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Foi uma capitania criada em 1534 e incorporada aos domínios da Coroa em 1548. Foi a capital do [[Estado do Brasil]] de 1549 até 1763. | Foi uma capitania criada em 1534 e incorporada aos domínios da Coroa em 1548. Foi a capital do [[Estado do Brasil]] de 1549 até 1763. | ||
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===Capitania Hereditária=== | ===Capitania Hereditária=== | ||
− | A região que depois viria a ser a capitania da Bahia era visitada pelos navegadores portugueses desde os primeiros anos do século XVI, interessados em extrair pau-brasil. Em 1534, uma das primeiras capitanias doadas foi a da Bahia de Todos os Santos, sendo seu donatário Francisco Pereira Coutinho, fidalgo português que já havia servido ao monarca na Ásia e na África. Ao chegar, em 1536, fundou o Arraial do Pereira (depois Vila Velha). Enfrentou diversos e intensos conflitos com os indígenas, acabando por ser, em 1547, capturado e devorado pelos indígenas na Ilha de Itaparica. | + | |
+ | A região que depois viria a ser a capitania da Bahia era visitada pelos navegadores portugueses desde os primeiros anos do século XVI, interessados em extrair [[pau-brasil]]. Em 1534, uma das primeiras capitanias doadas foi a da Bahia de Todos os Santos, sendo seu donatário [[Francisco Pereira Coutinho]], fidalgo português que já havia servido ao monarca na Ásia e na África. Ao chegar, em 1536, fundou o [[Arraial do Pereira]] (depois [[Vila Velha]]). Enfrentou diversos e intensos conflitos com os indígenas, acabando por ser, em 1547, capturado e devorado pelos indígenas na [[Ilha de Itaparica]]. | ||
===Capital do Estado do Brasil=== | ===Capital do Estado do Brasil=== | ||
− | Após a morte do donatário, D. João III comprou a capitania da viúva e nela instaurou o governo-geral, pois, de acordo com o regimento de Tomé de Souza (1548), | + | |
− | Sua capitalidade foi bem descrita por Fernão Cardim: | + | Após a morte do [[donatário]], D. João III comprou a [[capitania]] da viúva e nela instaurou o governo-geral, pois, de acordo com o regimento de [[Tomé de Souza]] (1548), |
− | Salvador foi invadida por uma numerosa frota da holandesa Companhia das Índias Ocidentais em 10 de maio de 1624 sem opor resistência quase alguma devido à fuga dos defensores. Entretanto, em 1º de maio do ano seguinte a cidade foi restaurada por uma maciça frota hispânica, após mais de um mês de conflitos com os neerlandeses. Após a conquista de Pernambuco em 1630, a capital do Estado do Brasil exerceu um importante papel na resistência contra a expansão do domínio holandês, inclusive resistindo por quarenta dias a um cerco que lhe foi imposto pelo Conde de Nassau em março e abril de 1638.<ref> LENK, Wolfgang. Guerra e Pacto Colonial: a Bahia contra o Brasil Holandês (1624-1654). São Paulo: Alameda, 2013</ref> | + | |
− | Na segunda metade do século XVII, a Bahia afirmou-se como a mais importante possessão portuguesa no ultramar, pois além de sua significativa produção açucareira, cresceu também a exportação do tabaco, fonte de grandes proventos para a Coroa e importante no tráfico de escravos com a Costa da Mina.<ref> NARDI, Jean-Baptiste. O fumo brasileiro no período colonial. São Paulo: Brasiliense, 1996</ref> Já a expansão da mineração de ouro no Centro-Sul gradualmente retirou a Bahia de sua posição predominante na América Portuguesa, numa situação que se consolidou por volta de 1740. | + | {{trecho|texto=a Bahia de todos os Santos é o lugar mais conveniente da costa do Brasil para se poder fazer a dita povoação e assento, assim pela disposição do porto e rios que nela entram, como pela bondade, abastança e saúde da terra''|fonte=Prólogo do “Regimento que levou Tomé de Souza governador do Brasil<ref>Prólogo do “Regimento que levou Tomé de Souza governador do Brasil”, Almerim, 17 de dezembro de 1548, várias edições. Para uma versão online, cf. http://lemad.fflch.usp.br/sites/lemad.fflch.usp.br/files/1.3._Regimento_que_levou_Tom__de_Souza_0.pdf (consultado em maio de 2015).</ref>}} |
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+ | A chegada maciça de migrantes, artesãos, degredados e oficiais régios deu um significativo impulso ao crescimento da capitania, especialmente após o deslanche da indústria açucareira, entre 1560-1630. <ref> FRANÇA, Eduardo d’Oliveira. “Engenhos, Colonização e Cristãos-Novos na Bahia Colonial”. Anais do IV Simpósio Nacional dos Professores Universitários de História, 1969, p. 223</ref> | ||
+ | Sua capitalidade foi bem descrita por Fernão Cardim: | ||
