Modelos conceituais, lógicos e físicos

De Cliomatica - Digital History
Tempo estimado de leitura deste artigo 12 minutos - por Tiago Gil


Tudo começa com uma folha de papel onde vamos anotar uma “lista de desejos”. A base deve tratar de tal assunto, portanto, precisa ter informações sobre x, y e z, campos específicos para essas informações e, talvez, algum relacionamento. Tudo isso deve ser listado. O passo seguinte é, em outra folha de papel (essa é uma recomendação pessoal, dá mais liberdade) desenhar um quadrado (de bom tamanho) para cada tabela, cujo interior contenha uma lista dos campos que vão formar essa entidade. É como se fosse um croquis da futura base, feito por um arquiteto ou estilista. Nesse caso, nosso croquis será feio, quadrado e cheio de riscos. Mas será importante. Bom mesmo seria fazer esse planejamento discutindo com outros colegas, mas nem sempre é o caso. Com todo o esquema diante de nossos olhos, convém pensar possibilidades e limites. Para isso, no caso do conhecimento histórico, é fundamental conhecer as fontes e seus limites e ter erudição histórica para fazer isso. Convém fazer um exercício mental para checar a viabilidade da base. O desenho abaixo ilustra esse esforço, sem querer propor um modelo para processos-crime, pois seria bem mais complexo. É apenas uma ilustração dessa etapa do desenvolvimento.

Modeloconceitual.png


Acusados e processos são “objetos” diferentes, com naturezas diferentes e, consequentemente, com dados possíveis diversos. Por isso devem estar em tabelas diferentes, mas relacionados. Testemunhas e juízes são seres humanos iguais aos acusados, mas com características diferentes dentro de um processo. Por essa razão, são separados em tabelas distintas, com campos específicos para cada um. Não se espera o testemunho de um juiz, assim como não se espera saber a qual tribunal pertencia o acusado.


Modelo lógico

O passo seguinte é o modelo lógico. Talvez não seja lógico chamá-lo assim, mas é o nome. Nesse momento, vamos apenas aperfeiçoar nosso esquema. Dessa vez, vamos inserir informações detalhadas para cada um dos campos e em cada uma das tabelas - de que tipo será cada campo, com que tamanho em número de caracteres (e ainda não vimos nada sobre o visual que terá o formulário de preenchimento e a tabela, que será assunto mais adiante). Nessa fase também vamos indicar que campos vão ser responsáveis por criar “relacionamentos” com outras tabelas e qual será a cardinalidade desses relacionamentos, se um para um, um para muitos ou muitos para muitos. Devemos tomar o mesmo cuidado da etapa anterior, prevendo necessidades e testando mentalmente nosso modelo com alguns casos das nossas fontes. Vejamos novamente o exemplo da base para estudar processos-crime, que teria agora a seguinte configuração:

Modelologico.png


Temos o mesmo modelo anterior, mas agora mais detalhado e claro, apontando quais os relacionamentos estão previstos com o uso de setas.


Modelo físico

O modelo físico representa a base de dados já montada, com todas as tabelas, campos e relacionamentos e funcionando dentro de um disco rígido de computador, fisicamente. É a base pronta para usar, seguindo tudo o que foi planejado. Cada programa tem sua forma de criar modelos físicos e isso varia bastante. (Abaixo temos um vídeo mostrando como fazer isso)

Não há muito que dizer, em termos de informática. Mas há muito para ser dito no que toca à História. Parece-me importante, tendo pronto o nosso modelo físico, gastar mais algumas horas em planejamento. Importa tomar um conjunto de fontes para testar o modelo. Não é preciso ter muitas, eu diria que uma amostra de 1% dos casos, se forem milhares e longos, já ajuda. Se forem milhares e curtos, eu recomendaria testar com 3% dos casos. Se forem centenas e longos, recomendaria 5%, se forem curtos, 10%. Mas não tome esses valores como receitas de bolo. Esses testes devem ajudar você a deixar sua base de dados flexível na medida certa e não para criar confusão. Qual é a ideia? É de que, quando confrontamos nossa massa documental com a base criada, mesmo tendo pensando muito no assunto e conhecendo bem a documentação, esse “encontro” certamente vai apontar problemas e limites da nossa base. É certo que esses problemas podem surgir quando estamos no final do preenchimento. Esse é um problema crônico da pesquisa e do uso de bases de dados, segundo nos ensinou Adeline Daumard. Mas podemos evitar alguns incômodos, mais simples, antes de começar a preencher a base de modo sistemático. Feito esse teste, é recomendável descartar o que foi preenchido, salvo se nenhum erro foi detectado (o que seria muito estranho). A tarefa seguinte é criar um pequeno manual de preenchimento e um treinamento com os abastecedores, se forem muitos. Treinar as pessoas e só depois descobrir que a base precisará de mudanças seria uma grande perda de tempo e trabalho. Melhor fazer as coisas na ordem.



Referências



Citação deste verbete
Como citar: GIL, Tiago. "Modelos conceituais, lógicos e físicos". In: CLIOMATICA - Portal de História Digital e Pesquisa. Disponível em: http://lhs.unb.br/cliomatica/index.php/Modelos_conceituais,_l%C3%B3gicos_e_f%C3%ADsicos. Data de acesso: 16 de junho de 2024.






Informar erro nesta página