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Livro 5 - DA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Gaspar de Souza ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR DIOGO LUIZ DE OLIVEIRA - Capítulo 33 - Da morte do coronel Alberto Scutis, e como lhe sucedeu seu irmão Guilhelmo Scutis, e se continuaram os assaltos

De Atlas Digital da América Lusa

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Livro 5 - DA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Gaspar de Souza ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR DIOGO LUIZ DE OLIVEIRA - Capítulo 33 - Da morte do coronel Alberto Scutis, e como lhe sucedeu seu irmão Guilhelmo Scutis, e se continuaram os assaltos

Geometria

Muito solícito andou o coronel Alberto Scutis, depois que teve estas novas, em fortificar a cidade e o porto, entendendo que por uma parte e outra lhe convinha defender-se, e principalmente mandou acabar, e perfeiçoar o forte da praia, que Diogo de Mendonça começou, e não tinha ainda acabado, mas nem por isto deixava de andar em festas, e banquetes, assim na terra como nas naus, a que levava o seu prisioneiro d. Francisco Sarmento com toda a sua família, e porventura daqui se lhe originou dar em uma enfermidade, de que morreu em poucos dias. Logo o dia em que o coronel Alberto Scutis morreu, que foi a vinte e quatro de janeiro de mil seiscentos e vinte e cinco, foi levantado por coronel seu irmão Guilhelmo Scutis, que era capitão-mor ou mestre de campo, ficando em seu lugar o capitão Quife; no dia seguinte se deu sepultura ao defunto na Sé e com as mesmas cerimônias, que se fizeram na do primeiro coronel, de que tratamos no capítulo undécimo, senão que deram mais duas surriadas que ao outro, ou fosse por ser irmão do coronel, ou por neste mesmo dia lhe haver chegado uma nau de Holanda com 60 soldados a 13 de março chegou outra, que por o vento lhe ser escasso, e os que a governavam duvidarem se o porto seria ainda seu, andou dois dias aos bordos sem entrar, nem menos duvida, e receio houve com isto na cidade, suspeitando que seria da armada de Espanha, e andaria esperando pelas mais; e assim se apercebeu o coronel com todas as prevenções necessárias; porém quietaram­se com a chegada da nau, vendo que era sua, e vinha carregada de ladrilho, que muito estimaram, para uma torre que tinham começada à porta do muro, que vai para o Carmo, para a qual iam tirando a pedra já da capela nova da Sé, e porque lhes faltava cal, foram aos dezessete do mesmo mês pela manhã cedo a uma casa donde a havia além do Carmo, junto da ermida de Santo Antônio, buscá-la com muitos negros, e sacos para a trazerem, e cento e vinte soldados mosqueteiros de resguardo, os quais metidos na casa da cal, e em outras ali vizinhas, porque chovia, saíam alguns poucos a vigiar, a que saiu o capitão Jordão de Salazar, que estava na ermida, e logo o capitão Francisco de Padilha, e Jorge de Aguiar, e os mais capitães dos assaltos, que por ali andavam perto, e se travou entre todos uma rija batalha, na qual por chover, e não poderem usar das armas de fogo as largaram, e vieram às espadas, com que nos mataram dois homens, e feriram 12, e os nossos mataram nove holandeses, um dos quais era tenente-coronel, e feriram muitos; tomaram-lhe 18 mosquetes, duas alabardas, um tambor, e algumas espadas, assim dos mortos, como dos que fugiram; mas vendo que lhes vinha socorro da cidade se retiraram os nossos, dando-lhes lugar que levassem os seus mortos e feridos, posto que sem a cal, que iam buscar. Não trato dos assaltos, que se deram aos negros seus confederados, que algumas vezes saíam fora pelas roças como quem bem as sabia, e os caminhos, a buscar frutas para lhes venderem, dos quais foram alguns tomados, e a um destes cortou o capitão Padilha ambas as mãos, e o tornou a mandar para a cidade com um escrito pendurado ao pescoço, em que desafiava o capitão Francisco, que era o mais conhecido, porque este / como já disse/ é o que tomou Martim de Sá no Rio de Janeiro, e o mandou o capitão-mor Constantino Menelau de lá a esta cidade, onde esteve preso muito tempo. O qual saiu ao desafio com duzentos mosqueteiros, e alguns negros flecheiros, mas quando viu a confiança com que o estavam aguardando além de S. Bento, junto a ermida de S. Pedro, e sentiu um rumor no mato, que imaginou ser manga de índios, para lhe tomarem as costas, posto que realmente não eram senão uns negros, que iam carregados de tábuas da ermida de Santo Antônio da Vila Velha para o arraial, isto bastou para não ousar a cometer, nem ainda a esperar, e se tornou para a cidade. Outra fineza fez o capitão Francisco Padilha com seu primo Antônio Ribeiro, que se foram a um bergantim dos holandeses uma noite, e junto da fortaleza nova, e dos seus navios, que tinham continua vigia, o levaram dali à vista da sua nau, que estava vigiando na barra, a meter no rio Vermelho com duas peças pequenas de bronze, e quatro roqueiras, que tinha dentro, indo por terra o capitão Francisco de Castro, com a sua companhia, e a do Padilha de resguardo, para que se os holandeses fossem atrás do bergantim o encalhassem em terra, e lho defendessem, o que eles não fizeram por se não poderem persuadir / segundo diziam / que lho levaram os portugueses, senão que se desamarrara, e o vento, e a maré o levara.


Ficha técnica da Fonte
Autor: Frei Vicente do Salvador
Data: 1627.
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Acervo: .
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