Mudanças entre as edições de "Para que serve um banco de dados? Um exemplo da Bahia no século XVI"

De Cliomatica - Digital History
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No entanto, como se dá a confecção de um Banco de Dados? Usarei o meu caso para exemplificar partindo desde a concepção, a criação/adaptação e por fim, os resultados. Vejamos a imagem que a seguir.  
 
No entanto, como se dá a confecção de um Banco de Dados? Usarei o meu caso para exemplificar partindo desde a concepção, a criação/adaptação e por fim, os resultados. Vejamos a imagem que a seguir.  
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Pergunto a você, leitor. O que você encontra nessa imagem? Provavelmente uma série de ponto marcados em determinadas áreas conectadas por diversas linhas. Mas, o que ela te diz? Sem uma contextualização prévia, dificilmente será entendido  o que o mapa da figura 2 quer nos mostrar, no entanto, você acreditaria que neste mapa estão reunidas informações de mais de 300 páginas de documento? É difícil acreditar né? Mas, novamente, o banco de dados é a resposta e a prova.  
 
Pergunto a você, leitor. O que você encontra nessa imagem? Provavelmente uma série de ponto marcados em determinadas áreas conectadas por diversas linhas. Mas, o que ela te diz? Sem uma contextualização prévia, dificilmente será entendido  o que o mapa da figura 2 quer nos mostrar, no entanto, você acreditaria que neste mapa estão reunidas informações de mais de 300 páginas de documento? É difícil acreditar né? Mas, novamente, o banco de dados é a resposta e a prova.  
  
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Edição das 18h12min de 27 de maio de 2020

Tempo estimado de leitura deste artigo 51 minutos - por Carlos Antonio Pereira de Carvalho


A pesquisa teve como objetivo analisar a mobilidade de escravizados na Bahia do século XVI, mais especificamente no Recôncavo baiano e no ano de 1592. A hipótese levantada para o estudo em questão era a possibilidade de escravizados terem "livre" – parcial ou total – mobilidade pelo território baiano, conquistada através da inserção destes em redes sociais que possibilitavam que a circulação espacial fosse feita com uma maior "liberdade". Notoriamente, essa hipótese não surgiu em vão. Em um estudo feito pela pesquisadora Dayane Silva constatou-se que havia uma circularidade de informações pelo Recôncavo Baiano onde os escravizados estariam inseridos por meio da confiança atribuída à informações que eram interpeladas por estes escravizados. Em outras palavras, a voz dos escravizados era tida como digna de confiança quando o assunto era o repasse de informações. O termo "circularidade de informações" remete justamente à presença de escravizados como denunciantes, interpeladores da denúncia ou confessantes nos testemunhos de confissão e denuncia, que tinham como objetivo, expor as heresias que ocorriam na Bahia da época ao Santo Ofício. Quanta informação, não? Apesar do resumo grosseiro, por ora, deixarei você leitor com essas informações. Elas serão essenciais para desmembrarmos a pesquisa e para estudarmos minuciosamente cada parte constituinte deste estudo a começar pela nossa fonte.

A fonte que utilizamos para fundamentar nossa pesquisa foi elaborada a partir da Visitação do Santo Ofício da Inquisição à cidade da Bahia (hoje conhecida como Salvador) no século XVI. Ocorreram duas visitações desta instituição à referida cidade, uma em 1590 e outra em 1620. O Objetivo dessas visitas era recolher testemunhos e confissões de atos que fossem considerados heréticos contra a moral cristã da época entre os ocupantes, autóctones e os trazidos forçosamente para àquele território. É notório que esse processo inquisitório era pertencente ao universo do europeu cristão, todavia, a especificidade da ideologia não impediu que seus julgamentos fossem também aplicados ao universo dos indígenas e negros escravizados, e até mesmo do europeu colonizador que – naquele momento – podia ser diferenciado pelos novos ares do território além-mar português.

