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Muçuré (engenho d'água)

De Atlas Digital da América Lusa

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[[Engenho de roda d'água]] com igreja na [[m.e.]] do [[Capiíbarĩ]] (Rio Capibaribe), junto à foz do rio 'Muçuré' (Riacho Mussurepe).
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Ao sul, na [[m.d.]] do Rio Capibaribe, há uma região com o nome de MUSSUREPE - vide mapa [[IBGE]] Geocódigo 2610608 PAUDALHO-PE.
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*Ao sul, na [[m.d.]] do Rio Capibaribe, há uma região com o nome de MUSSUREPE - vide mapa [[IBGE]] Geocódigo 2610608 PAUDALHO-PE.
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►Mapa PE-C [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #40 CAPITANIA DE PHARNAMBOCQVE, plotado com o símbolo de engenho, 'Ԑ MasurԐppa', numa ilha formada pelo 'Rº. MasurԐppa' e o 'Rº. Capauiriuÿ' (Rio Capibaribe).
 
►Mapa PE-C [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #40 CAPITANIA DE PHARNAMBOCQVE, plotado com o símbolo de engenho, 'Ԑ MasurԐppa', numa ilha formada pelo 'Rº. MasurԐppa' e o 'Rº. Capauiriuÿ' (Rio Capibaribe).
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►Mapa IT [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #43 CAPITANIA DE I. TAMARICA, plotado com o símbolo de engenho, 'Ԑ MasurԐppa', numa ilha formada pelo 'Rº. MasurԐppa' e o 'Rº. Capauiriuÿ' (Rio Capibaribe).
 
►Mapa IT [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #43 CAPITANIA DE I. TAMARICA, plotado com o símbolo de engenho, 'Ԑ MasurԐppa', numa ilha formada pelo 'Rº. MasurԐppa' e o 'Rº. Capauiriuÿ' (Rio Capibaribe).
  
 
* Nota: Nos mapas [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #40 e [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #43 está detalhado o conjunto de levadas e reservatórios (açudes) nesse riacho para impulsionar a roda d'água do engenho 'MasurԐppa' ('Muçuré' no [[BQPPB]]).
 
* Nota: Nos mapas [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #40 e [[(IAHGP-Vingboons, 1640)]] #43 está detalhado o conjunto de levadas e reservatórios (açudes) nesse riacho para impulsionar a roda d'água do engenho 'MasurԐppa' ('Muçuré' no [[BQPPB]]).
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►Mapa PE [[(Orazi, 1698)]] PROVINCIA DI PERNAMBVCO, plotado, 'Muçure', na [[m.e.]] do 'Capiibaci' (Rio Capibaribe). .
 
►Mapa PE [[(Orazi, 1698)]] PROVINCIA DI PERNAMBVCO, plotado, 'Muçure', na [[m.e.]] do 'Capiibaci' (Rio Capibaribe). .
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►[[(Nassau-Siegen; Dussen; Keullen - 1638)]], pg. 88:
 
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65. Engenho de São Bento de Masurepe. Pertencente à Ordem dos Beneditinos que ainda o possui; é d'água e mói.".
 
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►[[(Dussen, 1640)]], pg. 154-155:
 
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►[[(Relação dos Engenhos, 1655)]], pg.236, informando a pensão que este engenho pagava à capitania de Pernambuco:
 
►[[(Relação dos Engenhos, 1655)]], pg.236, informando a pensão que este engenho pagava à capitania de Pernambuco:
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- Que o dos Padres de São Bento, dezesseis arrobas de branco encaixado, posto no Recife.".
 
- Que o dos Padres de São Bento, dezesseis arrobas de branco encaixado, posto no Recife.".
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►[[(Pereira da Costa, 1951)]], Volume 7, Ano 1799, pg. 56:
 
►[[(Pereira da Costa, 1951)]], Volume 7, Ano 1799, pg. 56:
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"O Engenho Mussurepe, com extensas terras e matas, com a invocação de São Gonçalo, situado à margem esquerda do rio Capibaribe, e ao que consta levantado por João Lourenço Franco, existia já em 1630, pertencendo ao mosteiro de S. Bento de [[Olinda]], cuja posse manteve até o ano de 1908, quando o vendeu ao dr. Herculano Bandeira de Melo; ...".
 
