Ações

Capitulo VI - Do modo com que se deve dar principio a carta Geográfica de uma Província, ou Bispado

De Atlas Digital da América Lusa

Capitulo VI - Do modo com que se deve dar principio a carta Geográfica de uma Província, ou Bispado

Geometria

Do modo com que se deve dar principio a carta Geográfica de uma Província, ou Bispado.

Querendo-se dar principio a Carta Geográfica de uma Província por exemplo, ou de um Bispado, depois de determinado o petipé, ou ponto, em que há de ser feita; deve o Engenheiro fazer-se pratico de todo o terreno, que compreende, para ter presente a ideia dos montes, vales, rios, ribeiras, matos, e terra plana; e quando para isso não tenha feito antecedentemente algumas jornadas, sempre será útil que quando for pelo País fazendo a Carta, visite primeiro uma boa porção de terreno, observe os lugares mais conveniente. [104] ... para fazer as suas estações; porque muitas vezes sucede tomar de longe um ponto, como uma Torre, um Campanário, ou a ponta de um rochedo, e depois indo lá não poder subir, ou subindo, não poder acomodar o instrumento perpendicular sobre o ponto tomado; ou sendo torre, e podendo subir a ela, não se acomodarem as janelas, ou as ameias de modo, que se possam tomar os pontos necessário: mas havendo visitado primeiro os sítios, e deixado neles bandeirolas, se livra de todos estes inconvenientes.

É indiferente o começar a Carta de qualquer país pela parte que quiserem, não importando que seja mais depressa uma, que outra, com condição que se possa estabelecer a primeira base livre, e desembaraçada [105] ... de sorte, que se possa medir com toda a exatidão, e que seja quanto possa ser comprida: mas como é dificultoso achar um terreno tão plano, que não tenha suas desigualdades de altos, e baixos, o engenheiro o mandara medir anivelado[SIC] por meio de um livel[SIC][nível], e uma régua dobradiça de duas braças, de que falamos no Capitulo primeiro.

Os liveis[SIC][níveis?] fechados com um vidro por diante, são os melhores para a campanha; porque não sendo fechados, os ventos não deixam repousar o perpendiculo[SIC]: também podem servir os liveis[SIC][níveis?] de água em um cilindro comprido de vidro, ainda que para jornadas são pouco seguro.

Deve-se por em grande cuidado em que os [?] meçam justo, sem se desviar ao alinhamento da distancia, [106] ... , que medem; para o que se devem guiar pelos meios piques, ou bandeirolas, que se vão pondo no alinhamento por diante dos medidores, dos quais um deles deve ir contando em voz alta, para que não haja equivocação, e determinada assim a base, se farão dos seus extremos as duas primeiras estações com o Círculo dimensório, ou com a Prancheta, do modo que fica dito nos Capitulos, em que explicamos o uso destes instrumentos.

Se a Província, de que se quer tirar a Carta Geográfica, tem (como é ordinário) cordilheiras de serra, que a atravessam, fica mais fácil continuar a Carta pelos visos das serras, tomando todos os seus lugares, que ficam agora vertentes para uma, e outra parte; e assim se notam bem as ribeiras , que tem principio [107] ... nas ditas serras, as quais depois de tomados os pontos principais se vão seguindo co a Bussola até o rio maior, em que se metem; e pelos altos se descobre melhor a forma dos terrenos : mas isto é, quando as serras tem muito comprimento, e pouca largura e que uns montes, ou seus visos se não encobrem com outros; por que tendo as serras grandes extensão em largura, se devem tomar vários pontos a roda para determinar a Carta âmbito, e depois se configuram os montes dentro dele: se por entre as serras a alguns lugares, lagos, ou outra qualquer coisa digna de notar, se tomarão as suas posições como as mais.

É necessário advertir que, ainda que desses altos se descubram lugares muito distante, como sucede [108] ... descobrirem-se de muitas léguas, nem por isso se hão de tomar as suas posições, mas só se tomarão as daqueles lugares, a que se há de passar para os cruzar com os primeiros já tomados, e assim deve ir continuando a sua Carta, não tomando por base senão lado sabido por medida, ou achado pelo petipé.

