Antonio José Feijó, ajudante do Batalhão de Infantaria e Artilharia do continente do Rio Grande, informa o seguinte.
Que sabe ter-se confiscado por ordem do Coronel Rafael Pinto Bandeira comandante que então era da fronteira do Rio Grande, uma canoa pertencente a José Rodrigues mercador no norte deste Rio Grande, cuja canoa vinha [p. 335] com couros de contrabando mas que não sabe que o dito coronel fizesse navegar pela Lagoa de Mirim depois de confiscada para conduzir couros para si, nem sabe o destino que depois se deu a dita canoa.Que sabe ter mandado construir o dito Coronel defronte de sua porta uma embarcação de coberta, mas que não sabe se para a dita construção se serviu de madeiras, pregos ou outros alguns gêneros da Real Fazenda. Que ouvira dizer a pessoas da plebe que a dita embarcação navegara para a lagoa de Mirim, o que ele informante não pode certificar por não lhe constar por outra alguma via que merecesse crédito. Que sabe que depois do dito coronel possuir aquela embarcação por algum tempo, a vendera a José Vieira da Cunha, mas que ignora porque preço, e que o dito Cunha pouco tempo depois de a possuir a fizera encalhar junto ao arsenal desta vila aonde se desfez, e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe que o dito coronel fizera confiscar certa porção de couros que se achavam na casa de José Vieira da Cunha, mas que não sabe a quantidade nem se o dito Cunha tinha dado algum dinheiro na guarda do Beca para lhos deixarem passar. Que sabe que o dito coronel possuía uma canoa chamada o escaler na qual andava de patrão Francisco Lopes, mas que não sabe se a dita canoa navegava pela Lagoa nas negociações de contrabando. Que sabe que o mesmo coronel possuía outra canoa chamada a figueira, a qual o dito coronel vendera a um espanhol de cujo nome não se lembra, e que o dito espanhol repetidas vezes saia desta vila, e passados alguns tempos voltava a ela, e que o mesmo espanhol era conhecido nesta vila por contrabandista, mas que ele informante não sabe porque [p. 335v] porque preço foi vendida a canoa nem se houveram alguns ajustes particulares entre o vendedor e comprador. Que sabe pelo ver, que para a Estância do dito coronel possui no Pavão, tem vindo por algumas vezes gados da campanha mas que não sabe se foram conduzidos por Romão vaquiano [sic] João Leite e Miguel Lamim, nem se a estes se confiscou gados que traziam de fora. Que sabe ser casado o alferes de Auxiliares fulano Nicola com uma índia, a qual é voz constante ser filha do dito coronel Bandeira, mas que ignora se este lhe dera algumas reses de dote. Que ele informante não conhece o soldado desertor da cavalaria Francisco Pinto, mas que estando ele dito informante por algumas vezes na estância do Governador do castelo do Rio de Janeiro Roberto Rodrigues da Costa Homem, a qual fica unida a que o dito coronel possui no pavão, ouvira dizer freqüentes vezes a diversas pessoas daquele lugar que o dito desertor vinha da campanha a Estância do mesmo coronel, e voltava para a campanha, e isto em algumas ocasiões em que se achava naquela Estância o dito coronel e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe que estando o alfaiate José Antonio a sua porta em uma noite, lhe deram uma cutilada, mas que ignora quem foi o agressor, nem sabe de outras algumas circunstâncias a este respeito. Que sabe que o soldado da cavalaria chamado vulgarmente o cadete dera uma facada em outro soldado do mesmo corpo chamado Raimundo estando ambos destacados na Guarda do Beca, que o ferido viera para o Hospital desta vila curar-se, mas que não sabe o destino que depois tivera, e sim sabe que o agressor passado algum tempo voltou para esta vila, [p. 336]e continuou a fazer o serviço na legião na mesma praça de soldado que tinha. Que sabe que o furriel da cavalaria João José de Souza dera umas cutiladas em um soldado do mesmo corpo de noite em uma das ruas desta vila, de cujo ferimento faleceu o soldado no Hospital e o agressor imediatamente se ausentou e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe que Nicolau Cosme negociante desta vila comprara certa porção de couros sem marca do tenente Vasco Pinto Bandeira, mas que ignora porque preço, nem sabe de mais circunstâncias algumas a este respeito. Que sabe que o sargento da cavalaria Joaquim Rodrigues matara a sua mulher e ao cabo de esquadra do mesmo corpo José Moreira e que fora voz pública nesta vila que o dito assassino depois de ter executado as ditas mortes, fora a casa do coronel Bandeira, e lhe noticiara o que acabara de efetuar, mas que ele informante não o vira, e que ouvira dizer que o dito coronel fizera chamar ao alferes do Batalhão de Infantaria e Artilharia deste continente Manuel Caetano de São José, sogro do dito assassino, cujo oficial se achava da guarda naquela noite, e que lhe entregara a chave da casa em que morava o dito delinqüente, do qual tinha recebido a dita chave, e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe que por ordem do Brigadeiro governador deste continente se retiraram para esta vila com seus efeitos os mercadores que residiam no povo novo, mas que ignora o motivo que serve para esta ordem, e só sabe que o coronel Bandeira tinha na sua estância do Pavão em um dos quartos da sua casa algumas fazendas que as vendia indiferentemente a quem queria comprar, e que nada mais sabe a este respeito. Que ele informante [p. 336v] por ter estado sempre de guarnição nesta vila de São Pedro do Rio Grande , não tem conhecimento das Estâncias que possui o dito coronel em diversos lugares deste continente, e por este motivo nada sabe a respeito dos animais que nelas existem, e só tem conhecimento da Estância que o mesmo coronel possui no Pavão, para a qual já tem declarado que por algumas vezes tem visto entrar gados da campanha. E de tudo o mais que lhe foi perguntado por mim coronel comandante deste continente, disse nada sabia, e para constar assinei aos quinze dias do mês de outubro de mil setecentos e oitenta e sete.
Joaquim José Ribeiro da Costa Antonio José Feijó Ajudante
| Ficha técnica da Fonte | |
| Autor: diversos | |
| Data: 1787. | |
| Referência: Códice 104. Volume 09. Secretaria do Estado do Brasil. | |
| Acervo: Arquivo Nacional. | |
| Transcrição: Tiago Luís Gil. | |
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