"O Engenho Mussurepe, com extensas terras e matas, com a invocação de São Gonçalo, situado à margem esquerda do rio Capibaribe, e ao que consta levantado por João Lourenço Franco, existia já em 1630, pertencendo ao mosteiro de S. Bento de [[Olinda]], cuja posse manteve até o ano de 1908, quando o vendeu ao dr. Herculano Bandeira de Melo; ...".
  
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►[[(Cabral de Mello, 2012)]]:
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@ pg. 84-86, Os engenhos de açúcar do Brasil Holandês, I - Capitania de Pernambuco, São Lourenço:
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«6) MUSSUREPE. Invocação São Gonçalo. Sito à margem esquerda do Capibaribe, na confluência do riacho Mussurepe. Engenho d'água, fundado pela Ordem Beneditina em 1610. Pagava de pensão dezesseis arrobas de açúcar branco encaixado e posto no Recife. Em 1569, João de Sabanda, e em 1570, Antônio Martins, alfaiate, ambos domiciliados em Olinda, receberam por concessão donatarial setecentas braças de terra em quadra na margem esquerda do Capibaribe. Em 1577, João Batista obteve uma légua de terra em quadra para fazer, no prazo de quatro anos, um engenho de açúcar à margem do Mussurepe, mas "não havendo água [suficiente] para o dito engenho, fará um trapiche". Devia pagar 4% de pensão, mas sendo trapiche, apenas 2%. João Batista também adquiriu a data de terra que fora atribuída a Antônio Martins. Em 1585, havendo falecido João Batista sem levantar a fábrica, Diogo Vaz, casado com sua viúva, Maria da Fonseca, houve as terras "por título de compra e arrematação", as quais arredondou com uma sorte devoluta localizada entre as suas e as da sesmaria de Gonçalo Mendes Leitão. Diogo Vaz parece ter sido o primeiro verdadeiro ocupante da área, pois
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"lavrou e fez muitas benfeitorias e plantou canas e muitas frutas de espinho e fez uma casa de telha de duas águas na foz do rio de Mussurepe [...] com muito risco de sua pessoa e fazenda, por ser fronteira de pitiguares, donde a cada hora se encontrava com muitos rebates e sobressaltos em que tem recebido muitas perdas; e danos. E estando assim [...] começa[n]do a cortar madeiras com uns carpinteiros, se viu tão perseguido do gentio inimigo e de angolas levantados e pitiguares, que lhe foi necessário despovoar por ser a parte muito erma e fronteira, sem vizinhos mais de uma légua. E por ser desta maneira lhe têm feito e dado muitas perdas os negros de Guiné que por tantas vezes o cometeram até que de assuada uma noite o cercaram [...] de que ele saiu frechado, e lhe levaram mais de 200 mil-réis de criações afora outros muitos assaltos [...] pelo que foi necessário sair-se das ditas terras.".
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Falecendo Diogo Vaz, Maria da Fonseca resolveu levar adiante o projeto de engenho, acolhendo na propriedade Domingos Ferreira e Maria Rabelo, "os quais puseram lá gente e gado e faziam suas roças". Em 1609, Maria da Fonseca vendeu a légua de terra aos frades de São Bento de Olinda por 2 mil cruzados, parte em dinheiro à vista, parte a crédito e parte a ser paga em legados de missas. No ano seguinte, os religiosos aumentaram o fundo territorial mediante a obtenção de uma sorte de légua e meia em quadra ao longo do Capibaribe. Em 1615, procederam a duas outras aquisições: trezentas braças a Jerônimo de Souto Maior, que recebeu em troca "uma junta de bois mansos e um novilho, que [d]o mais que podia valer a dita terra, fazia esmola dele ao convento"; e de 1350 braças a Maria e Madalena Furtado de Mendonça, parte nos limites de Maciape, outra parte além de Miritibe, já na capitania de Itamaracá, ao preço de 120 mil-réis, metade paga à vista e metade em missas pelas almas dos parentes. Em 1625, concedendo o governador Matias de Albuquerque a Baltazar Gonçalves uma data de terra situada entre os engenhos Mussurepe e Maciape, os frades contestaram a doação, mas a causa ficou suspensa com a ocupação holandesa, só sendo resolvida mediante acordo em 1688. Em 1627, os frades declaravam possuir
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"um engenho de açúcar [...] muito ao sertão, oito ou nove léguas da costa e do porto, onde lhe custa cada caixa de açúcar de trazer ao Recife só de carreto três cruzados ao menos, e por esta razão não há lavrador que queira [...] tomar partido, e assim está mui arriscado a se desemparar porquanto eles, padres, não têm posses para beneficiar as canas e para menear o tal engenho, o que bem se vê pelo pouco açúcar que se faz que nunca chegou a fazer 3 mil arrobas, e às vezes 1,5 mil com tantas despesas que as safras não bastam para os gastos.".
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Matias de Albuquerque fixou a pensão de dezesseis arrobas de açúcar branco postas no Recife. Os frades também conseguiram a isenção por vinte anos do pagamento da dízima. O engenho foi atacado em 1635 mas a tropa holandesa "não encontrou ninguém". Com a ocupação holandesa, o engenho permaneceu na posse dos beneditinos, moendo em 1637 e 1639 com dois partidos lavradores que, com o partido da fazenda (cinquenta), perfaziam setenta tarefas (3,5 mil arrobas). Em 1639, devido às suspeitas de ajuda aos campanhistas luso-brasileiros, os frades receberam a ordem de partir para seu convento de Olinda, sendo finalmente isolados na ilha de Itamaracá. Os bens da Ordem beneditina foram destinados por Nassau ao sustento do clero católico secular. Mas frei Manuel Calado do Salvador registra que Gaspar Dias Ferreira, tendo sido encarregado da gestão de tais bens, não teria transferido um único ceitil aos beneficiários. Indo alguns sacerdotes cobrarem a côngrua, Gaspar lhes respondera que "aquela potava era para o Príncipe [isto é, Nassau] e que assaz mercê se lhe[s] fazia em os permitirem assistir na terra". O engenho moía em 1655.(37)».
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@ pg. 178, Notas:
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«(37) "Livro do tombo", pp. 318-60, 364-81; fr. Miguel Arcanjo da Anunciação, ''Crônica do mosteiro de São Bento de Olinda até 1763'', Recife, 1940, pp. 48, 53, 54, 59, 71-2; FHBH, pp. 32, 88, 155, 236; RCCB, pp. 50-1; DN, 3.XII.1639, 3.X.1640; VWIC, IV, pp. 137-8; VL, I, pp. 115-6; Stuart B. Schwartz, "Os engenhos beneditinos do Brasil colonial", RIAP, 55 (1983), pp. 36-7; F. L. Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil holandês, 1630-1634, Recife, 1986, p. 411n.».
  