Com o objetivo de recolher tais denúncias e confissões heréticas, o Santo Ofício da Inquisição produziu registros de informações para cada visita realizada. Cada volume desse contou com centenas de relatos de agentes que se dividiam entre confessores e delatores. Dito isto, se faz necessário expressar a configuração que estes documentos mantinham. A primeira vista, essas fontes foram separadas em dois grupos: confissões e denunciações. Essa remete ao relato do agente que tinha como objetivo confessar-se perante o Santo Ofício, e esta, por sua vez, tratava dos relatos dos agentes que queriam denunciar um terceiro ao Santo Ofício. Em regra, cada relato segue um padrão de escrita do documento. Em outras palavras, podemos dizer que há, majoritariamente, uma forma característica para essa fonte.

Geralmente, cada fonte inicia com um texto pré-determinado, indicando se o relato tratava-se de uma confissão ou de uma denúncia. No cabeçalho do texto, quando confissão, o texto inicia-se com "Confissão de fulano" e, quando denúncia, "Contra ciclano". Seguindo esta ideia, logo após a identificação do autor, eram registrados qualitativos que podiam ser extraídos dos agentes em questão e por fim a data do registro. Normalmente, esses qualitativos diziam à respeito da qualidade de cristão em que o agente se encaixava. A maior variação que se encontrou para a cidade da Bahia naquela época era a de cristão velho ou novo que, respectivamente, referia-se ao cristão praticante da fé de longa data e ao recém convertido. Para além do qualitativo, preocupava-se também com o registro do local de naturalidade do autor do testemunho, assim como seu local atual de moradia e outros dados, tais como, profissão, conhecimento sobre quem eram os pais do comunicante e também a sua situação matrimonial. Majoritariamente, pode-se contar com esses registros nos documentos pertencentes à Santa Inquisição. Há, entretanto, variações tanto na ordem como na presença de determinados dados, o que – para todos os efeitos – não implicou no comprometimento da análise feita, já que estávamos lidando com a serialidade de dados comuns.

Após o apontamento destes dados havia o testemunho dos agentes. Em que podia se tratar tanto de uma confissão própria que poderia envolver ou não outros agentes, assim como poderia se referir a uma denuncia que, neste caso, sempre envolviam um ou mais agentes além do próprio denunciante. Nessa parte, não há uma uniformização dos dados ou do testemunho. Notoriamente podemos compreender que estes não seguiam uma regra e sempre variavam em forma, texto e tamanho. Todavia, de acordo com a sua característica, sempre pode-se contar com o nome e o local de moradia dos agentes envolvidos.


Dito isto, chamo a atenção do leitor para a repetição de determinados dados. Como já dito, podemos sempre contar com o nome e local de moradia dos agentes. Tendo como fixas essas informações, o que poderíamos fazer com tantos dados para a nossa pesquisa em História? Aqui entra o primeiro passo para se olhar analiticamente para essas informações. A constituição de um Banco de dados. Mas, afinal, para que serve um Banco de Dados?

A apresentação da fonte para você leitor não foi em vão. Se faz extremamente necessário conhecer bem os dados que estão sendo trabalhados para que então você saiba o que pode ser feito com eles. No nosso caso, apresentei a vocês o porquê da nossa fonte. Sua forma, suas informações, de onde vem e por qual razão foi constituída. Ter isso em mente é essencial para a construção de um banco de Dados. Se tiverem lido com atenção, irão se atentar que fiz questão de insistir na percepção da repetição de determinadas informações do nosso documento, pois elas serão o nosso guia de construção do nosso Banco de Dados.

Mas, voltando para a pergunta, para que serve um Banco de Dados? Em História, o banco de dados é um importante amigo do pesquisador que visa entender um estudo em questão, seja para avaliar quantitativamente um determinado objeto ou mesmo qualitativamente. Não se exclui outras possibilidades mas, geralmente, o banco de dados em História se encaixa perfeitamente para o manejo de informações serializadas nas fontes, ou ainda de fontes seriais em sua origem. Em outras palavras podemos dizer que o Banco de dados serve para ajudar o pesquisador a organizar informações que podem atender a critérios tanto do pesquisador como os colocados pela fonte.

