p. 94</ref> Alguns viajantes estrangeiros que passaram pelo Rio de Janeiro no século XVIII davam impressões da quantidade de escravos que circulavam pelas ruas, como o já citado alemão [[Jonas Finck]] que asseverou cerca de 8.000 escravos negros em 1711, “todos vivendo em condições miseráveis”.<ref>FRANÇA, Jean Marcel Carvalho (org.). Visões do Rio de Janeiro Colonial: antologia de textos (1531-1800). Rio de Janeiro: José Olympio, 2008, p.88</ref> Bem mais tarde, em 1768, o oficial da marinha britânica [[James Cook]] estimava a população da capitania do Rio de Janeiro em 666.000 homens, com 37.000 brancos e 629.000 negros.<ref> FRANÇA, Jean Marcel Carvalho. Idem, p.179</ref> A população negra está claramente superdimensionada e tal número na verdade parece demonstrar muito mais a forte impressão que ficava nos viajantes da presença negra nas ruas, característica que saltou aos olhos de boa parte dos estrangeiros que pisaram na cidade durante os séculos XVIII e XIX.
 
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Se essa impressão de uma cidade dominada por africanos e pardos no cativeiro foi a representação preferida dos viajantes, alguns mapas populacionais confeccionados a mando da Coroa portuguesa no final do século XVIII apontam de fato para o domínio da população escravizada nas imediações rurais da cidade. Para regiões como [[Jacarepaguá]], [[Campo Grande]] e [[Guaratiba]], freguesias dominadas pelos [[engenhos]] de açúcar e [[roças]] de pequenos lavradores, existem mapas realizados no ano de 1797 demonstrando que a população cativa ultrapassava os 50% do total em todas estas três paróquias, sendo que boa parte destes cativos se concentravam nas mãos dos senhores de [[engenho]] ainda naquele final de século.<ref> OLIVEIRA, Victor Luiz A. A zona oeste colonial e os mapas de população de 1797: algumas considerações sobre lavradores partidistas e produção agrária de Jacarepaguá, Campo Grande e Guaratiba no século XVIII. ''Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro''. Nº 10, vol. 1 - Jun, 2016.</ref>
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Se essa impressão de uma cidade dominada por africanos e pardos no cativeiro foi a representação preferida dos viajantes, alguns mapas populacionais confeccionados a mando da Coroa portuguesa no final do século XVIII apontam de fato para o domínio da população escravizada nas imediações rurais da cidade. Para regiões como [[Jacarepaguá]], [[Campo Grande]] e [[Guaratiba]], freguesias dominadas pelos [[engenhos]] de açúcar e [[roças]] de pequenos lavradores, existem mapas realizados no ano de 1797 demonstrando que a população cativa ultrapassava os 50% do total em todas estas três paróquias, sendo que boa parte destes cativos se concentravam nas mãos dos senhores de [[engenho]] ainda naquele final de século.<ref>OLIVEIRA, Victor Luiz A. A zona oeste colonial e os mapas de população de 1797: algumas considerações sobre lavradores partidistas e produção agrária de Jacarepaguá, Campo Grande e Guaratiba no século XVIII. ''Revista do Arquivo Geral da Cidade do Rio de Janeiro''. Nº 10, vol. 1 - Jun, 2016.</ref>
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[[category:Cidades e vilas]]
 
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Edição de 13h22min de 26 de abril de 2016

{{verbete|nome=Victor Luiz Alvares|sobrenome=Oliveira|verbete= As primeiras informações sobre a população carioca são muito vagas, ficando restritas à relação de viajantes e cronistas que estiveram na cidade, ou seja, são informações que não foram resultado de uma contagem rigorosa da população ou mesmo realizadas de forma oficial por poderes régios ou locais. Uma das primeiras estimativas é a de Pero de Magalhães Gândavo que, escrevendo na década de 1570, pouco tempo depois da fundação da cidade, afirma que nela poderiam haver 140 vizinhos.[1] O historiador Joaquim Veríssimo Serrão, com base nas cartas de sesmarias passadas no período de 1585 a 1598, estima que cerca de 40 a 50 sesmeiros vieram de outras capitanias para colonizar a cidade e os seus arredores, o que poderia significar um aumento de 200 a 300 habitantes na região pelo final do século XVI.[2]

Para o século XVII uma das relações mais completas da população é uma visita paroquial anônima intitulada Notícias do Bispado do Rio de Janeiro no ano de 1687. Segundo esta notícia, o núcleo da cidade contava com duas paróquias: a freguesia da Sé a freguesia da Candelária. No seu perímetro urbano viviam 7.000 pessoas (com 3.500 em cada uma das paróquias) divididas em 650 fogos na Sé e mais 600 fogos na Candelária. As freguesia do seu entorno e do recôncavo somavam menos ainda: a de São Gonçalo com 250 fogos e 1.500 pessoas (sendo 700 escravos); a de Santo Antônio de Macacu com 167 fogos e 1.037 pessoas; a de São João de Itaboraí com 91 fogos e 382 pessoas de comunhão; a de N. S. da Apresentação de Irajá com 200 fogos e 1.800 pessoas e a de N. S. do Loreto de Jacarepaguá com 186 fogos e 400 pessoas. Contava ainda com uma população vivendo em torno de capelas curadas ([[Tambí], São João de Meriti, Santíssima Trindade, Guapimirim, Suruí, Pacobaíba, Inhomirim, Marapicu, Santo Antônio, Inhoaíba, Campo Grande, Inhaúma, Magé e Caraí), perfazendo em finais do século XVII a cidade e suas imediações rurais uma população de 18.578 pessoas divididas em 3.101 fogos[3]