 
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Edição atual tal como 08h57min de 20 de outubro de 2015

Coleção Levy Pereira


[editar] Muçuré

Engenho de roda d'água com igreja na m.e. do Capiíbarĩ (Rio Capibaribe), junto à foz do 'Muçuré' (Riacho Mussurepe).


Natureza: engenho d'água com igreja.


Mapa: PRÆFECTURÆ PARANAMBUCÆ PARS BOREALIS, una cum PRÆFECTURA de ITÂMARACÂ.


Capitania: PARANAMBVCA.


Jurisdição: Cidade de Olinda, Freguesia de São Lourenço.


Nomes históricos: Engenho Muçuré (Muçurepe; Mussurepe; Masurepe; MasurԐppa); Engenho de São Bento de Masurepe.


Nome atual: Usina Mussurepe.

  • Ao sul, na m.d. do Rio Capibaribe, há uma região com o nome de MUSSUREPE - vide mapa IBGE Geocódigo 2610608 PAUDALHO-PE.


[editar] Citações:

►Mapa PE-C (IAHGP-Vingboons, 1640) #40 CAPITANIA DE PHARNAMBOCQVE, plotado com o símbolo de engenho, 'Ԑ MasurԐppa', numa ilha formada pelo 'Rº. MasurԐppa' e o 'Rº. Capauiriuÿ' (Rio Capibaribe).


►Mapa IT (IAHGP-Vingboons, 1640) #43 CAPITANIA DE I. TAMARICA, plotado com o símbolo de engenho, 'Ԑ MasurԐppa', numa ilha formada pelo 'Rº. MasurԐppa' e o 'Rº. Capauiriuÿ' (Rio Capibaribe).