No entanto, como se dá a confecção de um Banco de Dados? Usarei o meu caso para exemplificar partindo desde a concepção, a criação/adaptação e por fim, os resultados. Vejamos a imagem que a seguir.

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Imagem do Banco de dados


Eu gostaria que o leitor se atentasse para os campos que constituem esse banco de dados. Neste caso específico, o Banco conta com diversos campos que podem ser preenchidos de acordo com a disponibilidade da informação. Para o nosso objetivo, há campos que são mais essenciais do que outros, entretanto, nada nos impede de criarmos outras categorias que possam vir a ser úteis para a pesquisa. Para a explicação do nosso trabalho, irei me ater apenas nestes que são essenciais, os quais são: Fonte; Campo do testemunho; Interrogado; Mencionados; Locais citados; Pessoa 1; Local 1; Pessoa 2; Local 2; Pessoa_assunto; Local 3 e Intensidade. Esses campos foram fundamentais pois “quebravam” as interações (fofocas) em unidades, o que deu flexibilidade para a análise. Com essa fragmentação, era possível obter todas as conversas referidas a alguém ou com quem teria conversado ou, em outra abordagem, todas as conversas de escravizados, de seguidores de algum grupo ou de moradores de um bairro em particular. Vamos agora explicar minuciosamente cada campo deste citado, começando pelos sete últimos, que serão a chave para a construção do nosso objeto. Pessoa 1: Este campo diz respeito ao nome da pessoa que está testemunhando. Tal informação está sempre disponível nos depoimentos, é possível inferir que há uma obrigatoriedade em denominar a pessoa interrogada.

Local 1: Este campo refere-se ao local de moradia da pessoa 1, ou seja, o interrogado. Esta também é outra regularidade encontrada nas fontes, a testemunha se apresentava e dizia de onde era natural e em que local residia. Nos documentos analisados nesta pesquisa sempre apareceu de alguma forma o local de moradia ou a naturalidade da pessoa interrogada. 

Pessoa 2: Já este campo refere-se à pessoa denunciada na fonte. Tal campo é específico para os documentos categorizados como "denunciações". Todas as fontes que se encaixam nessa categoria falam sobre a denúncia e a quem esta é dirigida. Geralmente o denunciado é assinalado no começo do documento, com um título de "contra fulano". Às vezes as denúncias não são feitas utilizando o nome da pessoa e sim por uma característica forte conhecida desta ou por uma alcunha. Outra utilização possível da Pessoa 2 é por meio de uma variação na intensidade. Quando trabalha-se com a intensidade 2, o campo deixa de ser sobre os dados da pessoa denunciada e torna-se os dados sobre a pessoa que passou as informações ao interrogado. Há diversos casos em que o interrogado denuncia uma pessoa por causa de conhecimentos obtidos por meio de uma conversa que teve com outro agente. Neste caso, o denunciante recebe uma informação indireta sobre um acontecimento, ou seja, aquela informação que está sendo repassada para o Santo Ofício veio de uma outra pessoa. Quando isso acontece, são catalogados os dados dessa segunda pessoa de forma que possamos saber por onde a informação está circulando. Local 2: Este campo é relativo ao local de moradia da pessoa 2, podendo ser do denunciado ou do interlocutor da denúncia. Na maioria dos casos esta informação está presente. Todavia, encontramos também documentos em que não foi possível localizar este dado. Pessoa_assunto: Este campo está diretamente ligado à Pessoa 2 e relaciona-se à pessoa que é denunciada no documento. Este campo só aparece quando há uma terceira pessoa envolvida na denúncia, desta forma a Pessoa assunto é obrigatoriamente o ser humano que está sendo denunciado.

