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Livro 4 - DA HISTORIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Manuel Teles Barreto ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Gaspar de Souza - Capítulo 4

De Atlas Digital da América Lusa

Edição feita às 08h51min de 9 de janeiro de 2013 por Tiagogil (disc | contribs)

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Tomado o assento que fica dito no capítulo precedente se aprestaram, e saíram da Bahia a primeiro do mês de março do ano de 1584 com uma armada de nove naus, sete castelhanas, e duas portuguesas, e chegaram a Pernambuco a vinte do mesmo, onde logo desembarcou o ouvidor-geral, ficando de fora toda a armada, e fez ajuntar em Câmera d. Filipe de Moura, capitão da capitania por Jorge de Albuquerque, senhor dela, com os mais vogais, em que também se achou d. Antônio de Barreiros, bispo deste estado, que havia ido na armada a visitar as igrejas de Pernambuco, e Itamaracá, e ficou assentado se aprestasse tudo para domingo de Páscoa partirem d. Filipe de Moura por cabeça, com a gente que o ouvidor-geral havia de fazer, como logo começou rogando um, e um, compondo-lhes suas coisas, com que se aviaram muitos dos moradores de Pernambuco, e se ajuntaram na vila de Iguaraçu no dia sinalado; havendo já d. Filipe juntos os da ilha de Itamaracá no engenho de seu sogro Filipe Cavalcante, em Araripe, até onde Martim Leitão acompanhou o arraial,e depois de partidos dali ajuntou mais alguns 40 homens, que entregues a um Álvaro Bastardo, mandou a d. Filipe, e o alcançaram junto ao rio Paraíba, onde tiveram todos um recontro com o gentio; mas enfim passaram o rio acima para a banda do norte, por onde Simão Rodrigues Cardoso o havia outra vez passado, e foram demandar a barra, onde acharam a Diogo Flores, que já tinha queimadas três naus francesas, que ali achou surtas, e varadas em terra, donde indo para subir em uma lhe deram os inimigos de dentro do mato uma flechada no peito, que lhe não fez nojo, pelas boas armas que levava, e porque o principal fim, que se pretendia, era povoar-se a terra, chegado, e alojado o arraial, saiu Diogo Flores, e tomado conselho entre os capitães, assentaram fazer-se um forte primeiro, para que à sua sombra pudessem povoar. Para o qual nomeou o general por alcaide o capitão da sua infantaria Francisco Castejon com 110 arcabuzeiros castelhanos, e 50 portugueses, para os quais e para povoação, que se havia de fazer, remeteu ao exército português elegesse cabeça, e por a maior parte ser de vianeses, se elegeu Frutuoso Barbosa, que era vianês, tendo-se também respeito à provisão que apresentou de el-rei d. Henrique, em que o fazia capitão da Paraíba se a conquistasse, posto que, como era condicional, faltando a condição parece que já não obrigava, e este era o parecer do general. O forte se situou logo uma légua da barra da parte do norte, defronte da ponta da ilha, mas, por não fugirem os soldados, com o largo rio, que fica em meio, que por ser bom sítio, que é baixo, e de ruim água, do qual ficou por alcaide o capitão Francisco Castejon, e dele deu homenagem ao general Diogo Flores, e se lhe pôs o nome de S. Filipe e Santiago; no dia dos quais santos se fez à vela o general caminho de Espanha, onde chegou a salvamento. O capitão Simão Falcão, enquanto os mais assistiam na obra do forte, espiada uma aldeia dos inimigos a salteou uma madrugada, matando alguma gente, e cativando quatro, com cuja língua o nosso exército, vendo que já ali não era de efeito, se partiu a via do sertão em busca dos inimigos até uma campina, que se chama das Ostras, três léguas do forte, onde se alojou, e por ser a festa do Espírito Santo, e a gente ser dada a folgar, se puseram a festejar com muito descuido o dia, e oitavas, e dizia d. Filipe por descargo que esperava a seu sogro Filipe Cavalcante, que havia ficado no forte. Uma tarde ouvindo uma trombeta, e grande rumor, foram dez de cavalo, e alguns quarenta de pé com muitos índios à ordem de um Antônio Leitão, com muita desordem, a descobrir campo, e deram em uma cilada, que os começou a sacudir até chegarem à vista do arraial, sem haver acordo para lhes acudirem, antes se pôs tudo em tão grande confusão, que vinda a noite se deitaram a uma lagoa por onde haviam tornar ao forte, e passando uns por cima dos outros, voando com asas do medo, que levavam, foram bater às portas do forte, que o alcaide, enfadado de os ver, lhes não quis abrir, deixando-os estar à chuva toda a noite, que foi leve castigo para o merecido. Vindo o dia lhes persuadiu que tornassem a buscar os inimigos com mais cinqüenta arcabuzeiros, que lhes dava dos do presídio, e tais estavam que nem com isto quiseram ir, senão voltar para Pernambuco, e assim se vieram, passando o rio defronte do forte em barcos com bem trabalho por ser inverno, que os tratou mal todo o caminho, onde lhes morreram muitos cavalos, e escravos à míngua.


Ficha técnica da Fonte
Autor: Frei Vicente do Salvador
Data: 1627.
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