Ações

Livro 4 - DA HISTORIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Manuel Teles Barreto ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Gaspar de Souza - Capítulo 24.2 - De como veio Feliciano Coelho de Carvalho governar a Paraíba, e foi continuando com as guerras dela

De Atlas Digital da América Lusa

Livro 4 - DA HISTORIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Manuel Teles Barreto ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Gaspar de Souza - Capítulo 24.2 - De como veio Feliciano Coelho de Carvalho governar a Paraíba, e foi continuando com as guerras dela

Geometria

No ano de 1591 no mês de maio chegou a Pernambuco Feliciano Coelho de Carvalho, fidalgo, que se criou de moço na África, bom cavalheiro, e de bom conselho, o qual mandando o seu fato por mar, se partiu por terra ao seu governo da Paraíba, e achou a cidade posta em tanto aperto com os contínuos assaltos, que os Potiguares faziam nas suas roças e arrebaldes, que determinou de correr a terra, e enxotá-los dela, e para isto pediu a Pero Lopes, capitão-mor da ilha de Itamaracá, que o ajudasse com sua pessoa, e gente, como fez como cinqüenta homens brancos de pé e de cavalo, e trezentos negros, e assim se partiram ambos em muita conformidade, levando o governador da Paraíba o gentio Tobajar, e os mais brancos, que pôde, repartidos uns, e outros em companhias, com suas caixas e bandeiras, e logo deram com uma aldeia grande, que levavam espiada, onde posto que acharam os inimigos descuidados, não deixaram de fazer rosto aos da nossa vanguarda, travando-se entre uns e outros uma grande escaramuça, porque os contrários cuidavam que não era a gente mais, porém, depois que viram os de cavalo, e mais de pé, que iam chegando, começaram a virar as costas, posto que tarde, porque o nosso exército estava já todo junto, e mataram tantos, que era piedade ver depois tantos corpos mortos, e aos mais que fugiram foi seguindo a nossa vanguarda, não sem resistência de muitas flechadas, que iam tirando, porque tinham costas em outra aldeia, que distava destoutra um quarto de légua, para a qual se iam retirando, donde saíram muitos a socorrê-los, e fizeram parar os nossos, jogando-se de parte a parte muitas flechadas, e ferindo-se muitos, até que chegou o capitão Martim Lopes Lobo, filho de Pero Lopes, com dois homens mais de cavalo, e 20 arcabuzeiros, e alguns negros, com que os nossos cobrando ânimo remeteram com fúria, e os contrários com medo se espalharam pelos matos, dando-lhes lugar que entrassem na aldeia, e fizessem tal matança nas mulheres, meninos, e velhos, que nela ficaram, que só um foi tomado vivo, por se meter debaixo do cavalo do capitão Martim Lopes, e ele o defender, para se saber da determinação dos franceses, e gentio, e neste tempo... N. B. — O resto deste capítulo vigésimo quarto não está concluído, pois lhe faltam folhas, como se vê na página seguinte do Msc., a qual parece ser parte do capítulo trigésimo, visto o que se segue ser o capítulo trigésimo primeiro, havendo portanto um salto de seis capítulos. Parte do capítulo que parece ser o trigésimo ... mandado pedir socorro, trazendo em sua companhia a d. Jerônimo de Almeida, que poucos dias havia chegado de Angola, e outros muitos cavaleiros, que havia na capitania, os quais ficaram todos admirados de ouvir que tão poucos se defendessem de tantos, e os ofendessem de maneira, que está dito, e por não serem já necessários daí a alguns dias se tornaram para Pernambuco, mas não deixou de resultar grande proveito deste socorro; porque vendo uma índia Potiguar de um soldado casado, que andava já doméstica entre os nossos, tanta gente de cavalo, o foi com grande espanto contar à senhora, a qual lhe respondeu: «Isto que tu vês é nada, sabe que ainda há de vir muita mais, para irem matar todos teus parentes, e a quantos franceses andam entre eles, senão olha tu quão poucos soldados no Cabedelo desbarataram a gente de tantos navios, e por aqui verás se estes, que vês, forem à serra, e os mais, que hão de vir, se deixaram lá coisa viva.» Esta Potiguar ouvindo isto fugiu para os seus, ainda antes que Manuel Mascarenhas se partisse da Paraíba, e os achou apercebendo-se para virem dar sobre os nossos com ajuda de Monsieur Rifot, de quem temos contado o mal que fez por esta costa, o qual escreveu uma carta de desafio a Feliciano Coelho, e metida em um cabaço lha mandou pôr em um caminho, donde os nossos espias a trouxeram, e posto que Feliciano Coelho lho mandou pôr outra vez no mesmo posto onde foi achado sem outra resposta mais que pólvora e pelouros dentro, significando que com isto se havia de defender, e mandou outra vez pedir socorro em Pernambuco melhor foi desviá-los a negra que não viessem, dizendo-lhes que seriam todos mortos; porque eram inumeráveis os portugueses de pé, e de cavalo, que vieram de Pernambuco, o que ouvido por Rifot, mandou pôr em esquadrão todos os seus franceses, e Potiguares, que eram infinitos, e lhe perguntou se seriam os portugueses tantos como aqueles, e a negra respondeu que mais eram, e tomando seis ou sete punhados de areia a lançou para o ar, dizendo-lhe que ainda eram mais que aqueles grãos de areia, com que os parentes se começaram a acobardar de modo, que o Rifot lhes disse que para tanta gente era necessário ir buscar mais à França e assim se despediu com os seus para o rio Grande, onde tinha as naus, e se embarcaram nelas para sua terra, e os Potiguares se espalharam pelas suas mui cheios de medo, como tudo constou por dito de três, que os nossos corredores tomaram em uma roça.


Ficha técnica da Fonte
Autor: Frei Vicente do Salvador
Data: 1627.
Referência: .
Acervo: .
Transcrição: .
link principal no BiblioAtlas: Frei Vicente do Salvador - A História do Brazil