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+ | {{trecho|texto=a Bahia é cidade d’El-Rei, e a corte do Brasil: residem os Srs. Bispo, Governador, Ouvidor-Geral, com outros oficiais e justiça de Sua Majestade''|fonte=CARDIM, Fernão. “Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuítica...<ref>CARDIM, Fernão. “Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuítica...” [1ª carta, 1585] in: id. Tratados da Terra e Gente do Brasil. Lisboa: CNCDP, 1997, p. 217.</ref>}} | ||
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+ | A preeminência baiana esteve ameaçada, porém, pela riqueza pernambucana, especialmente entre 1602-19, quando os governadores-gerais residiram oito desses 17 anos em [[Olinda]], até finalmente a Coroa, sob pressão do donatário de Pernambuco, proibir definitivamente essa prática.<ref> DUTRA, Francis. “Centralization x Donatorial Privilege: Pernambuco, 1602-1630” in: ALDEN, Dauril (ed.). Colonial Roots of Modern Brazil. Berkeley: University of California Press, 1973, pp. 19-60.</ref> | ||
+ | Salvador foi invadida por uma numerosa frota da holandesa [[Companhia das Índias Ocidentais]] em 10 de maio de 1624 sem opor resistência quase alguma devido à fuga dos defensores. Entretanto, em 1º de maio do ano seguinte a cidade foi restaurada por uma maciça frota hispânica, após mais de um mês de conflitos com os neerlandeses. Após a conquista de Pernambuco em 1630, a capital do Estado do Brasil exerceu um importante papel na resistência contra a expansão do domínio holandês, inclusive resistindo por quarenta dias a um cerco que lhe foi imposto pelo Conde de Nassau em março e abril de 1638.<ref> LENK, Wolfgang. Guerra e Pacto Colonial: a Bahia contra o Brasil Holandês (1624-1654). São Paulo: Alameda, 2013</ref> | ||
+ | Na segunda metade do século XVII, a Bahia afirmou-se como a mais importante possessão portuguesa no ultramar, pois além de sua significativa produção açucareira, cresceu também a exportação do tabaco, fonte de grandes proventos para a Coroa e importante no tráfico de escravos com a [[Costa da Mina]].<ref> NARDI, Jean-Baptiste. O fumo brasileiro no período colonial. São Paulo: Brasiliense, 1996</ref> Já a expansão da mineração de ouro no Centro-Sul gradualmente retirou a Bahia de sua posição predominante na América Portuguesa, numa situação que se consolidou por volta de 1740. | ||
===Capitania Régia=== | ===Capitania Régia=== | ||
− | A maior importância do Centro-Sul fez com que, em 11 de maio de 1763 a capital fosse transferida para o Rio de Janeiro. Entretanto, a continuidade da produção de açúcar, tabaco e cachaça e papel de Salvador como um importante entreposto comercial que conectava Lisboa, Goa (capital do Estado da Índia) e Costa de Mina (África) garantiu a continuidade de sua relevância no contexto político e econômico da América Portuguesa. | + | A maior importância do Centro-Sul fez com que, em 11 de maio de 1763 a capital fosse transferida para o [[Rio de Janeiro]]. Entretanto, a continuidade da produção de açúcar, tabaco e cachaça e papel de Salvador como um importante entreposto comercial que conectava [[Lisboa]], [[Goa]] (capital do Estado da Índia) e [[Costa de Mina]] (África) garantiu a continuidade de sua relevância no contexto político e econômico da América Portuguesa. |
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[[Vila de Nossa Senhora da Purificação de Santo Amaro]] | [[Vila de Nossa Senhora da Purificação de Santo Amaro]] | ||
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[[Vila de Pombal]] | [[Vila de Pombal]] | ||
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[[Vila Nova da Rainha]] | [[Vila Nova da Rainha]] | ||
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+ | ==Bibliografia== | ||
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+ | [[KRAUSE, Thiago. A Formação de uma Nobreza Ultramarina: Coroa e elites locais na Bahia seiscentista. Tese de Doutorado. Rio de Janeiro: PPGHIS/UFRJ, 2015]] | ||
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+ | [[SILVA, Maria Beatriz Nizza da Silva. Bahia, a corte da América. São Paulo: Editora Nacional, 2010]] | ||
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[[Category:População e Território ]] | [[Category:População e Território ]] | ||
[[Category:Bahia]] | [[Category:Bahia]] | ||
[[Category:Capitanias]] | [[Category:Capitanias]] |
por Thiago Krause |
Foi uma capitania criada em 1534 e incorporada aos domínios da Coroa em 1548. Foi a capital do Estado do Brasil de 1549 até 1763.