►Mapa PE (Orazi, 1698) PROVINCIA DI PERNAMBVCO, plotado, 'Muçure', na m.e. do 'Capiibaci' (Rio Capibaribe). .


(Nassau-Siegen; Dussen; Keullen - 1638), pg. 88:

"Engenhos da freguesia de São Lourenço

...

65. Engenho de São Bento de Masurepe. Pertencente à Ordem dos Beneditinos que ainda o possui; é d'água e mói.".


(Dussen, 1640), pg. 154-155:

"Na freguesia de São Lourenço

...

76) Engenho Masurepe, pertencente à Ordem Beneditina, é engenho d'água e mói. São lavradores:

Partido da fazenda 50 tarefas

Frutuoso Dias 10

João Mendes Flores 10

_______________

70 tarefas.".


(Relação dos Engenhos, 1655), pg.236, informando a pensão que este engenho pagava à capitania de Pernambuco:

"Engenhos da freguesia de São Lourenço

...

- Que o dos Padres de São Bento, dezesseis arrobas de branco encaixado, posto no Recife.".


(Pereira da Costa, 1951), Volume 7, Ano 1799, pg. 56:

"O Engenho Mussurepe, com extensas terras e matas, com a invocação de São Gonçalo, situado à margem esquerda do rio Capibaribe, e ao que consta levantado por João Lourenço Franco, existia já em 1630, pertencendo ao mosteiro de S. Bento de Olinda, cuja posse manteve até o ano de 1908, quando o vendeu ao dr. Herculano Bandeira de Melo; ...".


(Cabral de Mello, 2012):

@ pg. 84-86, Os engenhos de açúcar do Brasil Holandês, I - Capitania de Pernambuco, São Lourenço:

«6) MUSSUREPE. Invocação São Gonçalo. Sito à margem esquerda do Capibaribe, na confluência do riacho Mussurepe. Engenho d'água, fundado pela Ordem Beneditina em 1610. Pagava de pensão dezesseis arrobas de açúcar branco encaixado e posto no Recife. Em 1569, João de Sabanda, e em 1570, Antônio Martins, alfaiate, ambos domiciliados em Olinda, receberam por concessão donatarial setecentas braças de terra em quadra na margem esquerda do Capibaribe. Em 1577, João Batista obteve uma légua de terra em quadra para fazer, no prazo de quatro anos, um engenho de açúcar à margem do Mussurepe, mas "não havendo água [suficiente] para o dito engenho, fará um trapiche". Devia pagar 4% de pensão, mas sendo trapiche, apenas 2%. João Batista também adquiriu a data de terra que fora atribuída a Antônio Martins. Em 1585, havendo falecido João Batista sem levantar a fábrica, Diogo Vaz, casado com sua viúva, Maria da Fonseca, houve as terras "por título de compra e arrematação", as quais arredondou com uma sorte devoluta localizada entre as suas e as da sesmaria de Gonçalo Mendes Leitão. Diogo Vaz parece ter sido o primeiro verdadeiro ocupante da área, pois

"lavrou e fez muitas benfeitorias e plantou canas e muitas frutas de espinho e fez uma casa de telha de duas águas na foz do rio de Mussurepe [...] com muito risco de sua pessoa e fazenda, por ser fronteira de pitiguares, donde a cada hora se encontrava com muitos rebates e sobressaltos em que tem recebido muitas perdas; e danos. E estando assim [...] começa[n]do a cortar madeiras com uns carpinteiros, se viu tão perseguido do gentio inimigo e de angolas levantados e pitiguares, que lhe foi necessário despovoar por ser a parte muito erma e fronteira, sem vizinhos mais de uma légua. E por ser desta maneira lhe têm feito e dado muitas perdas os negros de Guiné que por tantas vezes o cometeram até que de assuada uma noite o cercaram [...] de que ele saiu frechado, e lhe levaram mais de 200 mil-réis de criações afora outros muitos assaltos [...] pelo que foi necessário sair-se das ditas terras.".