Local 3: Este campo faz referência ao local de moradia da pessoa-assunto, ou seja, do agente denunciado que é tema de conversa entre o interrogado e outra. Quando (em meses): Esta informação se refere ao tempo em que o fato ocorreu. Geralmente este dado não vem de maneira uniforme e é quase sempre impreciso. Todavia, tentamos estabelecer uma mensuração que possa representar o dado obtido. Escolhemos representá-la em meses devido à facilidade em quantificar os dados diversos. Intensidade: O campo intensidade foi criado para aferir os níveis das informações faladas pelos depoentes. Estes níveis de informações estão separados em: Informação direta (Intensidade 1); informação indireta ou de segunda mão (Intensidade 2) e de "fama pública" (Intensidade 3) – tal definição é originária da própria documentação. As informações diretas consistem em informações de experiências do próprio interrogado. Estas informações indicam que o testemunhante viu ou participou do acontecimento que está denunciando. Não necessariamente participando como atuante da heresia relatada aos inquisidores, mas como alguém que viu o fato ocorrer. Seria este uma testemunha ocular.

Já a informação indireta ou de segunda mão consiste em informações que são repassadas por outro agente. Neste caso, o interrogado está denunciando algo sobre uma pessoa que ouviu da boca de terceiros. Nesse caso, a segunda pessoa quase sempre é especificada e citada na fonte.

A informação representada por fama pública consiste em um conhecimento que teoricamente é compartilhado por todos sobre um relato. Este é um evento de conhecimento público daquela sociedade segundo os depoentes, ou seja, todos detém informações do fato citado na denúncia. Normalmente este evento vem sempre com a expressão é do conhecimento de todos ou ouvir dizer em fama pública.

Como explicitado, cada conceito deste presente no banco de dados refere-se a um campo de preenchimento que recolherá informações específicas do documento trabalhado. Ou seja, cada campo deste contém uma categoria de informações que será preenchida de acordo com os conceitos que criamos para esse preenchimento. Pessoa 1 dirá a respeito do nome da pessoa que está testemunhando o caso; Pessoa 2 tratará a respeito da pessoa que está sendo denunciada ou fora mencionada no testemunho e assim por diante. Dita essas informações, o nosso banco de dados já está pronto para colher informações de nosso interesse na fonte utilizada. Se o leitor se atentou, através destas poucas categorias de informações criadas, já podemos obter uma série de dados “automaticamente” do documento. Desta forma é possível organizar a fonte da maneira com a qual queremos utilizá-la. Ou seja, toda a informação dispersa - que poderia demandar um trabalho bem maior para compreender - agora está organizada em uma forma que consigo manejar da maneira que irá melhor me servir. Consigo isolar ou juntar dados de acordo com a minha necessidade de uma forma muito mais eficaz. Se pararmos para refletir sobre, o banco de dados nada mais é que um sistema. Ou seja, um conjunto de elementos interligados organizadamente, de modo que é possível compreender cada parte deste em um conjunto ou isoladamente. Neste sentido, o Banco de dados nos dá suporte para organizarmos a nossa fonte e manejarmos ela a favor do pesquisador.

Todavia, qual é a vantagem de trabalhar com um banco de dados? Para além destas das quais já mencionei, se o leitor considerar que a pesquisa em história geralmente trabalha com documentos que contém uma significativa quantidade de informações, o banco de dado se mostra bastante vantajoso. No nosso caso, trabalhamos com um documento que contém mais de 300 páginas de informações. Como analisar e estudar essa grande quantidade de informações? O Banco de dados é sua resposta. Espero ter me feito claro até aqui pois partiremos agora para o estudo dos dados já compreendidos. Não basta somente obter os dados, precisamos dar sentido a eles, correto? E aqui está mais uma utilidade do nosso sistema de organização (banco de dados) para a concretização do nosso trabalho. Novamente irei usar o meu exemplo para demonstrar o que pode ser feito com os dados que extraímos. Vamos lá!

