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Itĩnga (engenho de bois)

De Atlas Digital da América Lusa

Itĩnga (engenho de bois)

Geometria

Coleção Levy Pereira


Itĩnga

Engenho de bois com igreja, na m.d. do 'Potĩjĩ ou Rio grande' (Rio Potengi).


Natureza: engenho de bois com igreja.


Mapa: PRÆFECTURÆ DE PARAIBA, ET RIO GRANDE.


Capitania: RIO GRANDE.


Jurisdição: Prefeitura do Rio Grande.


Nomes históricos: Engenho Outinga (Itinga, Utinga); Engenho Potengi (Potigi; Potenji), engenho de Francisco Coelho.


Nome atual: Fazenda Utinga, no povoado Utinga, município de Macaíba-RN. Não mais existe como engenho.


Toponímia:

(Câmara Cascudo, 1968), pg. 132:

"UTINGA:- Povoação de S. Gonçalo. De i-tinga, água branca. ...".

Citações:

►Mapa RG (IAHGP-Vingboons, 1640) - plotado com símbolo de engenho, 'Ԑnğ Outinga.', na m.d. do 'R. Potozÿ'-'Rio Grande'.


(Nassau-Siegen; Dussen; Keullen - 1638), pg. 95:

"2. Engenho Potigi, decaído há longos anos, e diz-se que não tem terras capazes. ".


(Dussen, 1640), pg. 176:

"165) Engenho Potigi, está totalmente arruinado e abandonado. ".


(Laet, 1644), Livro Undécimo - 1634, pg. 673, descrevendo a Capitania do Rio Grande:

"Além do Rio Grande ou Potengi, há ainda o Rio Camaratuba, que desemboca no Rio Grande e no curso superior por várias vezes desaparece no solo e surge mais adiante. Essa capitania poderia conter uns 12 ou 13 engenhos, e no entanto há apenas dois, a saber engenho Cunhaú e Outinga.".

  • Nota: O Rio Camaratuba acima citado está com o nome estropiado: é o rio mostrado no mapa (IAHGP-Vingboons, 1640) #51 CAPITANIA DE RIO GRANDE, afluente m.e. do 'Rº. Potozÿ' (Rio Potengi), denominado 'Rº. Camariginÿ ʃeeƒst on∂ԑr hԑt ʃan∂ԑ ∂oor. Ԑn∂ԑ vԑrthoonԑ ʃich wԑԑ∂ԑraʃc hiԑr it ʃicԑn is.', cujo nome atual é Rio Camaragibe. O desenho do rio nesse mapa mostra-o com o curso interrompido, e a tradução da denominação explicativa o confirma que ele 'no curso superior por várias vezes desaparece no solo e surge mais adiante' - é um rio temporário, com leito com muita areia e cascalho fino.


(Coelho, 1654):

@ pg. 267 CD-BECA (pg. 127b edição de 1654), citando fatos ocorridos imeditamente após rendição do Forte do Rio Grande, em 12 de dezembro de 1633:

"Logo que o inimigo teve o forte do Rio Grande, embarcou 200 homens, e com eles Calabar. Foram rio acima até um engenho de Francisco Coelho, que estaria a duas léguas. Ali se havia retirado a maior parte dos moradores que viviam na povoação, com nome de cidade, ainda que bem pequena, que ficava perto do forte, a meia légua. Chegando-lhes aviso de que ia o inimigo, um deles, chamado Pedro Vaz Pinto, escrivão da Fazenda Real daquela praça, e a quem todos respeitavam pelos rasgos da sua pena, persuadiu até 40 a tomarem as armas, levando por cabo João Ferreira, que havia servido no Real. Emboscando-se em um lugar muito apropriado, por onde o inimigo tinha de passar, foi bastante para impedi-lo, ainda com morte de oito homens e alguns feridos. Parecendo-lhe que seriamos mais, houve de retirar-se.".

@ pg. 272-273 CD-BECA (pg. 130a-130b edição de 1654), citando fatos do início de 1634:

"Baixando, pois, logo, o João Dui com muitos destes Tapuias, deu impensadamente no engenho de Francisco Coelho, para onde, pouco antes, tinham se retirado alguns moradores. E mataram-no, e sua mulher, cinco filhos e todos os que acharam; e excederia de 60, sem conceder vida a nenhum, propriedade destes bárbaros. Feito isto, foram ao forte, onde entrou o Dui com poucos, e todos se viram bem hospedados, e com dádivas para eles estimáveis. Porém, conservava-os, menos por amar sua vizinhança, que por servir-se deles contra nós.".


(Cabral de Mello, 2012):

@ pg. 169, Os engenhos de açúcar do Brasil Holandês, IV - Capitania do Rio Grande:

«1) POTENGI. Também denominado Utinga. Sem indicação de orago. Sito à margem direita do Potengi. Quando da ocupação holandesa, pertencia a Francisco Coelho, filho de Feliciano Coelho de Carvalho, ex-governador da Paraíba e da capitania de Itamaracá, que fundou o engenho. Em 1637 e 1639, achava-se, "há longos anos", "totalmente arruinado e abandonado", por não ter "terras capazes".(1)».

@ pg. 193, Notas:

«(1) "Livro do tombo", pp. 329-30; FHBH, I, pp. 95, 176; RCCB, p. 79; MDGB, p. 134.».