Falecendo Diogo Vaz, Maria da Fonseca resolveu levar adiante o projeto de engenho, acolhendo na propriedade Domingos Ferreira e Maria Rabelo, "os quais puseram lá gente e gado e faziam suas roças". Em 1609, Maria da Fonseca vendeu a légua de terra aos frades de São Bento de Olinda por 2 mil cruzados, parte em dinheiro à vista, parte a crédito e parte a ser paga em legados de missas. No ano seguinte, os religiosos aumentaram o fundo territorial mediante a obtenção de uma sorte de légua e meia em quadra ao longo do Capibaribe. Em 1615, procederam a duas outras aquisições: trezentas braças a Jerônimo de Souto Maior, que recebeu em troca "uma junta de bois mansos e um novilho, que [d]o mais que podia valer a dita terra, fazia esmola dele ao convento"; e de 1350 braças a Maria e Madalena Furtado de Mendonça, parte nos limites de Maciape, outra parte além de Miritibe, já na capitania de Itamaracá, ao preço de 120 mil-réis, metade paga à vista e metade em missas pelas almas dos parentes. Em 1625, concedendo o governador Matias de Albuquerque a Baltazar Gonçalves uma data de terra situada entre os engenhos Mussurepe e Maciape, os frades contestaram a doação, mas a causa ficou suspensa com a ocupação holandesa, só sendo resolvida mediante acordo em 1688. Em 1627, os frades declaravam possuir

"um engenho de açúcar [...] muito ao sertão, oito ou nove léguas da costa e do porto, onde lhe custa cada caixa de açúcar de trazer ao Recife só de carreto três cruzados ao menos, e por esta razão não há lavrador que queira [...] tomar partido, e assim está mui arriscado a se desemparar porquanto eles, padres, não têm posses para beneficiar as canas e para menear o tal engenho, o que bem se vê pelo pouco açúcar que se faz que nunca chegou a fazer 3 mil arrobas, e às vezes 1,5 mil com tantas despesas que as safras não bastam para os gastos.".

Matias de Albuquerque fixou a pensão de dezesseis arrobas de açúcar branco postas no Recife. Os frades também conseguiram a isenção por vinte anos do pagamento da dízima. O engenho foi atacado em 1635 mas a tropa holandesa "não encontrou ninguém". Com a ocupação holandesa, o engenho permaneceu na posse dos beneditinos, moendo em 1637 e 1639 com dois partidos lavradores que, com o partido da fazenda (cinquenta), perfaziam setenta tarefas (3,5 mil arrobas). Em 1639, devido às suspeitas de ajuda aos campanhistas luso-brasileiros, os frades receberam a ordem de partir para seu convento de Olinda, sendo finalmente isolados na ilha de Itamaracá. Os bens da Ordem beneditina foram destinados por Nassau ao sustento do clero católico secular. Mas frei Manuel Calado do Salvador registra que Gaspar Dias Ferreira, tendo sido encarregado da gestão de tais bens, não teria transferido um único ceitil aos beneficiários. Indo alguns sacerdotes cobrarem a côngrua, Gaspar lhes respondera que "aquela potava era para o Príncipe [isto é, Nassau] e que assaz mercê se lhe[s] fazia em os permitirem assistir na terra". O engenho moía em 1655.(37)».

@ pg. 178, Notas:

«(37) "Livro do tombo", pp. 318-60, 364-81; fr. Miguel Arcanjo da Anunciação, Crônica do mosteiro de São Bento de Olinda até 1763, Recife, 1940, pp. 48, 53, 54, 59, 71-2; FHBH, pp. 32, 88, 155, 236; RCCB, pp. 50-1; DN, 3.XII.1639, 3.X.1640; VWIC, IV, pp. 137-8; VL, I, pp. 115-6; Stuart B. Schwartz, "Os engenhos beneditinos do Brasil colonial", RIAP, 55 (1983), pp. 36-7; F. L. Schalkwijk, Igreja e Estado no Brasil holandês, 1630-1634, Recife, 1986, p. 411n.».






Citação deste verbete
Autor do verbete: Levy Pereira
Como citar: PEREIRA, Levy. "Muçuré (engenho d'água)". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: http://lhs.unb.br/atlas/Mu%C3%A7ur%C3%A9_(engenho_d%27%C3%A1gua). Data de acesso: 29 de março de 2024.


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