Pergunto a você, leitor. O que você encontra nessa imagem? Provavelmente uma série de ponto marcados em determinadas áreas conectadas por diversas linhas. Mas, o que ela te diz? Sem uma contextualização prévia, dificilmente será entendido o que o mapa da figura 2 quer nos mostrar, no entanto, você acreditaria que neste mapa estão reunidas informações de mais de 300 páginas de documento? É difícil acreditar né? Mas, novamente, o banco de dados é a resposta e a prova.

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Apesar de parecer um simples mapa, neste estão contidas informações antes serializadas e organizadas através de um banco de dados. Lembram da explicação dada anteriormente e das vantagens de se usar um sistema de organização? Pois é, aqui estão elas! O que este mapa nos mostra, a grosso modo, são agentes históricos de determinada localidade do Recôncavo Baiano, interligados entre si através de relatos testemunhados ao santo Ofício. Ou seja, determinada pessoa que reside em Jaguaripe, sabe que outra determinada pessoa (seja essa informação obtida de forma ocular, indireta ou do conhecimento de todos) residente em Cidade (Salvador) cometeu ou viu alguém cometer atos heréticos que iam contra a moral cristã daquela Bahia do século XVI e o denunciou ou mencionou na mesa da Inquisição do Santo Ofício. Nos mostram também a profunda ligação entre cidades como Jaguaripe, Matoim e Salvador. Há ainda uma série de outras visualizações para este mapa, entretanto, gostaria de frisar a partir deste a importância do uso de um banco de dados. Vejamos como se transformou um banco de dados em um mapa!

Tratando ainda da funcionalidade de um banco de dados, gostaria de levantar aspectos que não são tão evidentes à primeira vista de quem pensa em trabalhar com esse sistema. Apesar de possuir uma função base de organização, um banco de dado serve como matéria prima para diversos outros manejos que se queira aplicar a sua pesquisa. Como relatei acima, a elaboração de mapas pode ser uma delas. E para fazer isso, foi necessário estabelecer o banco de dados como uma base de exportação de dados, atribuindo-o assim, uma função a mais além da mera organização. Com isso, eu consigo dá diversas formas –sejam elas mapas, gráficos, cálculos – a dados serializados. No nosso caso, foram utilizados dois softwares: Quantum GIS - QGIS e Filemaker. Este último é o software responsável pela a confecção do banco de dados. A partir dele, foi possível moldar todo o banco de dados, do início ao fim, criando campos de acordo com o nosso interesse. Este é o programa que está representado pela figura 1 deste texto. Se perceberem, o software lhe permite dar toda a vida ao sistema, manejando da maneira desejada. Entretanto, este não é o único software possível. Não é preciso muito para criar um banco de dados, e este pode ser desenvolvido em diversas maneiras e por diversos programas (como o Excel, por exemplo), desde que se consiga criar um sistema onde seja possível conhecer suas partes uniformemente.

O banco de dados possui uma função óbvia de guardar dados. Com isto, gera-se um volume de informações que varia de acordo com o sentido que foi dado a este. Essa informação gerada e guardada geralmente pode ser exportada para um uso exterior e, para o nosso caso, foi exatamente isso que foi feito como auxílio do primeiro software citado, o Quantum GIS.

O QGIS é um software que permite a produção, vetorização, entre outras funções de manejo de mapas. A partir deste pode-se criar visualizações de acordo com o interesse de quem o utiliza. No nosso caso, exportamos todo o dados apreendido no Filemaker com o nosso banco de dados e transformamos estas informações em mapas, através do Quantum GIS.

