Ações

(depoimento em 1787 - Manuel José Diógenes de Morais)

De Atlas Digital da América Lusa

Edição feita às 11h17min de 14 de janeiro de 2013 por Tiagogil (disc | contribs)

(dif) ← Versão anterior | ver versão atual (dif) | Versão posterior → (dif)

(depoimento em 1787 - Manuel José Diógenes de Morais)

Geometria

Manuel José Diógenes de Morais, alferes do Batalhão de Infantaria e Artilharia deste continente, informa o seguinte.

Que sabe que fora confiscada uma canoa a José Rodrigues mercador no norte deste Rio Grande, que navegava para a Lagoa de Mirim com contrabando, mas que não lhe consta que o coronel Rafael Pinto Bandeira [p. 333v] a fizesse navegar por sua conta depois de confiscada e que só ouvira dizer que o Brigadeiro Governador deste continente dera a dita canoa ao alferes de Dragões José Antunes da Porciúncula, e que este oficial a vendera ao mesmo José Rodrigues a quem tinha sido confiscada. Que sabe pelo ver que o dito coronel fizera construir uma barca de coberta de fronte da sua própria casa, mas que não sabe se para a dita construção se servira de madeiras, pregos ou outros gêneros da Real Fazenda, nem se o mesmo coronel fez navegar a dita barca ao fim de conduzir couros da campanha; sabe sim que o dito coronel depois de possuir a barca por algum tempo, a vendera a José Vieira da Cunha e que fora voz constante ter sido pelo preço de quarenta doblas, mas que ignora se entre o vendedor e comprador houveram alguns ajustes particulares, nem se o dito coronel dera ordens às guardas a respeito daquela depois de a ter vendido. Que sabe que o dito coronel vendera uma canoa a um espanhol chamado Pepe, mas que ignora por que preço, nem se houveram alguns outros ajustes particulares entre o vendedor e comprador. Que sabe ter casado o alferes de auxiliares fulano Nicola com uma índia, a qual era voz constante ser filha do coronel Bandeira, mas ignora que dote este lhe deu. Que sabe que estando o alfaiate José Antonio à sua porta em uma noite, lhe deram uma cutilada, e que passados alguns tempos falecera, mas que não sabe com certeza se o falecimento foi por efeito da cutilada que recebeu ou se por outra alguma moléstia, que também sabe fora achada a bainha [p. 334] da espada do agressor no lugar em que foi feito o ferimento, mas que ignora quem foi o delinqüente, nem sabe de mais circunstancias algumas a este respeito. Que sabe que o soldado da cavalaria chamado vulgarmente o Cadete dera uma facada no soldado da mesma cavalaria chamado Raimundo de tal, estando ambos destacados na guarda do Beca, e que ouvira dizer que o agressor tinha desertado e nada mais sabe a este respeito. Que sabe que o furriel de cavalaria João José de Souza dera umas cutiladas em um soldado do mesmo corpo, de cujas feridas falecera no Hospital cujo ferimento fora feito de noite em uma das ruas desta vila do Rio Grande, por desordens que tiveram por causa de uma índia, e que o agressor se ocultara imediatamente, mas que ignora se o coronel Bandeira cooperou para a fuga do agressor, e só sabe ser voz pública que o dito delinqüente esta residindo na freguesia de Santo Antonio da Serra. Que sabe ter matado o Sargento da Cavalaria Joaquim Rodrigues a sua mulher e ao cabo de esquadra do mesmo corpo José Moreira, e que fora voz constante que achando-se em casa do coronel Bandeira na mesma noite em que foram feitos estes assassinos, o capitão Alexandre Eloy Portela, e o Doutor Saldanha, entrara na mesma casa o dito sargento assassino e dizendo ao coronel que tinha de lhe dar uma notícia, se encaminhara este com o Sargento para um quarto imediato, e pelos ditos capitão Portela e Doutor Saldanha foi ouvido comunicar o Sargento ao Coronel o que tinha acabado de executar [p.334v] e que também sabe por ter sido voz constante que montando o sobredito sargento em uma besta que estava no pátio da casa do Coronel, se ausentara mas que ignora se a besta lhe fora dada por ordem do Coronel, ou fornecida por algum dos seus criados. Que ouvira dizer a diversas pessoas da plebe desta vila que um José Bernardes havia comprado certa quantidade de bestas ao dito Coronel Bandeira, as quais lhes foram confiscadas nas vizinhanças de Porto Alegre, por serem de Espanha. Que sabe que o dito Coronel possui várias estâncias neste continente, nas quais é voz constante ter um grande número de animais, tanto vacum como cavalar, mas que ignora se são vindas da campanha ou se são crias das mesmas suas Estâncias. E de tudo mais pelo que foi perguntado por mim Coronel Comandante do Continente, disse nada sabia e para constar assinou nesta Vila de São Pedro do Rio Grande aos cinco de outubro de mil setecentos e oitenta e sete. Joaquim José Ribeiro da Costa Manuel José Diógenes de Morais


Ficha técnica da Fonte
Autor: diversos
Data: 1787.
Referência: Códice 104. Volume 09. Secretaria do Estado do Brasil.
Acervo: Arquivo Nacional.
Transcrição: Tiago Luís Gil.
link principal no BiblioAtlas: Devassa_de_1787