NOTAS:

1) Conclui-se, neste estudo, que o engenho 'Itĩnga' - 'Outinga' é o Engenho Potigi pelas seguintes razões:

- Está mapeado no BQPPB e no RG (IAHGP-Vingboons, 1640), na mesma posição, m.d. do Rio Potengi;

- Está no vale do rio Potengi, distando 2 Km do rio, e não na m.d. do 'Nhumdiáĩ' (Rio Jundiaí);

- Não há engenho 'Potigi' nem outro engenho plotado no mapa BQPPB ou no RG (IAHGP-Vingboons, 1640) na bacia do Potengi, todavia, assim é citado nos dois relatórios, possivelmente pelo costume de se denominar engenhos com o nome do vale do rio onde estão situados;

- (Laet, 1644), o "Iaerlijck Verhael", cita que só há dois engenhos no Rio Grande: Outinga e Cunhaú.

2) Assim, o Ferreiro Torto não é o Engenho Potengi, ainda que renomados historiadores norte-riograndenses, por exemplo Augusto Tavares de Lira e Câmara Cascudo, identifiquem o Engenho Ferreiro Torto como o engenho seiscentista no vale do Rio Potengi. O Engenho Ferreiro Torto, frisa-se, fica no vale do 'Nhumdiáĩ' (Rio Jundiai).

(Tavares de Lira, 1921):

@ pg. 64:

"Embarcando-se em três grandes botes de vela e três botes dos navios, seguiu rio acima até o passo do Potigi, donde continuou a marcha por terra. Sabido que na capitania só havia então dois engenhos — o Ferreiro Torto e o Cunhaú — e só tendo sido este último assaltado posteriormente, é fora de dúvida que os expedicionários se dirigiram ao primeiro. A descrição do que sucedeu indica-o claramente:

«Esta tarde (de 15) regressou a expedição saída ontem, referindo que, logo que ontem desembarcaram na passagem de Potigi, foram descobertos por alguns dos inimigos ali de vigia, dos quais mataram alguns e fizeram prisioneiro a um velho, que aliás não pertencia à referida guarda; avançando, por espaço de três léguas, para o interior do país, até chegarem a um estreito passo, em cuja extremidade havia uma planície, onde os esperava o inimigo, derribando logo com a primeira descarga a quatro ou cinco dos nossos; mas, acometidos com resolução, puseram-se em fuga, apesar de numerosos constando principalmente dos soldados e moradores saídos do forte e de muitos brasileiros, que pouco os secundaram; prosseguindo na marcha por algum tempo, chegaram a um pântano que teriam de atravessar para alcançar o engenho, e, como fossem diminutas as nossas forças e ignoradas as do inimigo, foi deliberado bater em retirada, tanto mais quanto o velho prisioneiro declarou que da Paraíba era esperado um socorro de 300 soldados, que estavam já em caminho e deviam chegar a qualquer hora; trouxeram o referido prisioneiro e afirmaram terem ficado mortos vários dos inimigos; o seu chefe parece ser P. Vaz Pinto, que se ausentou do forte sem licença, apesar de ter pedido para ficar com o capitão-mor e poder sair e voltar, a fim de obter galinhas e outros víveres para o mesmo, sendo-lhe permitido ficar, mas não sair e voltar, pelo que de uma feita se ausentou, não regressando mais. ...». ".

@ pg. 65:

"Esse engenho pertencia a Francisco Coelho (Ferreiro Torto é ainda hoje o nome de um engenho situado à margem direita do rio Jundiaí e à pequena distância de Macaíba. É possível que o primitivo engenho não tivesse sido construído no mesmo lugar do atual; mas devia ficar nas suas imediações. ".

3) O mestre Câmara Cascudo também associa engenho Outinga (Utinga) com Engenho Potengi, apesar de seguir identificando-o como Ferreiro Torto:

(Câmara Cascudo, 1955), pg. 78:

"O outro engenho, Ferreiro Torto, teve existência curtíssima. Em 1614 não existia e em 1630 estava de fogo morto pela ruindade das terras, escreve Verdonck. Laet deu-lhe nome de Outinga (Utinga) e no Sommier Discours aparece como Engenho Potengi, «decaído há longos anos, e diz-se que não tem terras capazes». Depois dessa data não funcionou. Não há noticia de sua produção no domínio holandês.".

4) Deve-se também levar em conta que o Engenho Ferreiro Torto está situado na m.d. do 'Nhumdiáĩ' (Rio Jundiaí), logo acima da foz do 'Itâguacutĩoba' do BQPPB. Dista menos de 200 m do Jundiaí, que aí ainda é navegável para embarcações pequenas (botes a vela). Não há como colocar o Ferreiro Torto a três léguas de distância de porto no Rio Grande ("na passagem do Potengi").

5) O engenho 'Itĩnga' - 'Outinga' dista 2 Km do Rio Potengi, porem o Potengi praticamente não é navegável desde que recebe o 'Nhumdiáĩ' (Rio Jundiaí).

6) A "passagem do Potengi" possivelmente é o porto conhecido como Porto do Flamengo, cercanias da foz do 'Vruguaguacu' (Rio da Prata), que, acima da lagoa que há no seu curso (Lagoa de Uruaçu) é o 'Acaiuarĩ' (Rio da Prata), chamado por Câmara Cascudo de Cunhã-Ari, porto este tristemente célebre pela proximidade do local do massacre de Uruaçu (Tinguijada).

7) O Porto do Flamengo situa-se na m.e. do 'Nhumdiáĩ' (Rio Jundiaí), e o Engenho Ferreiro Torto, na sua m.d. .

8) O Porto do Flamengo dista 12,2 Km, em linha reta, do engenho 'Itĩnga' - 'Outinga', e pelo caminho probabilístico (segundo a interpretação no georreferenciamento do caminhos desenhados no BQPPB), dista 16,3 Km, que se coaduna muito bem com as três léguas após o porto citadas.






Citação deste verbete
Autor do verbete: Levy Pereira
Como citar: PEREIRA, Levy. "Itĩnga (engenho de bois)". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/It%C4%A9nga_(engenho_de_bois). Data de acesso: 20 de abril de 2024.


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