Pela altura da invasão do corsário francês Duguay Trouin em 1711, uma carta do alemão Jonas Finck que estava no Rio de Janeiro na época, dava conta de que a cidade contava com uma tropa de 1.000 soldados, 2.000 marinheiros, 4.000 cidadãos e 8.000 negros, perfazendo um total de 15.000 pessoas na sua estimativa.[4] Avançando no século XVIII a urbe dava mostras da sua crescente população. De acordo com as memórias públicas da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, pela observação dos anos de 1779 até 1789, a cidade já contava com quatro freguesias urbanas (Sé, Candelária, São José e Santa Rita) que neste período somavam 38.707 pessoas divididas em 5.827 fogos.[5] As freguesias de fora do muro da cidade somaram uma população 51.011, porém como os cálculos referente a estas freguesias apresentam alguns erros, é de supor que a sua população rural beirasse as 50.000 almas pela década de 1780[6] A população cativa das freguesias rurais era significativa, com 16.873 homens e 11.028 mulheres[7]

Pelo final dos setecentos estudos de João Fragoso atestam que o Rio de Janeiro se torna uma praça comercial de crescente importância, especialmente pela confluência de diversas rotas comerciais internas e externas que transparece um domínio econômico dos chamados comerciantes de grosso-trato, ligados com redes comerciais que poderiam ir desde o interior das capitanias de Minas Gerais e do Rio de Janeiro até praças ultramarinas como Luanda em Angola ou Goa na Índia.[8] Apesar da cidade e capitania do Rio de Janeiro possuir uma produção açucareira que remonta finais do século XVI, com o tempo este setor perde em termos de dinamismo econômico e vê suas potencialidades de acumulação perderem força se comparadas com as redes comerciais em torno da produção de alimentos para o abastecimento interno e do comércio de africanos.[9]

O crescente dinamismo econômico carioca no século XVIII propicia um aumento populacional que no limiar dessa centúria faria a população urbana ultrapassar os cinquenta mil habitantes. Monsenhor Pizarro relata que o mapa da população da cidade, organizado pelo vice-rei Conde de Resende, contou no ano de 1799 o número de 43.730 habitantes adultos com uma quantidade de fogos excedendo os 6.760. Posto que neste mapa não foi levado em consideração os indivíduos dos regimentos de linha, Pizarro não duvidava que por aquela época o total de habitantes do Rio de Janeiro bem poderia exceder 50.000 pessoas só no perímetro urbano.[10] Por sua vez,em 1796 a capitania do Rio de Janeiro contava segundo um Extracto da População um total de 182.757 pessoas, com 72.946 brancos, 19.165 pardos libertos, 6.582 pretos libertos e 84.064 escravos.[11]

A população escravizada, especialmente a africana, teve uma importância crescente na composição populacional, apesar de nem sempre ser fácil constatar o seu peso na demografia carioca. No final do século XVI já existiam indícios da presença de cativos africanos no Rio de Janeiro, porém mesmo com algumas fontes atestando a sua presença não existem estimativas mais específicas sobre a sua quantidade para o período.[12] No século XVII com o crescimento do comércio entre a praça carioca e as partes de Angola começa a se formar um cenário mais favorável à entrada de africanos, porém ainda assim faltam estimativas ou números concretos que atestem isso. Recentemente, Maurício de Almeida Abreu constatou a significativa presença de escravos de origem africana nos inventários e testamentos da capitania do Rio de Janeiro entre 1626 a 1700. No segundo e terceiro quarto do século XVII a presença deles superou os 50% de referências nos documentos, referendando a perspectiva defendida pelo autor de uma guinada atlântica da cidade já no seiscentos.[13]

A crescente construção de engenhos para a produção do açúcar no século XVII impulsionaram a população africana escravizada na cidade e seu termo rural, fator que só viria a aumentar com a descoberta do ouro no interior e o maior dinamismo da economia da região sul-sudeste da América lusa.[14] Alguns viajantes estrangeiros que passaram pelo Rio de Janeiro no século XVIII davam impressões da quantidade de escravos que circulavam pelas ruas, como o já citado alemão Jonas Finck que asseverou cerca de 8.000 escravos negros em 1711, “todos vivendo em condições miseráveis”.[15] Bem mais tarde, em 1768, o oficial da marinha britânica James Cook estimava a população da capitania do Rio de Janeiro em 666.000 homens, com 37.000 brancos e 629.000 negros.[16] A população negra está claramente superdimensionada e tal número na verdade parece demonstrar muito mais a forte impressão que ficava nos viajantes da presença negra nas ruas, característica que saltou aos olhos de boa parte dos estrangeiros que pisaram na cidade durante os séculos XVIII e XIX.

Se essa impressão de uma cidade dominada por africanos e pardos no cativeiro foi a representação preferida dos viajantes, alguns mapas populacionais confeccionados a mando da Coroa portuguesa no final do século XVIII apontam de fato para o domínio da população escravizada nas imediações rurais da cidade. Para regiões como Jacarepaguá, Campo Grande e Guaratiba, freguesias dominadas pelos engenhos de açúcar e roças de pequenos lavradores, existem mapas realizados no ano de 1797 demonstrando que a população cativa ultrapassava os 50% do total em todas estas três paróquias, sendo que boa parte destes cativos se concentravam nas mãos dos senhores de engenho ainda naquele final de século.[17] }} }}


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