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(depoimento em 1787 - José Antunes da Porciúncula)

De Atlas Digital da América Lusa

(depoimento em 1787 - José Antunes da Porciúncula)

Geometria

José Antunes da Porciuncula Alferes do Regimento de Dragões deste continente do Rio Grande, informa o seguinte.

Que sabe ter mandado construir o coronel Rafael Pinto Bandeira defronte da sua casa uma barca ou canoa grande de coberta, mas que não sabe se para a dita construção se serviu de madeiras, pregos ou outros gêneros da Real Fazenda; e que depois de a possuir por algum tempo a vendera a José Vieira da Cunha, mas que não sabe porque preço, e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe que por ordem do dito coronel fora o Alferes João Coutinho de Amorim a casa de José Vieira da Cunha, e que ouvira dizer, se lhe confiscara certa porção de couros, o que só lhe consta pela voz pública. Que sabe que o dito coronel possuía mais duas canoas e em uma delas chamada o escaler andava de patrão Francisco Lopes, e que nela fazia sempre os seus embarques quando ia a Sua Estância do Piratini, [p. 332] ou outras diligências. Que sabe que o Espanhol Pepe tinha uma canoa na qual transportava os contrabandos, mas não sabe quem vendeu a dita canoa àquele espanhol. Que sabe que o capitão Bernardo José Pereira trouxera de Porto Alegre uma chalupa a qual conservou neste rio por algum tempo, mas que não sabe em que era empregada a dita chalupa, nem tampouco se o coronel era interessado na mesma chalupa. Que sabe que indo o dito coronel ao forte do arroio avistara o paisano João Leite o qual era conhecido por contrabandista o que sabe por ter ouvido dizer mas que não se lembra se o dito Leite estivera preso nesta vila, e que nada mais sabe a este respeito. Que sabe ser casado o alferes auxiliares Antonio José Rodrigues Nicola com uma índia, que é voz constante ser filha do dito coronel, mas que não sabe se o mesmo coronel dera algumas reses de dote. Que sabe ter desertado o soldado de cavalaria Francisco Pinto, mas que não lhe consta que depois da deserção viesse assistir em casa do dito coronel, e só sim sabe pelo ver que o dito desertor viera em uma ocasião a esta vila trazendo cartas do comandante de uma partida espanhola que ignora para quem vinham dirigidas e que depois se retirara publicamente o dito desertor para o campo espanhol indo em companhia do dito coronel Bandeira até a sua Estância do Pavão, de onde o sobredito desertor continuou só a sua marcha para o campo espanhol. Que sabe que estando o alfaiate José Antonio a sua porta em uma noite lhe deram uma cutilada [p. 332v] e que fora voz constante ter sido o agressor o soldado da cavalaria Alexandre José da Guerra o qual por ordem do dito coronel estivera preso, e que passado algum tempo fora solto mas que ignora o motivo da dita soltura, nem sabe cousa algumas mais a este respeito. Que sabe que um soldado da cavalaria chamado vulgarmente o cadete dera uma facada e outro soldado do mesmo corpo chamado Raimundo estando ambos destacados no Passo do Beca; que o ferido viera para o Hospital desta vila, aonde depois de estar muito tempo tivera baixa por ficar incapaz de continuar o Real Serviço, retirando-se para a casa de sua mãe e que o agressor passado algum tempo viera para esta vila e continuou a servir na mesma praça de soldado que tinha. Que sabe que o furriel da cavalaria João José de Souza, dera umas cutiladas de noite em um soldado do mesmo corpo, em uma das ruas desta vila, de cujas feridas falecera o soldado no hospital e que o assassino se ocultara e sabe que vive no distrito de Santo Antonio da Serra, ou nas suas vizinhanças, mas que não sabe se o dito coronel o fizera esconder nem se lhe dera auxilio para a retirada. Que estando destacada em Taim, tivera noticia que o Sargento da Cavalaria Joaquim Rodrigues havia matado a sua mulher e ao cabo-de-esquadra do mesmo corpo José Moreira, e que por se achar naquele destacamento tão distante desta vila, não sabe das mais circunstancia que houveram neste caso. Que sabe que por ordem do Brigadeiro governador deste continente ou do dito coronel foram retirados os negociantes do povo novo para esta vila do Rio Grande mas que não sabe o motivo e que também não sabe [p. 333] se o dito coronel tinha loja de fazenda na sua estância. Que sabe que o dito coronel vendera a um tropeiro cujo nome não se lembra certa porção de mulas da sua estância de Gravataí, mas que não sabe se eram crioulas de Espanha ou crias da sua estância, nem sabe se foram confiscadas pela fazenda Real as ditas mulas ao tropeiro. Que sabe que o dito coronel possui várias estâncias neste continente nas quais tem grandes quantidades de animais tanto vacum como cavalar, mas que não sabe se nas ditas Estâncias tem animais de fora. E de tudo mais que foi perguntado por mim coronel comandantes do continente, disse nada sabia, e para constar assinou nesta vila de São Pedro do Rio Grande aos três de outubro de mil setecentos e oitenta e sete.

Joaquim José Ribeiro da Costa José Antunes da Porciúncula


Ficha técnica da Fonte
Autor: diversos
Data: 1787.
Referência: Códice 104. Volume 09. Secretaria do Estado do Brasil.
Acervo: Arquivo Nacional.
Transcrição: Tiago Luís Gil.
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