Para o Engenheiro saber se vai justo com as distancias do terreno, é necessário que de tempos a tempos mande medir um lado achado pelo petipé em virtude dos ângulos de posição do instrumento, aquele que for mais fácil de medir aquele dia; e achando-o justo, o tomara por base para continuar; porém se for maior, ou menor sem grande [?] , o emendara no papel, e assim emendado o tomara por nova [?] mas se for [109] ... grande o excesso, ou o defeito, tornara atrás a retificar as operações daquele dia.

Não se deve tomar ponto algum, ou lugar por estimação, ainda que haja estimação, ainda que haja finais que lhe correspondam, como por exemplo o fumo das chaminés; porque semelhantes finais são falíveis, e ficarão as posições erradas, e qualquer erro em uma posição, continuando para diante, cada vez é maior, e assim os lugares, que se tomarem, hão de ser vistos distintamente.

Se continuando uma Carta, se acha perto de uma grande cidade, ou monte dilatado, ou matos, e avoredos, não se devem tomar posições ditos lugares, ainda que se vejam neles finais certos, como torres, campanários, pontas de rochedo, ou árvore grande, e sinalada; por não é fácil depois


[110] ... ir a esses pontos, e enfiar deles os que já ficam tomados.

O que se deve fazer, é tomar vários pontos a roda da tal Cidade, ou mato, e dentro destes pontos ficará incluído o terreno, que ocupa a tal Cidade, monte, ou mato; e depois, se é necessário, se acomoda dentro do espaço a planta da Cidade, ou um ponto no meio do espaço notará a sua posição.

As operações, que se vão fazendo, se devem ir todos os dias transferindo ao papel, ou primeiro borrador da carta; porque em quanto esta fresca a ideia daquele sitio, tudo o que lhe pertence se nota melhor, e se adverte se a alguma coisa que deixasse de se notar; como também se houve alguma equivocação ao contar o numero de graus, quando as operações se [111] ... fazem com o Círculo dimensório, ou com a Bussola: porque logo se conhece, e se emenda, o que não é tão fácil, se as operações se transferem longe do sitio, em que foram feitas, e que seja necessário tornar lá pra se certificar.

Quando se faz a Carta particular de uma província, o Bispado, para que seja exata, é necessário por grande cuidado em notar justos os seus confins, e limites, por onde parte com as outras, províncias, ou bispados; para o que , depois de tomados os pontos principais dos confins dos Bispados, e os lugares confinantes dos outros Bispados, com quem partem, a linha da divisão entre um, e outro Bispado se poderá ir seguindo com a Bussola do modo, que dissemos se havia de seguir o curso de um rio. [112] Os Engenheiros encarregados das Cartas dos Bispados, e Prelazias destes reinos é necessário que tenham este cuidado, para que as Cartas Geográficas fiquem feitas de sorte, que ajustem umas com outras pelos seus confins, ou limites, e que de todos resulte a Carta geral do reino; o que não poderá ser sem um grande cuidado, e exacção[SIC][exatidão?].

Se os Engenheiros, que fizerem a Carta de um bispado, avisarem, e concordarem com os que fazem a Carta do outro bispado confiante, poderão ajustar entre si o tempo, em que juntos façam os confins pelas mesmas operações. Mas quando isto não possa ser, nem por isso deixarão de ficar ajustados os ditos confins, obrando uns, e outros pelo mesmo método, e debaixo de um mesmo ponto, ou petipé. [113] Quando os Engenheiros forem fazendo pelo país uma Carta Geográfica, será bom que a vão logo orientando, e notando se há alguns lugares, que fiquem justamente uns a respeito de outros. Norte, Sul, Leste, Oeste, etc., muitos se servem da Bussola, como já fica dito, mas a Carta não fica assim orientada com exatidão; porque as agulhas das Bussolas tem todas variação, e umas mais que outras, e ainda a mesma agulha vária mais, e menos em diferentes territórios; e para se poder notar na Carta o verdadeiro Norte, e Sul dela, se seguirá a prática do Problema seguinte.

[114]



Página Anterior Índice Página Seguinte


Ficha técnica da Fonte
Autor: Manuel de Azevedo Fortes
Data: 1722.
Referência: ..
Acervo: Biblioteca Nacional de Portugal.
Transcrição: Carlos Antonio Pereira de Carvalho.
link principal no BiblioAtlas: Tratado do modo o mais facil, e o mais exacto de fazer as cartas geograficas