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Livro 5 - DA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Gaspar de Souza ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR DIOGO LUIZ DE OLIVEIRA - Capítulo 5 - Do socorro, que o governador Gaspar de Souza mandou por Francisco Caldeira de Castelo Branco ao Maranhão

De Atlas Digital da América Lusa

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Livro 5 - DA HISTÓRIA DO BRASIL DO TEMPO QUE O GOVERNOU Gaspar de Souza ATÉ A VINDA DO GOVERNADOR DIOGO LUIZ DE OLIVEIRA - Capítulo 5 - Do socorro, que o governador Gaspar de Souza mandou por Francisco Caldeira de Castelo Branco ao Maranhão

Geometria

Entendendo o governador a necessidade que haveria no Maranhão de socorro assim de gente como de munições e mantimentos, logo no ano seguinte de mil seiscentos e quinze, ordenou outra armada, de que mandou por capitão-mor Francisco Caldeira de Castelo Branco, por almirante Jerônimo de Albuquerque de Mello em uma caravela, o capitão Francisco Tavares em outra, e João de Souza em um caravelão grande. Partiram do Recife, porto de Pernambuco, em 10 dias do mês de junho da dita era, e aos quatorze chegaram à enseada de Mucuripe, que dista da fortaleza do Ceará três léguas, onde ancoraram, e saiu a gente em terra a se lavar e refrescar, porque iam alguns doentes de sarampo, que com isto guareceram, e os sãos pescaram com uma rede, que lhe deu o tenente da fortaleza, e tomaram muito peixe. Aqui achou o capitão Francisco Caldeira três homens, que Jerônimo de Albuquerque, capitão-mor do Maranhão, mandava por terra pedir socorro ao governador, e estes eram Sebastião Vieira, Sebastião de Amorim, e Francisco de Palhares, dos quais os dois primeiros não deixaram de continuar seu caminho com as cartas, que levavam do Maranhão, e outras que daqui se escreveram, mas o Palhares se embarcou na armada assim pelo socorro, que já nela ia, como por dizer o tenente que havia poucos dias se partira daquele porto um patacho, que também el-rei mandara de Lisboa com munições e pólvora, e mais coisas necessárias, aos dezessete se tornou a nossa armada a fazer à vela, e foi ancorar ao Buraco das Tartarugas aos dezoito, donde mandou o capitão-mor um língua com alguns índios a uma aldeia da gente do Diabo Grande, que era um principal dos Tabajaras assim chamado, ficando entretanto os mais pescando na praia, e comendo abóboras e melancias, que acharam ali muitas, das plantas que havia deixado Manuel de Souza de Sá quando ali esteve, e Jerônimo de Albuquerque quando passou; e depois de tomar língua com os nossos índios, e mais quatro, que se ofereceram do Diabo Grande para a viagem, a tornaram a seguir até a barra do rio Apereá, onde surgiram dia de S. João Batista, e ao entrar tocou o patacho, em que ia o capitão-mor, em um, banco de areia, de que escapou milagrosamente, porque havendo só cinco palmos de água, e demandando o capitão 10, indo com as velas todas enfunadas o cortou, ou saltou como quem salta a fogueira de S. João, e se pôs da outra parte do banco onde era fundo: dali mandou um barco com seis homens do mar, e três soldados, de que ia por capitão Francisco de Palhares, para que fossem dar nova a Jerônimo de Albuquerque de como ali estavam, e lhes mandasse pilotos que os levassem pelo rio adentro, ou ordem do que haviam de fazer, como logo lhes mandou dois pilotos, os quais foram de parecer que não fossem por dentro, por causa de ser o rio de pouco vento, e muitos baixos, por conseguinte a viagem arriscada, e quando menos detençosa, e assim tornaram a desembarcar, e foram por fora em dois dias surgir ao nosso porto da nossa fortaleza de Santa Maria véspera da Visitação da Senhora, que não foi pequeno contentamento do capitão-mor Jerônimo de Albuquerque, e dos mais que ali estavam sofrendo grandes necessidades, vendo que os visitava o senhor naquele dia com tão grande socorro, e assim se festejou com salva de toda a artilharia e arcabuzaria de parte a parte, como pelo contrário se entristeceram os franceses, entendendo que alterariam os nossos as pazes, que com eles tinham feito; e assim sucedeu, que acabado de descarregar os navios da fazenda, mantimentos, pólvora, e munições, que levavam, feita entrega de tudo ao almoxarife, e dos soldados ao capitão-mor, com que reformou as companhias, que tinha, e fez mais duas de novo de sessenta homens cada uma, que entregou a Jerônimo de Albuquerque de Mello, seu sobrinho, e a Francisco Tavares. Logo mandou chamar o general dos franceses monsieur Raverdière, e depois de lhe fazer uma formosa mostra da sua soldadesca da praia, onde o foi receber com Francisco Caldeira até a fortaleza, se recolheram todos três para dentro, e lhe disse o capitão-mor como Francisco Caldeira de Castelo Branco levava ordem do governador geral Gaspar de Souza para por armas, quando não quisesse por vontade, lhe fazer despejar o Maranhão, e as fortalezas, que tinha na ilha de S. Luiz, porque não havia consentido nas tréguas, nem ainda sabia delas; ao que o Raverdière respondeu que conforme o concerto que tinham feito, se devia esperar resposta de seus reis, a quem tinham escrito, e não inovar nem alterar coisa alguma; mas contudo que iria dar conta aos seus do que se tratava, e brevemente responderia, o que fez daí a quatro dias, pedindo que fossem lá o capitão Caldeira, e o padre frei Manuel da Piedade, propor aos seus o que se havia tratado, e que eles levariam a última resolução, e resposta do negócio, os quais se embarcaram na mesma lancha francesa, que havia levado a carta, e desembarcando na ilha de S. Luiz se foram à fortaleza do nome do mesmo santo, onde os franceses estavam, e se detiveram lá em altercação 13 dias, da qual dilação presumindo mal Jerônimo de Albuquerque começava já aperceber para levar o negócio à força, e lhe fora muito fácil por ter já todo o gentio do Maranhão inclinado ao ajudarem contra os franceses; porém eles se resolveram em largar tudo sem mais contenda, dando-lhes embarcações, em que se fossem para França, pelo que se passaram os nossos para a ilha, a um forte e cerca, que fizeram, a que puseram o nome de S. Joseph, e ali os deixemos por ora, porque importa tratar de outras coisas.


Ficha técnica da Fonte
Autor: Frei Vicente do Salvador
Data: 1627.
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