Para que fique mais claro esse caminho, peço ao leitor que volte a parte que trata das partes do nosso banco de dados. Vocês lembram que categorizei e indiquei quais eram os campos existentes e que informações eles extraíam da nossa fonte? Se bem me recordo temos a Pessoa e o Local 1; a Pessoa e o Local 2; a Pessoa assunto e o Local 3; Quando; e a Intensidade que varia entre direta, indireta e de informação pública, correto? Pois então, a partir dessas categorias criadas, conseguimos extrair de cada relato três possíveis nomes; três possíveis localidades e três possíveis maneiras pelas quais aqueles relatos aconteceram. Sendo assim, me foi gerado 9 variantes que me permitiram cruzar informações entre elas. Ou seja, com a organização destes dados, conseguimos saber o nome de um denunciante ou confessante, saber os locais onde estes residiam, quem estas pessoas denunciaram ou mencionaram na sua denúncia e de que forma ficaram sabendo das informações as quais estavam relatando. Para que fique mais claro, vejamos o exemplo que se seguirá. Nele está a íntegra de um relato cru, tal como vemos antes de organizarmos a informação de acordo com o nosso interesse. Peço ao leitor que repare os destaques que farei ao documento para que fique o mais inteligível possível. Os destaques seguirão da seguinte maneira: Amarelo corresponde a Pessoa e o Local 1; Vermelho a Pessoa e o Local 2; e Azul a intensidade (não darei atenção nem ao campo “quando”, pois não tem necessidade para o exemplo e nem o campo “pessoa assunto”, pois também não é o caso)


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Trouxe a vocês um caso bastante conhecido e discutido pela historiografia pertinente ao tema. Fernão Cabral fora um conhecido senhor de Engenho do Recôncavo Baiano, que permitia cultos considerado pagãos na sua fazenda em Jaguaripe. Este é apenas um relato, mas são diversas as denúncias cometidas contra Fernão. Entretanto, quero chamar a atenção do leitor para as informações destacadas. Percebe-se que, a partir do banco de dados, conseguimos apreender nomes e locais de moradia destes? E mesmo a forma como se conheceu o fato denunciado? Neste exemplo, a própria denunciante testemunhou com os próprios olhos. No entanto, estas informações em destaque me permitiram enxergar pessoas, lugares e conexão e me permitiram construir o mapa da figura 2 já aqui demonstrado a você leitor. Veja a importância de um banco de Dados! Neste caso, me foi permitido ligar Jaguaripe à cidade através de um testemunho. Vejamos


imagem com caso unico


E foi desta forma que estes mapas foram construídos. Esta pode ser uma possível utilização de um banco de dados, leitor. Transformar simples relatos em simples mapas, mas complexos em suas informações! Com a serialização e sistematização das fontes, foi possível compreender diversas informações que ou não poderiam ser captadas ou levariam um certo tempo até serem apreendidas. A título de exemplo, a partir dessa metodologia, podemos separar da onde sai a maior quantidade de relatos de cristão velhos em cada cidade e, assim, elencar qual a localidade que mais possui relação entre cristão velhos. Vejamos


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Ou mesmo a maior incidência daqueles naturais de Lisboa e a as cidades com as quais estes mais se relacionam.


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Portanto, o que gostaria de deixar claro ao leitor é como um banco de dados pode ser útil a sua pesquisa. Não somente na hora de organizar as informações para você, pesquisador. Mas também na facilidade em transformá-las em uma nova visualização. Da possibilidade de se obter outras análises a partir de uma simples organização de dados. Ou ainda da forma como podemos tratar uma fonte. Ou mesmo, de uma forma como pode ser feita a pesquisa em História.


Referências



Citação deste verbete
Como citar: CARVALHO, Carlos Antonio Pereira de. "Para que serve um banco de dados? Um exemplo da Bahia no século XVI". In: CLIOMATICA - Portal de História Digital e Pesquisa. Disponível em: http://lhs.unb.br/cliomatica/index.php/Para_que_serve_um_banco_de_dados%3F_Um_exemplo_da_Bahia_no_s%C3%A9culo_XVI. Data de acesso: 3 de julho de 2024.






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