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Livro 4 - DA HISTORIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Manuel Teles Barreto ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Gaspar de Souza - Capítulo 5 - Dos socorros, que por indústria do ouvidor-geral se mandaram a Paraíba

De Atlas Digital da América Lusa

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Livro 4 - DA HISTORIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Manuel Teles Barreto ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR Gaspar de Souza - Capítulo 5 - Dos socorros, que por indústria do ouvidor-geral se mandaram a Paraíba

Geometria

Chegados desta maneira a Pernambuco, em o mês de junho, começaram logo os requerimentos do alcaide do forte, e Frutuoso Barbosa por ficarem faltos de mantimentos; e os inimigos por ficarem vitoriosos os molestaram tanto, que só os detinha a não levarem a fortaleza nas unhas a fúria da artilharia, que achando-os em descoberto os despedaçava, a cuja sombra o alcaide em algumas escaramuças, que com eles teve, lhes mostrou o valor da sua pessoa, e dos espanhóis, e portugueses, que o seguiam, apesar de seu capitão Frutuoso Barbosa, que não tinha paciência com estas escaramuças, e com requerimentos as estorvava quanto podia; e assim encontrados ele, e o alcaide nos humores, tudo eram brigas, e ruins palavras, fazendo papeladas um do outro, que mandavam ao ouvidor-geral, com requerimentos do socorro dos mantimentos, que como conhecido por mais zeloso do serviço de el-rei até isto batia nele, sendo obrigação do provedor Martim Carvalho, que pelo contrário se mostrava mui remisso, e por esta causa se começaram entre ambos grandes desavenças; crescendo sempre do forte os requerimentos, porque se viam nele tão apertados da guerra, e fome, que até os cavalos tinham comido. Mandou-lhes Martim Leitão por mar 24 homens a cargo de um Nicolau Nunes com alguns mantimentos, que deu o provedor, mas foram tão parcos, e cresciam tanto os rebates dos inimigos Potiguares, que o alcaide do forte se veio no mês de setembro a Pernambuco a pedir socorro; onde achou a Pedro Sarmento, que o general havia deixado com o almirante Diogo da Ribeira no Rio de Janeiro para ir povoar o estreito de Magalhães, e governar a povoação, que fizesse, donde já vinha destroçado, e pedia também mantimento, que se lhe deu para poder passar à Espanha; mas o alcaide Castejon havia-se tão devagar, que andava impaciente; pelo que achando-se um dia / depois de outros muitos / em casa de Martim Carvalho com os juízes e oficiais da Câmera, em presença do bispo, vieram a muito ruins palavras, sobre as quais alguma gente da casa arrancou com os soldados do alcaide em cima onde todos estavam, e baralhados assim saíram à rua com grande briga, a que acudiu muita gente com o ouvidor-geral, que os apaziguou como pôde; por isto se tornou o almirante para a Paraíba, no mês de outubro, mal-provido, e com claras mostras de o ser cada vez menos pelo ódio em que com eles ficava o provedor. Mas foi de muito efeito a sua tornada, porque logo no novembro seguinte entraram duas naus francesas na Paraíba, e reconhecendo o forte, e uma nau grande portuguesa com dois patachos, que lhe Diogo Flores tinha deixado, se saíram, e foram surgir três léguas daí na boca da baía da Traição, e começando trato com os Potiguares, vieram de lá por terra correr o forte, trazendo alguns berços, com que grandemente o apertavam, fazendo grandes cavas, e bardos de terra, e areia, pelos não pescar a artilharia; com os quais, e outros ardis, como práticos nas nossas guerras, puseram o alcaide em termos de desesperar de poder defender-se, e logo disso avisou ao ouvidor-geral, com grandes requerimentos, assim seus como de Frutuoso Barbosa. O ouvidor no primeiro dia que lhos deram se foi dormir ao Recife, onde aprestou um navio de setenta toneladas à sua custa com muitos homens brancos, e setenta índios, e por capitão um Gaspar Dias de Moraes, soldado antigo de Flandes, que por seu rogo aceitou sê-lo, e em dois dias, andando em uma rede por andar doente, os deitou pela barra fora; este navio, e a galé de Pedro Lopes Lobo, capitão de Itamaracá, que também o ouvidor forneceu, em que o mesmo Pedro Lopes foi por capitão com cinqüenta homens, e alguns índios, chegaram a Paraíba, onde foram recebidos, e estimados como a própria vida. Os franceses vendo o socorro se recolheram às suas naus, que haviam deixado na baía da Traição, e consultando o caso o almirante com os capitães do socorro, assentaram que ficasse Pedro Lopes capitão da galé no forte, por respeito do muito gentio, que diziam passar de dez mil, os que o tinham cercado com suas cavas, e trincheiras, e que o alcaide na sua galé, e nau, que lá tinha, e a do socorro, fossem buscar os franceses, como logo foram, e tomando-lhes o mar os fizeram varar em terra com as naus, e lhas queimaram, e mataram alguns, que foi honrado feito por serem as naus grandes, e estarem avisados; mas a nau do forte, por ser muito grande, e a costa ali ir já muitovoltando para as Índias, arribou a elas, e nela foi a maior parte da artilharia, que haviam tomado das francesas. O navio, e galé voltaram, e chegando ao forte desembarcando de súbito, e com a gente de dentro, deram nos inimigos com tão grande ímpeto, que lhes ganharam as suas estâncias, matando muitos, com o que se afastaram bem longe, e os nossos cobraram a água, que lhes tinham tomada, e assim ficando os do forte mais largos, que nunca; e todos muito contentes, com grandes louvores ao ouvidor-geral se tornaram os de Pernambuco, e Itamaracá até lhe dar razão de tudo, e receber os parabéns da jornada, que fui de muito efeito, assim para o desengano dos franceses, que nem na baía da Traição haviam de ter colheita, como dos Potiguares, que já com eles por nenhuma parte poderiam ter comércio.


Ficha técnica da Fonte
Autor: Frei Vicente do Salvador
Data: 1627.
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