Tabela de conteúdo |
A região que depois viria a ser a capitania da Bahia era visitada pelos navegadores portugueses desde os primeiros anos do século XVI, interessados em extrair pau-brasil. Em 1534, uma das primeiras capitanias doadas foi a da Bahia de Todos os Santos, sendo seu donatário Francisco Pereira Coutinho, fidalgo português que já havia servido ao monarca na Ásia e na África. Ao chegar, em 1536, fundou o Arraial do Pereira (depois Vila Velha). Enfrentou diversos e intensos conflitos com os indígenas, acabando por ser, em 1547, capturado e devorado pelos indígenas na Ilha de Itaparica.
Após a morte do donatário, D. João III comprou a capitania da viúva e nela instaurou o governo-geral, pois, de acordo com o regimento de Tomé de Souza (1548),
Prólogo do “Regimento que levou Tomé de Souza governador do Brasil[1] |
A chegada maciça de migrantes, artesãos, degredados e oficiais régios deu um significativo impulso ao crescimento da capitania, especialmente após o deslanche da indústria açucareira, entre 1560-1630. [2]
Sua capitalidade foi bem descrita por Fernão Cardim:
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CARDIM, Fernão. “Narrativa epistolar de uma viagem e missão jesuítica...[3] |
A preeminência baiana esteve ameaçada, porém, pela riqueza pernambucana, especialmente entre 1602-19, quando os governadores-gerais residiram oito desses 17 anos em Olinda, até finalmente a Coroa, sob pressão do donatário de Pernambuco, proibir definitivamente essa prática.[4]
Salvador foi invadida por uma numerosa frota da holandesa Companhia das Índias Ocidentais em 10 de maio de 1624 sem opor resistência quase alguma devido à fuga dos defensores. Entretanto, em 1º de maio do ano seguinte a cidade foi restaurada por uma maciça frota hispânica, após mais de um mês de conflitos com os neerlandeses. Após a conquista de Pernambuco em 1630, a capital do Estado do Brasil exerceu um importante papel na resistência contra a expansão do domínio holandês, inclusive resistindo por quarenta dias a um cerco que lhe foi imposto pelo Conde de Nassau em março e abril de 1638.[5]
Na segunda metade do século XVII, a Bahia afirmou-se como a mais importante possessão portuguesa no ultramar, pois além de sua significativa produção açucareira, cresceu também a exportação do tabaco, fonte de grandes proventos para a Coroa e importante no tráfico de escravos com a Costa da Mina.[6] Já a expansão da mineração de ouro no Centro-Sul gradualmente retirou a Bahia de sua posição predominante na América Portuguesa, numa situação que se consolidou por volta de 1740.
A maior importância do Centro-Sul fez com que, em 11 de maio de 1763 a capital fosse transferida para o Rio de Janeiro. Entretanto, a continuidade da produção de açúcar, tabaco e cachaça e papel de Salvador como um importante entreposto comercial que conectava Lisboa, Goa (capital do Estado da Índia) e Costa de Mina (África) garantiu a continuidade de sua relevância no contexto político e econômico da América Portuguesa.
Vila de São Bartolomeu do Maragogipe
Vila de Valença (Capitania da Bahia)
Nossa Senhora de Nazaré de Itapicuru de Cima
Vila de Santo Antônio de Jacobina
Vila de São Francisco das Chagas da Barra do Rio Grande
Vila do Espírito Santo de Nova Abrantes
Vila de Santo Antônio do Rio das Caravelas
Vila de Soure (Capitania da Bahia)
Vila de Santarém (Capitania da Bahia)
Vila de São José de Porto Alegre
Vila de Nossa Senhora da Pena de Porto Seguro
Vila de Nossa Senhora do Rosário do Cairú
Nossa Senhora da Ajuda de Jaguaripe
Vila de Nossa Senhora do Rosário do Porto da Cachoeira
Vila de Nossa Senhora da Purificação de Santo Amaro
São Francisco da Barra de Sergipe do Conde
Vila Nova de Nossa Senhora do Livramento e Minas de Rio de Contas
Bibliografia selecionada da Capitania de Bahia
Citação deste verbete |
Autor do verbete: Thiago Krause |
Como citar: KRAUSE, Thiago. "Capitania da Bahia de Todos os Santos". In: BiblioAtlas - Biblioteca de Referências do Atlas Digital da América Lusa. Disponível em: https://lhs.unb.br/atlas/index.php?title=Capitania_da_Bahia_de_Todos_os_Santos. Data de acesso: 23 de fevereiro de 2025.
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SILVA, Maria Beatriz Nizza da Silva. Bahia, a corte da América. São Paulo: Editora Nacional, 2010