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Logo naquela semana se aviou o ouvidor-geral para por mar ir à [[baía da Traição]] dar nas naus francesas, que lá estavam, e para isto tinha mandado vir caravelões com que de noite, a remos, os determinava saltear, por já irem faltando as munições para naus grandes irem de [[Pernambuco]] à [[Paraíba]]; porém sendo certificado que os franceses, por lhe haverem queimado a carga de pau-brasil, haviam já ido com as naus vazias, despediu a gente toda, ficando ele somente com os seus oficiais, e Pedro de Albuquerque, e Francisco Pereira, que ainda estava mal das feridas, e no fim do mês de janeiro de mil quinhentos e oitenta e sete se foi ao rio Tibiri, duas léguas acima da cidade, ao longo da várzea da [[Paraíba]], fazer um forte para o engenho de açúcar de el-rei, que já estava começado, e para defender a aldeia do Assento de Pássaro, e mais fronteiras, com o que se segurava tudo, e se povoaria a várzea, e assim o ordenou, e fez muito em breve de cem palmos de vão, de muito grossas vigas muito juntas, e forradas de entulho de cinco palmos de largo, e de altura de nove, donde podia pelejar a gente amparada com o muro de fora, que era mais de vinte e dois em alto, de taipa dobrada de mão muito forte, e do alto vinha o teto cobrindo o andaime, e casas que se fizeram a roda para agasalho da gente, com duas grandes guaritas em revés sobradadas, e uma torre no meio com grandes portas para o rio Tibiri. | Logo naquela semana se aviou o ouvidor-geral para por mar ir à [[baía da Traição]] dar nas naus francesas, que lá estavam, e para isto tinha mandado vir caravelões com que de noite, a remos, os determinava saltear, por já irem faltando as munições para naus grandes irem de [[Pernambuco]] à [[Paraíba]]; porém sendo certificado que os franceses, por lhe haverem queimado a carga de pau-brasil, haviam já ido com as naus vazias, despediu a gente toda, ficando ele somente com os seus oficiais, e Pedro de Albuquerque, e Francisco Pereira, que ainda estava mal das feridas, e no fim do mês de janeiro de mil quinhentos e oitenta e sete se foi ao rio Tibiri, duas léguas acima da cidade, ao longo da várzea da [[Paraíba]], fazer um forte para o engenho de açúcar de el-rei, que já estava começado, e para defender a aldeia do Assento de Pássaro, e mais fronteiras, com o que se segurava tudo, e se povoaria a várzea, e assim o ordenou, e fez muito em breve de cem palmos de vão, de muito grossas vigas muito juntas, e forradas de entulho de cinco palmos de largo, e de altura de nove, donde podia pelejar a gente amparada com o muro de fora, que era mais de vinte e dois em alto, de taipa dobrada de mão muito forte, e do alto vinha o teto cobrindo o andaime, e casas que se fizeram a roda para agasalho da gente, com duas grandes guaritas em revés sobradadas, e uma torre no meio com grandes portas para o rio Tibiri. | ||
Feito este forte, que por o haver começado dia de S. Sebastião o chamou do seu nome, e assentada nele a artilharia, abertos os caminhos, e tudo acabado, como se houvera de viver ali toda a sua vida, ou o fizera para si, e seus filhos, se partiu na segunda semana do mês de fevereiro para [[Pernambuco]], já achacado de algumas febres, que com seu fervor, e incansável espírito havia passado em pé, e chegando à casa se não levantou mais de uma cama os três meses seguintes, e não foi muito com tantas calmas, chuvas, guerras, e trabalhos como havia padecido. | Feito este forte, que por o haver começado dia de S. Sebastião o chamou do seu nome, e assentada nele a artilharia, abertos os caminhos, e tudo acabado, como se houvera de viver ali toda a sua vida, ou o fizera para si, e seus filhos, se partiu na segunda semana do mês de fevereiro para [[Pernambuco]], já achacado de algumas febres, que com seu fervor, e incansável espírito havia passado em pé, e chegando à casa se não levantou mais de uma cama os três meses seguintes, e não foi muito com tantas calmas, chuvas, guerras, e trabalhos como havia padecido. | ||
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Logo naquela semana se aviou o ouvidor-geral para por mar ir à baía da Traição dar nas naus francesas, que lá estavam, e para isto tinha mandado vir caravelões com que de noite, a remos, os determinava saltear, por já irem faltando as munições para naus grandes irem de Pernambuco à Paraíba; porém sendo certificado que os franceses, por lhe haverem queimado a carga de pau-brasil, haviam já ido com as naus vazias, despediu a gente toda, ficando ele somente com os seus oficiais, e Pedro de Albuquerque, e Francisco Pereira, que ainda estava mal das feridas, e no fim do mês de janeiro de mil quinhentos e oitenta e sete se foi ao rio Tibiri, duas léguas acima da cidade, ao longo da várzea da Paraíba, fazer um forte para o engenho de açúcar de el-rei, que já estava começado, e para defender a aldeia do Assento de Pássaro, e mais fronteiras, com o que se segurava tudo, e se povoaria a várzea, e assim o ordenou, e fez muito em breve de cem palmos de vão, de muito grossas vigas muito juntas, e forradas de entulho de cinco palmos de largo, e de altura de nove, donde podia pelejar a gente amparada com o muro de fora, que era mais de vinte e dois em alto, de taipa dobrada de mão muito forte, e do alto vinha o teto cobrindo o andaime, e casas que se fizeram a roda para agasalho da gente, com duas grandes guaritas em revés sobradadas, e uma torre no meio com grandes portas para o rio Tibiri. Feito este forte, que por o haver começado dia de S. Sebastião o chamou do seu nome, e assentada nele a artilharia, abertos os caminhos, e tudo acabado, como se houvera de viver ali toda a sua vida, ou o fizera para si, e seus filhos, se partiu na segunda semana do mês de fevereiro para Pernambuco, já achacado de algumas febres, que com seu fervor, e incansável espírito havia passado em pé, e chegando à casa se não levantou mais de uma cama os três meses seguintes, e não foi muito com tantas calmas, chuvas, guerras, e trabalhos como havia padecido.
Ficha técnica da Fonte | |
Autor: Frei Vicente do Salvador | |
Data: 1627. | |
Referência: . | |
Acervo: . | |
Transcrição: . | |
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